O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, referiu-se nesta terça-feira aos EUA como “aliados ou antigos aliados norte-americanos”, em declarações que deixaram o Governo sem comentários. Apesar das posições de Donald Trump, que tem dado sucessivos sinais de afastamento da Casa Branca em relação à Ucrânia, chamando “ditador” ao seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, estarem a ser contrariadas, de forma mais ou menos assertiva por vários líderes ocidentais, o Chefe de Estado de Portugal destacou-se por colocar em causa a relação com Washington e o futuro da Aliança Atlântica.“Temos de perceber se a NATO é para levar a sério ou não, porque se a América tem reservas, na prática, em relação ao seu envolvimento na Ucrânia, há que perceber até que ponto isso reforça ou enfraquece a NATO”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa, após comentar que “já se percebeu que está difícil de convencer os aliados, ou antigos aliados norte-americanos - nunca se percebe bem, com esta nova administração - a participarem nesse esforço de segurança”.Horas antes, na Comissão Parlamentar de Defesa, Nuno Melo dissera que os EUA são aliados permanentes, “independentemente do que a administração Trump disser ou fizer”. E apesar de o ministro da Defesa ter optado por não reagir às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, o deputado socialista Luís Dias, coordenador do seu grupo parlamentar na Comissão de Defesa, disse ao DN que “parecem declarações em desacordo com as do ministro da Defesa Nacional e do Governo”. Por seu lado, Nuno Simões de Melo, coordenador do Chega, contrapôs que “as nações que pertencem à NATO são nossas aliadas, ponto final”. Destacando que no recentemente houve mais dois países da União Europeia a aderir [Finlândia e Suécia], acrescentou que “não podemos confundir os EUA com uma administração, seja ela qual for, que dura quatro anos”, e que “não podemos ser injustos quanto às garantias de defesa e de segurança que a América nos proporcionou nos últimos 80 anos”. “Ao pôr-se em causa o empenho da América está a pôr-se em causa a própria Aliança Atlântica”, defendeu. Pinto Ramalho, ex-chefe do Estado-Maior do Exército e presidente do Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI), diz que “a última coisa que os europeus devem fazer é desvalorizar a NATO e tentar fazer qualquer coisa fora da NATO”. Destacando que a Aliança ajudou a manter a paz na Europa desde 1949, tendo Portugal entre os fundadores, o general na reserva considera “uma ideia peregrina pensar que os europeus vão criar uma alternativa à NATO”, admitindo ver as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa com preocupação, ainda que se mantenha otimista: “Quero pensar que é preocupação do Presidente valorizar a NATO e não a desvalorizar.”."Ainda é cedo" para tropas.Quanto à hipótese de Portugal enviar tropas para a Ucrânia, Nuno Melo foi cauteloso no que disse aos deputados. “Vamos tratar do plano de paz e, depois de concretizado, como todos desejamos, ponderar a eventual necessidade de participação militar, no contexto dos nossos aliados.”Respondendo a jornalistas no Palácio de Belém, o Presidente da República disse que “ainda é cedo para se colocar a questão” do envio de militares portugueses para a Ucrânia, pois uma eventual participação dependerá do parecer do Conselho Superior de Defesa Nacional, que tem uma reunião marcada para 17 de março. Quanto ao acordo para travar a guerra, decorrente da invasão russa, em 2022, Marcelo Rebelo de Sousa disse que tem de ser “uma paz justa, uma paz sustentável e uma paz compreensiva”.