Os “mexericos políticos”, que Luís Montenegro não desmentiu, nem quis confirmar, por não ser seu “hábito”, como alegou, “distrair os portugueses” com enredos da política, até porque [e aqui nova alegação] “as conversas com os partidos existem e vão existir sempre”, acabaram por obrigar o candidato da AD e primeiro-ministro a perder “finalmente o controlo da agenda de campanha” - explicação referida ao DN por fonte socialista.A frase de Rui Rocha, que atravessou sábado e domingo sem perturbar as arruadas e comícios da AD e que revelava ter havido “manifestações de desejo” de “lideranças do PSD” para entendimentos pré-eleitorais com a IL, foi ontem recuperada por um dos “jovens turcos” do PS e levou o líder dos liberais a resumir a ausência de resposta esclarecedora de Montenegro de uma forma simples: “Não é desmentido, porque não pode ser desmentido.”No sábado, ao revelar que tinha sido desafiado a integrar uma “plataforma” por “quem tem a capacidade e a possibilidade de liderar a direção e as lideranças” sociais-democratas , Rui Rocha largou a frase que pressionava a confirmação: “Foram as lideranças do PSD e tenho a certeza de que não dirão o contrário, que confirmarão.” Não confirmaram.O vazio criado só ontem sofreu alterações. O mais que se ouviu foram as “incertezas” ou o “mal-estar” que uma pré-coligação com os liberais poderia causar no CDS de Nuno Melo. E nem mesmo Pedro Nuno Santos quis dar grande importância ao caso. Só a custo, e após a insistência das perguntas, decidiu dizer que “eles vão ser derrotados, agora que a AD se quer juntar à IL… agora já sabemos que tentaram juntar-se antes”.Incisivo, Duarte Cordeiro foi mais longe atirando a narrativa para “os pensionistas e o eleitorado do centro”, que “tem de saber o que a AD está disponível para negociar com a IL”. E de imediato acusou André Ventura de “ser um traidor à pátria”, por “defender as tarifas” de Trump que, sustenta, põem “em causa a possibilidade de nos desenvolvermos”.Sendo, como disse, “fundamental” saber o que “duvido que vocês saibam”, o antigo ministro socialista e um dos “jovens turcos” de 2014 aproveitou para um regresso ao passado social-democrata, acusando os atuais dirigentes do PSD de “nunca” se terem “distanciado das políticas da altura, dos cortes nas pensões, ou da expressão ‘ir para além da troika’”. “Os pensionistas têm o direito de saber, até ao dia das eleições, o que Luís Montenegro está disposto a negociar com a Iniciativa Liberal”, insistiu Duarte Cordeiro.Pedro Nuno Santos, que com Pedro Delgado Alves, Duarte Cordeiro e João Galamba - ausente da campanha - formaram o grupo de apoio a António Costa para derrubar António José Seguro da liderança do PS, alimentou o regresso ao passado.“A AD, sozinha, já faz estragos - temos bem memória do que fizeram depois da crise de 2010. (…) Com a IL, é uma mistura explosiva do ponto de vista do radicalismo e do ataque ao Estado Social”, acentuou o agora líder do PS.Da noite de domingo vinha uma promessa, apurou o DN, que “surpreendeu” alguns dos que de mais perto acompanham “a campanha e a estratégia” de Pedro Nuno Santos.“No próximo governo PS aumentaremos as pensões acima do que a lei prevê”, garantiu.Ora, não estando a “promessa” inscrita no programa eleitoral, e, por isso, sem cálculos, nomeadamente, da despesa prevista, a frase do próprio líder socialista de que na AD “estão completamente de cabeça perdida” e que “dizem coisas diferentes” foi percecionada como “arriscada”, dada a insistência na mensagem da “estabilidade”.Afastado da argumentação renascida da troika, Rui Rocha manteve e sublinhou o que disse no sábado, dizendo não ser “problema” dele o “algum desconforto” que o tema do convite para uma pré-coligação possa causar em Montenegro.“O que eu afirmei”, recordou, “é que antes desta campanha houve tentativa por parte da AD de integrar a IL noutra plataforma”. Ora, acrescentou, Luís Montenegro “não desmentiu”.E contrariando a parca explicação do líder social-democrata, a alegação de “mexericos políticos”, Rui Rocha diz que simplesmente “trata-se de ser transparente e enquadrar os portugueses no contexto de declarações feitas por responsáveis da AD”.“Tenho a certeza de que não dirão o contrário, nem disseram o contrário”, assegurou, insistindo que o convite não veio “de forças vivas”, mas “da parte mais alta da liderança do PSD, e aconteceu”. E, isso, “não é desmentido, porque não pode ser desmentido”. No sábado, tinha “a certeza” de “que confirmarão”.E há realmente uma possibilidade de entendimento? As regras ficam assim estabelecidas, pelo menos nesta fase, pelo líder dos liberais: “Não somos uma solução de Governo para fazer igual para a AD, mas para fazer diferente. Não existimos para passar certificados de bom comportamento à AD, mas para modificar o comportamento da AD.”Respondendo à acusação de Pedro Nuno Santos de que AD e IL seriam um “mistura explosiva do ponto de vista do radicalismo e do ataque ao Estado Social”, Rui Rocha diz que “explosivo” é o PS “ter estado em negociações com o BE, que integrava membros das FP-25 (…). O BE tinha terroristas condenados e não-arrependidos nas listas”. A insistência foi ainda mais longe: “Explosivo é ter estado em negociações, na Geringonça, com BE e PCP (…). Entender-se com partidos que propõem um pacote de nacionalizações e a saída de Portugal da NATO. Isso é que são relações verdadeiramente explosivas.” E por fim um desafio a concretizar as “relações explosivas”. Rui Rocha instou Pedro Nuno Santos a dizer “se está disponível para ceder um programa de nacionalizações do PCP, se está disponível para ceder medidas como o teto de rendas propostas pelo BE”.