Miguel Albuquerque fica apenas a um deputado da maioria absoluta na Madeira
O PSD-Madeira venceu as eleições regionais da Madeira, ficando a um deputado de recuperar a maioria absoluta que perdeu em 2019, devendo voltar a entender-se com o CDS-PP, agora reduzido a um eleito, para garantir uma governação estável. Na noite de domingo, no discurso da vitória, Miguel Albuquerque - reconfirmado após os maiores partidos da oposição aprovarem a moção de censura que fez cair o seu Governo e levou à convocação de eleições antecipadas, pela terceira vez em ano e meio - disse que há tempo para iniciar negociações com outros partidos, mas também que “os nossos parceiros privilegiados toda a gente sabe quem são”.
Depois de obter a maior votação desde que assumiu a liderança do PSD-Madeira, sublinhando que ficou a 300 votos de eleger o 24.º deputado que garantiria a maioria absoluta, Albuquerque disse que o resultado foi o “reconhecimento do trabalho realizado”, mas também a “clara derrota da coligação de esquerda e da agenda de maledicência que imperou em toda a campanha”.
Sobre os problemas com a justiça, patentes no facto de metade dos integrantes do Governo Regional da Madeira cessante serem arguidos ou suspeitos em diversos processos judiciais, o líder do PSD-Madeira disse que o seu estatuto de arguido lhe confere direitos, criticando “partidos radicais que utilizam denúncias anónimas como instrumentos de política”. Quanto ao que sucederá caso venha a ser acusado, limitou-se a dizer que, “a seu tempo, tudo se vai esclarecer”. Ao seu lado, no discurso e na caminhada pelas ruas do Funchal, apareceu o ex-presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado, que no ano passado esteve detido em Lisboa por suspeitas de sete crimes de corrupção passiva.
Subindo de 19 para 23 deputados, o PSD foi o mais votado em 50 das 54 freguesias e em todos os concelhos, tirando Santa Cruz, bastião do Juntos pelo Povo (JPP), que subiu de nove para 11 mandatos, trocando de posição com o PS, que desceu de 11 para oito. Mas os socialista não foram os únicos derrotados, pois o Chega também perdeu um deputado, ficando com três, e o PAN deixou de ter representação na Assembleia Regional, ao contrário da Iniciativa Liberal, que manteve um eleito. De fora, continuam a CDU e o Bloco de Esquerda.
Paulo Cafôfo não se demite
Assumindo “de cabeça erguida” a derrota, o líder regional socialista Paulo Cafôfo anunciou que não se demitirá, justificando essa decisão com “a responsabilidade de preparar” o PS-Madeira para as eleições legislativas antecipadas de 18 de maio e para as autárquicas, que se realizam entre o final de setembro e o início de outubro. “Depois das autárquicas vou abrir um processo interno para a liderança e, até lá, o partido tem de estar focado em eleições importantíssimas”, disse, sem esclarecer se volta a apresentar-se a votos. Mais tarde, nos estúdios da RTP, o deputado Carlos Pereira, que nas legislativas de 2024 foi eleito pelo círculo de Lisboa, apelidou-o de “rosto de uma derrota muito pesada” e disse que “não é um bom cartaz de visita” ter o atual líder regional a organizar as autárquicas.
Não foi a primeira vez que o PS passou a terceira força política nas eleições regionais madeirenses. Aconteceu o mesmo em 2011 e em 2015, então com o CDS-PP a liderar a oposição, mas interrompeu esse ciclo em 2019. Foi o ano em que o PSD-Madeira e Miguel Albuquerque perderam a maioria absoluta, descendo de 24 para 21 deputados, com Cafôfo a obter o melhor resultado de sempre dos socialistas na região: 35,76% dos votos e 19 deputados. Chegou a apelar ao CDS-PP para se lhe juntar no poder, mas o então líder regional centrista, Rui Barreto, coligou-se com o PSD.
Um dos últimos a falar na noite de domingo foi Élvio Sousa, líder do JPP, que viu no segundo lugar em seis concelhos da região autónoma - além da vitória em Santa Cruz - um “ponto de partida para a afirmação” do partido. Garantindo que estará atento à governação de Albuquerque, citou o Papa Francisco (“Deus não dá força aos grandes e poderosos, mas aos pequenos”), horas depois de fazer outro tanto ao filósofo Jean-Paul Sartre (“Agir é modificar a figura do mundo”).
Leituras nacionais
No que toca às reações das lideranças nacionais, Pedro Nuno Santos assumiu o papel aspiracional de futuro primeiro-ministro de Portugal, assumindo o compromisso de tudo fazer “para garantir uma boa relação institucional” com o Governo Regional da Madeira, “lamentando apenas que tenha ganhado o PSD-Madeira, e Miguel Albuquerque em particular”.
Logo de seguida, e em simultâneo com o discurso de Cafôfo, também Luís Montenegro reagiu, na sede distrital do PSD no Porto, realizando uma extrapolação nacional dos resultados das eleições regionais, que disse corresponderem à “derrota em toda a linha de uma oposição concertada e destrutiva do PS e do Chega”. Os mesmos partidos que disse colocarem “os seus interesses à frente dos interesses das pessoas”, nomeadamente “o crescimento económico, o equilíbrio das contas públicas, uma política que diminua impostos, aumente rendimentos e resolva os problemas que afligem as portuguesas e os portuguesas”. Aqueles que, em sua opinião, “o que reclamam são soluções políticas concretas, muito mais do que tricas inúteis”.