Poucas centenas de votos bastariam para que o Parlamento tivesse sido diferente nesta legislatura.
Poucas centenas de votos bastariam para que o Parlamento tivesse sido diferente nesta legislatura.Foto: Gerardo Santos

Partidos afinam listas nos círculos onde podem ganhar ou perder deputados por centenas de votos

Escolhas de candidatos às legislativas têm em conta mandatos que ficaram por conquistar. PS e Chega eram mais afetados se últimos eleitos em cada círculo fossem substituídos por quem “ficou à porta”.
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Com o prazo para apresentar candidatos às próximas legislativas a encerrar a 7 de abril, 40 dias antes das eleições de 18 de maio, os partidos estão a acelerar a escolha de deputados. O PSD reúne nesta quarta-feira a Comissão Política Nacional e o Conselho Nacional, em Lisboa, para aprovar o que serão as listas da Aliança Democrática (AD), cabendo ao CDS e PPM indicar os nomes restantes, devendo PS e Chega revelar as escolhas no início da próxima semana, enquanto a Iniciativa Liberal (IL) quer confirmar as escolhas da Comissão Executiva, anunciadas na terça-feira, no Conselho Nacional deste domingo, o Livre revela nesta quarta-feira o desfecho da segunda volta das primárias que definem os candidatos, o PAN está a ultimar as listas, tendo confirmado a recandidatura de Inês de Sousa Real em Lisboa, e o Bloco de Esquerda e CDU avançaram nomes dos principais candidatos no fim de semana passado.

Com a maioria das sondagens realizadas até ao momento a revelarem variações pouco significativas em relação às legislativas de 2024 - apesar da ligeira descida do Chega, da subida da IL, e da erosão nas intenções de voto à esquerda -, o processo de formação de listas de candidatos está a ter em conta os círculos em que os partidos ficaram perto de eleger deputados no ano passado. Um fenómeno transversal a todo o território, mas mais notório nos círculos onde está em jogo um menor número de deputados.

Fazendo o balanço entre os últimos a serem eleitos em cada um dos 22 círculos (18 distritos, duas regiões autónomas e emigração na Europa e Fora da Europa) e aqueles que “ficaram à porta” da Assembleia da República, em alguns casos por centenas de votos, observa-se que as forças políticas que tiveram mais eleitos “à tangente” em 2024 foram justamente as mais votadas: AD (7), PS (8) e Chega (6), mas a substituição pelo candidato seguinte só seria negativa para os partidos de Pedro Nuno Santos e André Ventura - levando à perda de cinco deputados para cada um -, enquanto a coligação liderada por Luís Montenegro sairia a ganhar dois mandatos, pois seria a próxima a eleger em nove círculos.

Esse impacto também se faria sentir nos restantes partidos, sendo o Livre o único a ter impacto nulo - perderia o cabeça de lista por Setúbal, Paulo Muacho, e elegeria mais um deputado em Lisboa. Além de a IL ter ficado à beira de obter representação parlamentar em Leiria, o PAN teria sido o próximo a eleger no Porto, a CDU asseguraria o cabeça de lista por Beja e o segundo da lista de Setúbal, o Juntos pelo Povo teria entrado na Assembleia da República, por troca com o segundo da lista do PS-Madeira - o que poderá vir a acontecer a 18 de maio -, e o maior beneficiado seria o Bloco de Esquerda, que ficou à beira de eleger em Braga, Aveiro e Faro.

Tal circunstância inspirou o partido a recorrer a “históricos” para tentar recuperar representação em alguns círculos. Em Braga, será o fundador e antigo coordenador Francisco Louçã a encabeçar a lista, podendo voltar ao Parlamento aos 68 anos. Um ano mais novo, o também fundador Luís Fazenda será cabeça de lista por Aveiro, à frente do ex-deputado Moisés Ferreira. E o terceiro fundador, Fernando Rosas, de 78 anos, é candidato por Leiria.

O comunista Bernardino Soares, antigo presidente da Câmara de Loures, foi confirmado como cabeça de lista por Beja, onde no ano passado a CDU ficou a 1321 votos de impedir a eleição do social-democrata Gonçalo Valente. Num círculo que elege três deputados - e que foi um dos cinco (tal como Évora, Faro, Guarda e Santarém) a dividir eleitos entre AD, PS e Chega -, pretende-se apelar ao voto útil da esquerda, nomeadamente aos 3393 bejenses que votaram no Bloco de Esquerda e aos 1369 que optaram pelo Livre.

Em Leiria, um dos círculos que a IL aponta como prioritário para o reforço do grupo parlamentar, após ter repetido a eleição de oito deputados em 2024 - incluindo Bernardo Blanco e Patrícia Gilvaz, que disseram não se irem recandidatar -, foi anunciado nesta terça-feira que André Abrantes Amaral será o cabeça de lista, numa lista que inclui os atuais deputados Mariana Leitão (Lisboa), Carlos Guimarães Pinto (Porto), Rui Rocha (Braga), Mário Amorim Lopes (Aveiro) e Joana Cordeiro (Setúbal). Em 2024, fora Miguel Silvestre, conotado com a oposição interna, a ficar perto de ser eleito em Leiria.

Mas a realidade dos votos nem sempre confirma as expectativas. Num caso paradigmático, pois foi uma justificação para o PSD se coligar com o CDS e o PPM em 2024, o eleitorado de Portalegre contrariou as estratégias partidárias. Dois anos antes, quando António Costa teve maioria absoluta, os sociais-democratas ficaram a 204 votos de evitar que os socialistas voltassem a ter os dois deputados do círculo alentejano. O PS perdeu um dos mandatos nas eleições seguintes, mas o beneficiário foi o Chega, que levou para São Bento o cabeça de lista Henrique de Freitas - um dos ex-PSD do grupo parlamentar -, superando a AD por 784 votos.

PAN procura quinta eleição consecutiva

Teve um grupo parlamentar com quatro deputados, nas eleições legislativas de 2019, mas antes e depois disso o PAN manteve um deputado único, eleito pelo círculo de Lisboa (em 2015 foi André Silva, seguindo-se Inês de Sousa Real em 2022 e 2024).

Apesar da ambição de recuperar representação parlamentar no Porto, o que quase sucedeu em 2024, e voltar a ter dois eleitos em Lisboa, o objetivo principal a 18 de maio é eleger, pela quinta vez consecutiva, a cabeça de lista no maior círculo, que voltará a ser Inês de Sousa Real.

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