Marques Mendes é o primeiro candidato oficial na corrida a Belém, prevista para janeiro de 2026
Marques Mendes é o primeiro candidato oficial na corrida a Belém, prevista para janeiro de 2026Foto: José Coelho/Lusa

Marques Mendes é candidato a Belém e avisa: "O tempo não recomenda política sem experiência"

Liberdade, democracia, ética, estabilidade, cooperação e esperança são as palavras de ordem do ex-líder social-democrata, que na corrida à Presidência conta com o apoio do autarca socialista de Fafe.
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Foi com a justificação de querer ser "útil" e de querer "retribuir" o "muito" que Portugal lhe "deu ao longo dos anos" que Luís Marques Mendes , o antigo líder do PSD, apresentou a sua candidatura à Presidência da República, a primeira a ser oficializada, um ano antes das eleições.

Numa cerimónia na Misericórdia de Fafe, cidade de onde Marques Mendes é natural, o agora candidato a Belém exaltou a sua experiência para argumentar a sua candidatura, depois de elencar os vários cargos que ocupou, para além de 15 anos como conselheiro de Estado.

"Com o Parlamento nacional mais dividido e fragmentado do que nunca", explicou Marques Mendes, "o cargo de Presidente da República é um cargo eminentemente político", motivo pelo qual, destacou, este "tempo não recomenda política sem experiência".

"Não é tempo para aventuras", avisou.

Com a promessa de uma candidatura assente em valores, que Marques Mendes não hesitou em esmiuçar, um a um, da "liberdade" à "esperança", o antigo secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros disse ter orgulho do seu percurso político, num momento em que "tantos em Portugal parecem querer esconder que fazem política".

"A experiência não é tudo, mas só a experiência garante segurança, certeza e previsibilidade", defendeu Marques Mendes, antes de mostrar assumir que, esta quinta-feira, entregou o seu cartão de militante do PSD, justificando que o fez como "ato simbólico" para perseguir uma "magistratura de independência e imparcialidade" num "compromisso com a ética política".

Ao destacar o valor da cooperação, o antigo líder social-democrata prometeu estabelecer pontes com o Parlamento, com o Governo e com os partidos da oposição. Esta afirmação surgiu depois de elencar na sua missiva os valores da liberdade, democracia, ética e estabilidade.

Caso venha a ser Presidente, Marques Mendes, se cumprir o que prometeu no lançamento da sua candidatura, vai reger-se também pela proximidade "com a sociedade civil" e pela esperança que reserva, sobretudo, para os jovens, afirmou, sublinhando que deseja que sejam "bem preparados", com um salário justo, para que não batam "no muro da sociedade".

Marques Mendes considerou que "Portugal não é um país pequeno" e que "há países mais pequenos que são um exemplo de sucesso". Por este motivo, destacou o desafio em torno do Estado social, tendo em conta que, apontou, "equilíbrio, justiça e sensibilidade social" não serão atingidos à "custa dos pensionistas".

Com a garantia de que quer ser "Presidente de todos os portugueses", das regiões autónomas, da diáspora, Marques Mendes disse que esta é uma "candidatura com compromissos", sublinhando que "todos são portugueses" e todos devem ser tratados com respeito.

Entre os valores que trouxe à candidatura, Marques Mendes destacou a ética como algo transversal à política. Por este motivo, avisou que "hoje é preciso ir mais longe" e "avaliar as leis eleitorais" e "alterar a escolha dos deputados", o que, frisou, passa por "rever a ética dos partidos".

"A ética não é menos importante do que o rigor financeiro", considerou, sustentando que, sem referir nenhum caso ou partido concreto, é importante "afastar deputados que têm comportamentos desviantes e eticamente censuráveis".

Para exemplificar este valor, o candidato a Belém lembrou que, "há 20 anos", tomou a "decisão de afastar autarcas do partido em nome da ética e da credibilidade", aludindo, entre outros episódios, ao de Isaltino Morais, que acabou por sair do PSD na sequência do processo judicial que o condenou a cumprir pena efetiva de 427 dias prisão, acabando por ficar em liberdade condicional e a ganhar a Câmara de Oeiras, longe das fileiras sociais-democratas.

Citando o fundador do PSD, Francisco Sá Carneiro, Marques Mendes defendeu que "a política sem ética é uma vergonha".

Não basta dizê-lo, "é preciso aplicá-la", sustentou, frisando que "é essencial" fazê-lo "para inverter a degradação que afeta a nossa democracia".

Por este motivo, assumiu um "compromisso para com a estabilidade", exaltando "pontes" e "etendimentos", como valores próprios de um Presidente da República.

Na qualidade de "construtor de pontes", Marques Mendes advogou que "é preciso evitar crises apolíticas", por que "isso não é modo de vida", com "impasses e bloqueios".

Perante isto, o ex-militante social-democrata afirmou que "o Presidente da República tem de dar o seu contributo ativo" para estabelecer as pontes que quer ver construídas, "estimulando entendimentos".

