Montenegro tem primeira saída do Governo ao 301.º dia, quando António Costa já tinha perdido 12
A demissão do secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Hernâni Dias, justificada pelo próprio por querer "proteger o Governo" da polémica quanto a um alegado aproveitamento da Lei dos Solos em vantagem própria, provocou a primeira saída do Governo de Luís Montenegro, 301 dias após a cerimónia de tomada de posse, a 2 de abril de 2024. E contrasta com a vaga de saídas do Executivo anterior, pois António Costa perdeu dois ministros e dez secretários de Estado em menos tempo.
Os pesos-pesados que mais depressa saíram do XXIII Governo Constitucional, cuja tomada de posse foi a 30 de março de 2022, foram a ministra da Saúde, Marta Temido, que pediu a demissão após uma grávida indiana ter morrido enquanto estava a ser transportada entre dois hospitais lisboetas, devido ao encerramento de urgência de obstetrícia. Consigo saíram também, ao 164.º dia, os secretários de Estado António Lacerda Sales e Maria da Fátima Fonseca.
Mais tarde, a 4 de janeiro de 2023, no 280.º dia do Executivo, saiu o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos. O atual secretário-geral do PS mantivera-se em funções apesar da revogação de um despacho do seu secretário de Estado, Hugo Santos Mendes, que à revelia do primeiro-ministro e do Presidente da República estabelecia uma solução para os problemas aeroportuários da Grande Lisboa. Mas alguns meses depois, teve de assumir responsabilidade política pelo caso que levou à demissão da efémera secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis - apenas 33 dias em funções, de 2 de dezembro de 2022 a 4 de janeiro de 2023 -, por ter conhecimento da indemnização de 500 mil euros que esta recebeu ao deixar de ser administradora da TAP.
O socialista que já era visto como o sucessor de Costa deixou de ser ministro a 4 de janeiro, juntamente com Alexandra Reis, Hugo Santos Mendes e o secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, Rui Martinho. Mas a substituta deste último, Carla Alves, durou apenas nove dias, demitindo-se ao ser revelado que tinha contas bancárias arrestadas devido a um processo judicial que envolvia o marido, sendo a 13.ª baixa do XXIII Governo Constitucional.
A primeira saída dera-se logo a 2 de maio de 2022, com o que viria a ser o último Executivo liderado por António Costa a perder a secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Sara Guerreiro, após apenas 33 dias em funções, alegando motivos de saúde.
Bem diferentes foram as razões para a saída de Miguel Alves, secretário de Estado-Adjunto do Primeiro-Ministro, que entrara no Governo a 16 de setembro de 2022, com o objetivo de reforçar a coordenação, mas só ficou 33 dias. Demitiu-se na sequência de investigações a decisões tomadas enquanto presidente da Câmara de Caminha.
Enquanto isso, a má relação entre o ministro da Economia, António Costa e Silva, e os seus secretários de Estado levou a que João Neves (Economia) e Rita Marques (Turismo) deixassem o Executivo a 2 de dezembro de 2022, ficando apenas 247 dias desde a cerimónia de tomada de posse. Mais tarde, o primeiro-ministro reduziria as crises que abalaram o seu Governo a "casos e casinhos", ainda sem imaginar que a Operação Influencer levaria a que apresentasse a demissão, a 7 de novembro de 2023.