Luís gabou-se da "montenegrização" da oposição enquanto Rocha lançava uma OPA aos eleitores da AD
Os líderes da AD - Coligação PSD/CDS e da Iniciativa Liberal, provavelmente os protagonistas destas eleições mais propensos a aliarem-se no pós-18 de maio, manifestaram notórias dificuldades de entendimento no debate realizado pela RTP nesta noite de segunda-feira. Tanto Luís Montenegro quanto Rui Rocha concentraram-se em disputar os votos confiados ao interlocutor nas legislativas de 2024, mas com o liberal, mais incisivo do que em debates anteriores, a apresentar melhores argumentos do que o social-democrata.
No final do debate, transmitido pela RTP1 e pela RTP3, Rui Rocha dirigiu-se aos eleitores da Aliança Democrática, numa verdadeira OPA, dizendo-lhes que vale a pena optarem pelo "espírito reformista" e "capacidade de trazer estabilidade" que garantiu existirem no seu partido. "A pergunta neste momento é se estão a AD, e Luís Montenegro, em condições de garantir essa estabilidade", disse o líder da IL, levando o primeiro-ministro a cortar-lhe a palavra para dizer que "a resposta é sim, e é a forma de evitar um Governo socialista".
No entanto, referindo-se ao impacto do "caso Spinumviva" - Montenegro dissera, após o moderador Hugo Gilberto introduzir o tema, que enquanto primeiro-ministro sempre esteve "em exclusividade absoluta" e que "não há nada que se aponte numa decisão política que tenha sido inquinado por interesse privado" -, Rui Rocha insistiu que, se surgirem "mais problemas" relacionados com a vida empresarial do social-democrata, "vai-se voltar a enfiar o país num beco".
"Dinheiro para cima dos problemas"
Depois de um início de debate em que Rocha voltou a dizer que Montenegro "geriu com irresponsabilidade toda a situação que nos levou até aqui", por não dar "explicações atempadas" à sucessão de notícias sobre a Spinumviva, o primeiro-ministro recentrou a discussão no seu Governo. "O PSD e a AD estão a desenvolver um trabalho que se está a refletir em mais qualidade de vida, em mais bem-estar, em mais esperança e em mais capacidade de os portugueses e as portuguesas terem condições de alcançarem os seus sonhos", defendeu.
De igual modo, após ter dito que Portugal atingiu uma estabilidade financeira "que faz corar de inveja qualquer uma das grandes economias da Europa", Montenegro gabou-se de ter influenciado todo o espetro político nacional. "Há uma certa montenegrização do pensamento político dos partidos da oposição", disse, apontando Imigração, Segurança, Economia, Política Fiscal e Valorização da Administração Pública como as áreas em que a coligação de centro-direito fez escola.
Rui Rocha contrapôs o que disse serem as falhas da governação, entre o aumento da carga fiscal para 35,7% do PIB - mais tarde, Montenegro realçou que isso se deveu ao acréscimo de contribuições para a Segurança Social - e os problemas na Saúde, enumerando o INEM, a manutenção de 1,5 milhões de portugueses sem médico de família e as listas de espera para consultas e cirurgias como exemplos de fracasso.
Em defesa do seu Governo, e da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, "um quadro qualificadíssimo" a quem não garantiu que fique nas mesmas funções caso continue primeiro-ministro, Montenegro salientou a diminuição nos tempos de espera nas urgências hospitalares em 15%, com a percentagem a subir para 36% nos utentes prioritários. E justificou que há mais 152 mil portugueses com médico de família do que há um ano, mas ingressaram entretanto 208 mil novos utentes no Serviço Nacional de Saúde. O mesmo que a AD "não abdica de manter como trave mestra", ao contrário do modelo "centrado no utente" que é advogado pelos liberais.
O presidente da IL também criticou a AD por ter feito uma descida de impostos "muito ligeira", longe da esperada após oito anos de governação socialista, comparando os slogans do seu partido ("Acelerar Portugal") e da coligação ("Portugal não pode parar") para defender que os eleitores têm perante si "uma diferença de velocidades".
Mais tarde, Rocha acusou Montenegro de "atirar dinheiro para cima dos problemas" e de "estar cada vez mais parecido com o PS", ao responder às reivindicações de classes da Administração Pública "que faziam barulho e o Governo passava o cheque". Em vez disso, garantiu que o seu partido pretende "trazer mais dinheiro para as famílias através da racionalização do Estado".
Por seu lado, Luís Montenegro equiparou a "aventura fiscal da IL" à vontade de "distribuir sem capacidade de criar" apontada ao PS. E sustentou o argumento de que "votar AD evita o regresso do socialismo", numa altura em que algumas sondagens, incluindo a que consta do Barómetro DN/Aximage, mostram um ligeiro avanço do PS sobre a coligação de centro-direita.