As arruadas do Partido Socialista pela Morais Soares, em Lisboa, ainda não estão no horizonte, mas para as autárquicas de outubro a proximidade com os candidatos de cada freguesia tem sido uma prioridade. Por isso mesmo, Alexandra Leitão começou os périplos pela capital, escolhendo Arroios, uma artéria central que pretende recuperar. Um dos bastiões das vitórias eleitorais de António Costa e Fernando Medina, socialista desde a reorganização das freguesias em 2012, mudou em 2021 para a coligação entre PSD, CDS-PP, Aliança, MPT e PPM, com influência decisiva de uma reportagem em vídeo que exibiu a antiga presidente por dois mandatos, e derrotada nessas eleições, Margarida Martins, a, alegadamente, fazer compras pessoais sem pagar enquanto utilizava um carro da Junta para se deslocar. O desaire teve importância nas contas finais da autarquia, o que reforça a estratégia socialista de rumar às 10h30 desta quinta-feira ao mercado de Arroios.A comitiva ganhou números ao longo da manhã, chegou aos 50 elementos, com representação de apoiantes do PS, Livre e Bloco de Esquerda, parceiros de coligação. José Sá Fernandes, antigo vereador da câmara, foi um dos presentes e queixou-se da falta de planeamento e arvoredo no bairro. Mas foi João Jaime Pires, ex-diretor do Liceu Camões, onde lecionou mais de 30 anos, agora candidato apoiado pela coligação Viver Lisboa, a fazer a visita guiada a Alexandra Leitão. Tem o dom da memória, recordou como Arroios teve dificuldade em identificar-se como nova freguesia, agrupando a antiga São Jorge, Pena e Anjos, calcorreando as ruas onde habita há mais de 40 anos desde que veio de Alhandra, onde até fora autarca do Partido Comunista Português. “Era jovem”, diz, entre sorrisos, a agora figura consensual, que todos conhecem pelas ruas. Entre a Praça do Chile, com passagem pelas traseiras do liceu Camões, onde tantos formou, sem esquecer o Jardim Constantino ou a Estefânia, apontou para as paredes de betão. “Aqui podia morar gente”, repete. Soube descrever a importância da Igreja de São Jorge de Arroios, um espaço que congrega ucranianos em Lisboa, e enumerou as construções devolutas, sete pelas nossas contas ao longo do percurso. .Foi o retirado professor a personalidade mais famosa nas ruas, cumprimentado por vários comerciantes locais, casais de reformados que à padaria mais próxima tinham ido. Alexandra Leitão ainda não tem esse mediatismo, que crescerá com a presença nas ruas, e muniu-se, sim, da informação que os locais lhe podiam dar. Entusiasmado, Francisco Costa, do Livre, eleito presidente da Junta de Alvalade em caso de vitória da coligação Viver Lisboa, detalhava que a missão, através da aplicação Devolutos, é “identificar” edifícios que possam ser reutilizados para habitação.Esse tem sido o tema-chave para Alexandra Leitão, a meta de 20% para habitação pública que diz ser exequível com três passos necessários. “Em casos de património municipal, podemos reabilitar e utilizar para habitação; em caso de pertencerem à Estamo, temos de negociar com o Estado para recuperar esses fogos, no caso do privado a negociação é outra”, conversa com o nosso jornal enquanto a sinalizam para um edifício, do Ministério da Administração Interna, ao abandono.Arroios não foi escolhida em vão também por isso: são 3.800 fogos disponíveis para habitação, um número imponente, acima dos 10% dos habitantes que o último registo detalha (33 mil pessoas). E se a AD valoriza a imigração qualificada, há quem lembre que sem os estrangeiros nas mercearias locais, Arroios e outras freguesias perderão vida. “Temos de garantir que a imigração, que aposta em fruta e legumes de fornecedores portugueses, fica e nos permite ter comércio local”, atira Joana Alves Pereira, a possível presidente do Areeiro, do Livre. .Os quilómetros desaguaram no agora centro cultural e comunitário, criado no antigo hospital psiquiátrico Miguel Bombarda, uma reabilitação que serve de mote também à candidatura: a tentativa de utilização de espaços disponíveis enquanto não estão designados. Alexandra Leitão valorizou a entrada de vários cidadãos independentes na coligação. “Conheci o professor João Jaime quando fui secretária de Estado da Educação. É uma pessoa muito respeitada e conhecedora da cidade, desta freguesia, e faz sentido o PS abrir-se aos independentes, aos que conhecem o terreno. Vivo há 30 anos na cidade e não conhecia todos os detalhes de Arroios”, descreve no fim da caminhada ao sol, abordando, pela primeira vez, a incomum cedência de três possíveis presidências de Junta ao Livre: “Em conversa com os parceiros de coligação, entendemos que havia sítios onde se justificava ter uma pessoa melhor, que emergisse do território.” Não fez, portanto, leituras políticas quanto ao crescimento do Livre: “Não tem nenhum significado especial.” .Alexandra Leitão acusa Moedas de "ataque ao carácter".Alexandra Leitão reafirma meta de 20% de habitação pública em Lisboa