Ninguém poupou Luís e Pedro não foi sequer poupado pela esquerda. Luís apontou a Pedro que apontou a Luís, que foi alvo de todos. André apontou a todos, tal como o Rui. Mariana só a três apontou: André, Luís e Pedro. Paulo poupou o outro Rui, Inês e Mariana, e esteve de contenda com André que não “tem medo” de Paulo. O outro Rui fixou-se em Luís. E o mesmo fez Inês.Sendo um parafraseado da Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, as semelhanças do que não se concretiza, do que parece politicamente impossível, ficaram patentes no Debate da Rádio que revelou, mais do que todos os frente a frente, todas as divergências que separam a direita da esquerda e os diferentes desencontros entre a própria esquerda e o que afasta as várias direitas de entendimentos. Luís Montenegro, que já por diversas vezes sugeriu a “necessidade” de uma maioria absoluta, ontem, e a semelhança do que já fez Pedro Nuno Santos, evocou, pela primeira vez, outra “necessidade”: o voto útil.“No dia seguinte às eleições não é possível corrigir o voto”, afirmou.A réplica do secretário-geral socialista, não sendo nova, é a recente variante do apelo à trânsfuga de votos de BE, PCP e Livre: “A única forma de derrotar a AD é com um Governo do PS.”Pedro Nuno Santos repetiu, mais uma vez, as ideias de que “quem mistura negócios com política não pode ser primeiro-ministro” e que Luís Montenegro “é o principal fator de instabilidade em Portugal”.O líder da AD- Coligação, forçado a repetir explicações sobre a Spinumviva e o apagão de dia 28, ensaiou uma nova narrativa, que tal como nas anteriores, atribuiu aos socialistas a responsabilidade pelas Eleições Legislativas antecipadas.“O PS convive mal com a derrota. É por isso que estamos a viver esta crise política, o PS não aceitou perder as eleições”, argumenta agora Luís Montenegro. Rui Rocha, que até já vê liberais a liderar as pastas da Modernização do Estado, Economia, Infraestruturas e Administração Interna em resultado de um acordo de Governo com a AD, e não escondendo criticas à governação de Montenegro, apostou na dissipação dos “papões da esquerda”.“Já foi o papão da austeridade, do sistema de saúde americano e agora do perigo constitucional. E propostas de mudança para o país?”, questionou. Depois, recuperando o adjetivo que em 2011 José Sócrates, de microfone fechado, no Parlamento, dirigiu em resposta a um comentário de Francisco Louçã - “Manso é a tua tia, pá!” -, o líder dos liberais colou, escarnecendo, o líder do Chega a políticas de esquerda: “Já disse que André Ventura é socialista. Estava a ser manso; é mesmo comunista.”O comunista de facto, Paulo Raimundo, que esteve largos minutos numa contenda acesa com o líder do Chega, que disse não ter “medo” do secretário-geral do PCP, retorquiu aos ameaços verbais com uma informalidade incomum.“Estou aqui que não me aguento. Não chamem por mim. André Ventura, daqui a nada estamos aqui estamos no nheca nheca outra vez”, respondeu. O “nheca nheca” estava traduzido nas interrupções e acusações, que foram recorrentes e que já vinham do frente a frente entre os dois - uma réplica dos atropelos sem debate de dia 16.Mariana Mortágua, que apontou a três alvos - André Ventura, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos -, embrulhou no mesmo modo de governar “PS e AD” que “não dizem nada diferente”. Ou seja: “A política do mal menor não mobiliza ninguém.”De Rui Tavares surgiu o aviso, repetido, para que haja consensos de governação afastando a direita, porque “ou a esquerda tem clareza ou podemos estar em face de uma situação constitucionalmente perigosa para o país”.Tal como nas eleições legislativas de 2024, o líder do Livre manifesta vontade em fazer parte de um Governo de Pedro Nuno Santos. E até diz ter, no seu partido, pessoas preparadas.A “alternativa” de esquerda, vai insistindo, é uma forma de travar a “pressão muito grande”, que diz existir, para que PS e PSD se juntem.No dia em que a campanha eleitoral, pela manhã, ficou marcada pelo Debate da Rádio [Observador, TSF, Antena 1 e Renascença], a tarde resultou em réplicas e traduções do que resultou do debate a oito partidos - os que têm representação parlamentar.Rui Rocha, em Lisboa, explicou as críticas matinais, alegando, e tendo como alvo eleitoral os jovens, que “a próxima legislatura tem de ser a da mudança, se não continuaremos a ver os nossos jovens saírem do país (…). Não podemos perder mais tempo. Várias gerações viram-se obrigadas a sair do país”.Perante as insistências sobre a admitida vontade de fazer parte de uma solução “responsável e reformista”, desta vez o líder dos liberais remeteu a pergunta para os “outros” da esquerda. “Perguntem aos outros se estão a altura ou não dessa responsabilidade. Temos visto não terem estado. O que vão fazer no dia seguinte?”, questionou.E depois, voltou aos “papões”, acusando Pedro Nuno Santos de se “refugiar na tentação de criar medo” por uma simples razão: “Não tem soluções para apresentar.”“Hoje [ontem] veio mais um papão, a revisão constitucional. Não vale a pena agitar papões. O medo não é bom conselheiro”, avisou. Pedro Nuno Santos, que do debate foi para um almoço na Confederação do Turismo de Portugal, reconheceu que “ao longo dos últimos 20 anos, infelizmente, acrescentaram-se algumas camadas de burocracia e de complicação” que foram um “empecilho” para os privados.“Sabemos que muitas vezes o Estado ainda é um problema no investimento privado e há muito a fazer”, admitiu. Luís Montenegro, que foi para um almoço no Cadaval com agricultores, fez contas ao “défice alimentar de Portugal [que] era de cinco mil milhões de euros” quando chegou ao Governo para garantir o que disse ser “objetivo nacional”.“Termos uma situação de autossustentabilidade. Acho que temos condições para isso, se tivermos um maior aproveitamento do nosso território, se tivermos a capacidade de inovação nos nossos métodos produtivos”, defendeu. E rapidamente regressou ao apelo ao voto útil repetindo, com acrescentos, a frase da manhã, porque “é mesmo preciso ir votar”.“Só quero que pensam uma coisa: se é um Governo estável que querem, tenham em atenção o seguinte: na segunda-feira, dia 19, não é possível corrigir aquilo que se fez no domingo”, afirmou.Paulo Raimundo, que promete “não largar” a “cassete” das pensões, dos salários e da saúde, entre outras, também fez contas - à semelhança de Montenegro.A proposta do PCP para as pensões, até porque “40 anos descontos é mais do que suficiente”, “custaria 1800 milhões” que é o mesmo que o Governo prefere dar em “benefícios fiscais às grandes empresas”. “Há dinheiro para resolver isto, há é um problema de opções”, acentuou. E esse foi também argumento para Mariana Mortágua, para avisar do perigo das “privatizações”. “Sobram três áreas que não foram privatizadas: educação, uma parte da saúde, que querem agora terminar, e a Segurança Social. Que ninguém se engane sobre isto, o projeto da direita é terminar de privatizar os serviços públicos”, avisou.E André Ventura? “Quero ser primeiro-ministro.”