Evocando a sua experiência, Marques Mendes recordou os "acordos de regime" que estabeleceu, na qualidade de presidente do PSD, incluindo o da área da Justiça, que assinou em 2006 com o primeiro-ministro da altura, José Sócrates.

"Fiz isso eu próprio com, alguns acordos de regime", lembrou, antes de assumir que "é esta atitude democrática" que quer "reforçar como Presidente da República", que passa pelo "compro0misso com causas que são importantes, urgente e inadiáveis" e "que requerem ambição".

Nesta fase, Marques Mendes lembrou que o "Presidente não governa", mas "deve ter causas", como, destacou, "o combate à pobreza, em especial a pobreza empregada", referindo as pessoas "cujos salários, por força do custo de vida, não dão para pagar as despesas no final do mês".

"Temos de crescer mais", apelou, falando em "inovação" e "conhecimento".

"Sem um país mais rico dificilmente seremos uma sociedade mais culta", sublinhou, antes de falar na "causa da justiça e do combate à corrupção".

"A corrupção mina a democracia", considerou, trazendo para o discurso a ideia de que "atrasos judiciais muitas vezes, por manobras dilatórias", acabam por dar "a sensação de que há "duas justiças": Uma para os ricos e outras para os pobres".

Uma das causas que o candidato presidencial evocou, que se confundiu com um dos compromissos assumidos, foi a viol~encia contra as mulheres, que considerou ser "um pesadelo" que "não pode ser desvalorizado".

"As mulheres não são números nem estatísticas, são pessoas e merecem o nosso respeito", disse perante uma casa cheia em Fafe.

Na sua receita para a construção da figura do Presidente da República, Marques Mendes defendeu que Portugal precisa de "ambição".

"Precisamos de acreditar em nós próprios, sobretudo no futuro", afirmou, enquanto defendia que o Presidente da República precisa de ser "inspirador".

"Portuguesas e portugueses, amigas e amigos, o tempo que agora começa é um tempo novo na minha vida", disse, reforçando que apresenta esta candidatura "de forma convicta e genuína para lutar e ganhar".

"Estou aqui para cumprir e fazer cumprir a Constituição", assegurou, na mesma medida em que garantiu que o faria para "renovar a esperança".

"Portugal vale sempre a pena", concluiu.

Divisões no PSD

A unanimidade no PSD em torno de Marques Mendes está “longe de acontecer e isso é uma dificuldade” diz ao DN fonte próxima da direção do partido que elogia a “disponibilidade” do ex-líder em avançar quando “todos os cenários, até agora, lhe são desfavoráveis”.

Ao DN, um antigo dirigente nacional considera as “desvantagens” [as sondagens] como “um facto”, reconhece a “competência”, o discurso de um político “estruturado”, mas “sem carisma”. E esse é, argumenta, “outro facto”.

“Ninguém no PSD poderá dizer mal dele, mas é o que é: um político sem carisma. E isso em eleições é... [hesita na escolha da palavra] uma desvantagem”, afirma.

Ao DN vários fontes parlamentares admitem que a “pressa”, uma “apresentação sem figuras nacionais de peso” e o “não ser uma figura consensual” no PSD e no país abrem um cenário “desastroso” para o PSD e para o PS que “está sempre dividido em tudo”: uma segunda volta entre Gouveia e Melo e André Ventura.

Ângelo Correia, militante histórico do PSD, deputado de 1975 a 1995, ministro da Administração Interna no segundo Governo de Balsemão entre 1981 e 1983 - Marcelo era ministro dos Assuntos Parlamentares - apoiante declarado de Gouveia e Melo considera que à “notoriedade” televisiva de Marques Mendes não corresponde “confiança” e “autoridade” e que há, assegura ao DN, “outros” do “PSD, PS e até do PCP” que “a seu tempo” tornarão público o “apoio” ao Almirante e , por isso, o “não apoio” ao candidato do PSD.

Isaltino Morais, desligado do PSD desde que Marques Mendes em 2005, então líder do PSD, lhe retirou o apoio à candidatura à Câmara de Oeiras escolhendo Teresa Zambujo [como independente Isaltino ganharia essas eleições autárquicas], diz que os candidatos de PSD [Marques Mendes] e PS “são fracos e mal preparados”.

O autarca de Oeiras, que volta a ser candidato nas autárquicas, garante que há “muitos presidentes de câmara que pensam o mesmo” com um acrescento: “O almirante é alguém que tem sentido de Estado, com uma posição muito institucional.”

Carlos Carreiras, outro histórico do PSD, que não excluiu “apoiar Gouveia e Melo” pois tem um perfil “agregador” e “espírito de missão”, critica a “candidatura extemporânea de Marques Mendes”.

Miguel Morgado, ex-deputado do PSD, e antigo assessor de Passos Coelho de que quem continua próximo, vê em Marques Mendes “um candidato” que “não existe” e que “não vai unir a direita”.

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