Partidos da esquerda começam a organizar-se depois das eleições de domingo. Reações à perda de peso eleitoral incluem uma reorganização que passa, apontam, por uma "relação construtiva" e "convergências alargadas", prometendo combater a extrema-direita.
Partidos da esquerda começam a organizar-se depois das eleições de domingo. Reações à perda de peso eleitoral incluem uma reorganização que passa, apontam, por uma "relação construtiva" e "convergências alargadas", prometendo combater a extrema-direita.Foto: Direitos Reservados

Da “relação construtiva” até à “rejeição” do programa do Governo, a esquerda reage

O porta-voz do Livre avisa que a revisão constitucional da IL, além de ilegítima, pode significar mudança de regime. O PCP quer combater a direita e o BE desperta para “convergências alargadas”.
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Sem tempo para lamber feridas, reduzida a um terço do hemiciclo desde domingo passado, a esquerda (com o PAN) mostra ao que vem e deixa pistas sobre o que vai fazer nos próximos tempos, com vários alertas lançados para cenários futuros, a começar já pelas eleições autárquicas, previstas para 28 de setembro ou 5 de outubro. Entre as possibilidades de reorganização, há a necessidade de “diálogo entre estruturas locais e os partidos nacionais, para tentar ver que consensos” podem surgir, defendeu ontem o porta-voz do Livre Rui Tavares, depois de uma audiência com o Presidente da República, em Belém.

Referindo-se às conquistas autárquicas anteriores do PCP, Rui Tavares alertou para o risco dos comunistas perderem “bastiões”, não para o PS, como acontecia antes, mas “diretamente para a extrema-direita”.

“Se essa possibilidade não fizer acordar as esquerdas”, prometeu Rui Tavares, “o Livre fará” esse apelo “ao povo de esquerda”, para que haja uma reversão de “um possível enquistamento da extrema-direita”.

Questionado sobre se a sua proposta é um convite à união entre os partidos de esquerda, o líder do Livre recusou-se “a definir fórmulas finais”, preferindo projetar que “essa reflexão rápida, grande, mas rápida, tem que chegar”. E falou numa “relação construtiva” à esquerda. A proposta de Rui Tavares, explicou, passa por apelar a que a “esquerda consiga ser um pouco pragmática”.

“Às vezes a direita é pragmática demais, mas que a esquerda não seja pragmática de todo pode significar, a partir de setembro” o mapa político do país esteja “completamente mudado, de uma forma que não será reversível, talvez em décadas”, avisou.

Umas horas antes, o líder da IL, Rui Rocha, prometeu uma proposta de revisão constitucional (ver pág. 9).

“Sabíamos que a Iniciativa Liberal gostava de motosserras. Agora percebemos que gosta de mandar gasolina para o fogo”, disse Rui Tavares, apelando a que Luís Montenegro, com um Parlamento no “qual é possível fazer uma maioria constitucional apenas entre a direita e a extrema-direita”, assuma que, durante esta legislatura, não faça “nenhuma emenda à Constituição” ou que, “em vez de ter dois terços, tenha um consenso que abranja, pelo menos, três quartos” do Parlamento, incluindo o PS.

Combater e resistir

No dia anterior, o PCP, depois de reunir o Comité Central, anunciou uma moção de rejeição ao programa do Governo da AD, mesmo sem o conhecer, argumentando que o partido não pode “ficar à espera” que se inicie “o desmantelamento do SNS, o assalto à Segurança Social, às alterações laborais, o processo de privatizações que está em curso”.

Paulo Raimundo diz que o partido já conhece “bem a unidade que existe entre o conjunto das forças mais votadas na Assembleia da República sobre cada uma destas matérias”, referindo-se a PSD, CDS, Chega e IL.

Paulo Raimundo explicou que o objetivo da moção de rejeição é esgrimir “um grande significado político de condenação à política que o Governo quer apresentar”, para além de ser também uma garantia do PCP em “dar combate ao Governo e à sua política, ao projeto e à agenda reacionária da direita em todas as frentes, na frente institucional e em todas as frentes de luta”.

Em alusão ao eleitorado do Chega, que deu, por enquanto, 58 deputados, explicou que os que “deram o seu voto à direita são em grande medida os primeiros e as principais vítimas da sua política”, motivo pelo qual, defendeu, não pode haver “estabilidade com a instabilidade da vida”.

O BE, reduzido a um mandato, com Mariana Mortágua,vai avançar com uma reunião da Mesa Nacional no próximo dia 24. O objetivo é o de debater os resultados eleitorais e analisar “erros e acertos, bem como as experiências de organização e comunicação” que o partido quer “levar para o futuro”.

Com uma preocupação perante o facto de a direita ultrapassar “o limiar dos dois terços que lhe permite alterar a Lei Fundamental”, uma carta enviada pelo BE aos militantes defende que é tempo para “novas convergências alargadas no campo democrático em defesa da Constituição de Abril”.

“O Bloco não se fecha: iremos à luta pela liberdade e pelo futuro da esquerda em todo o país, um espaço aberto de resistência, sem sectarismos”, promete o partido.

Já o PAN, que manteve a líder, Inês de Sousa Real, como única deputada, começa por avisar Montenegro que o programa do Governo não pode ser uma cópia do programa da AD, devido às suas “insuficiências”.

A porta-voz do PAN, ao DN, defende que o programa do Governo deve contemplar “a criação de um crédito bonificado jovem, o acesso à isenção de IMT Jovem para pessoas com mais de 35 anos ou a garantia de que o IRS Jovem chega a jovens com menos de 35 anos, mas com mais de 10 anos de trabalho”. O Governo, diz ainda, terá de dar “maior atenção ao combate aos crimes de violência sexual e de mais ambição no combate à violência doméstica”, para além de insistir na criminalização de maus-tratos a animais.

O estreante JPP, com o deputado único Filipe Sousa, promete uma luta pela “estabilidade governativa”, que “será sempre uma utopia se os partidos não cuidarem primeiro da estabilidade social”.

Por este motivo , diz o deputado ao DN, “os partidos devem olhar menos às suas claques e decidir em atenção às necessidades reais das populações, das famílias, das pequenas e médias empresas”, sempre com o objetivo de travar “o empobrecimento do país”.

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