Coimbra. Demissões e divisões internas no CDS e PSD sem confirmar apoio ao autarca acusado pelo MP
Jorge Alexandre Almeida, que foi líder da distrital de Coimbra do CDS, de setembro de 2020 até dia 8 deste mês, já “não se reconhece no partido, nem numa liderança opaca” que “ignorou” as estruturas locais e “em particular” a Comissão Política Distrital do CDS.
“Nem sequer um telefonema. Nada. Desde o Congresso de Guimarães [abril de 2022], onde estive, e onde Nuno Melo foi eleito presidente do partido que a direção nacional nos ignorou”, diz ao DN Jorge Alexandre Almeida.
O professor universitário, que foi candidato a deputado nas legislativas de outubro de 2019 e de janeiro de 2022 e que considerava o “CDS o final da direita decente”, desfiliou-se na segunda-feira, 10 de fevereiro, lamentando que “quem em 2021 quis impedir o CDS de apoiar José Manuel Silva” esteja agora a liderar o partido em Coimbra.
Jorge Alexandre Almeida refere-se aos “desentendimentos” de 2021 entre a distrital e a concelhia e entre a concelhia – que queria um candidato próprio do CDS - e Américo Petim, líder da concelhia, que defendia “tal como eu e a distrital” a coligação de apoio ao atual presidente da Câmara de Coimbra.
Nessa altura, o agora ex-líder da distrital, dizia-se “perplexo” com a “convulsão”. Agora, perante as mudanças, acentua “aquilo que parece ser uma mudança de 180 graus” e “uma completa incoerência política” de “quem defendia que não se devia apoiar José Manuel Silva”.
Afastando-se da militância no CDS, Jorge Alexandre Almeida garante que continuará como “independente” na Assembleia Municipal de Coimbra a “apoiar um Presidente que muito tem estado a fazer pelo concelho” e que como “cidadão” irá “naturalmente apoiar a recandidatura” de José Manuel Silva.
“Conseguimos, não esqueço, alcançar nas Autárquicas de 2021 os melhores resultados de sempre”, sublinha.
Helena Mendes, que era líder da bancada parlamentar do CDS na Assembleia Municipal de Coimbra e militante do partido “há mais de 40 anos”, também se desfiliou no partido na última segunda-feira.
A professora do 2.º ciclo, que “gosta do que faz” e recorda já ter tido “diferenças de opinião” com Francisco Rodrigues dos Santos e Assunção Cristas – dois ex-líderes do CDS com “quem nem sempre concordei” – critica Nuno Melo que “optou por ignorar quem estava em Coimbra”.
Para além disso, sublinha, houve um “claro incumprimento os estatutos e regulamentos” do partido quando, por exemplo, Nuno Melo nomeou uma “delegada distrital” [Paula Ferreira da Silva] com “funções paralelas” às da distrital que “alertou”, desde 2022, para a “necessidade” de eleições internas que “só podem ser marcadas pela direção nacional”.
"Coimbra esteve sem estruturas concelhias durante três anos e distritais durante dois anos, por simples falta de convocatória para as respetivas eleições"
Jorge Alexandre Almeida
“Há uma deriva ultraconservadora no CDS com a qual não me identifico. Há uma opacidade e falta de democraticidade. É um clube de amigos. Já não existe liberdade. Há uma visão muito ultraconservadora do papel da mulher. No referendo sobre o aborto, por exemplo, votei sim. Não deixei de ser do CDS por causa disso. O que existe agora é uma matriz ultraconservadora, basta ver as últimas ideias sobre a IVG”, acentua Helena Mendes.
Tal como Jorge Alexandre Almeida, também Helena Mendes vai continuar na Assembleia Municipal de Coimbra como “independente” a apoiar José Manuel Silva. E o mesmo “farei como cidadã” na recandidatura que “espero não seja boicotada” pelos atuais dirigentes locais “que em 2021 se opuseram à coligação”.
Para além de Jorge Alexandre Almeida e Helena Mendes também José Pinheiro de Castro, independente eleito pelo CDS, deixa de representar os centristas na Assembleia Municipal de Coimbra – que ficam reduzidos a um deputado municipal: Margarida dos Santos Pocinho.
A distrital liderada por Paula Ferreira da Silva, médica ortopedista, eleita presidente no dia 8 de fevereiro, e que tem, como diz o CDS, “a responsabilidade de reorganizar as estruturas locais e unir os militantes”, apurou o DN, já “manifestou apoio” do partido à recandidatura de José Manuel Silva.
Fontes da direção nacional do CDS garantiram também ao DN “não estar em causa o apoio” a José Manuel Silva “nem o acordo com o PSD” na coligação.
O mesmo já fez Paulo Leitão, deputado e líder da distrital do PSD, disse fonte social-democrata ao DN, após a confirmação de que o presidente da Câmara de Coimbra foi acusado pelo Ministério Público dos crimes de “peculato e falsificação de documento” - enquanto bastonário da Ordem dos Médicos.
José Manuel Silva, em declarações ao DN, já confirmou, por seu lado, que será “recandidato” à presidência da Câmara de Coimbra considerando que o processo ”não tem fundamento jurídico válido”.
O autarca, que refuta uma acusação que diz ser “totalmente injusta e infundada”, considera-se alvo de “uma campanha de claras motivações políticas, que visa manchar a minha reputação e desviar o foco do trabalho que desenvolvi e desenvolvo em prol do interesse público. A queixa é de 2019. Saí da Ordem em janeiro de 2017. E fui eleito vereador nas autárquicas desse ano. Todos sabiam que em 2021 seria candidato. E fui".
O que falta esclarecer? A posição oficial da direção nacional do PSD.
A Comissão Política Nacional do partido decidiu a 11 de dezembro de 2024 que “os candidatos do PSD [às eleições autárquicas] deverão apresentar uma conduta irrepreensível, garantindo que as suas ações não comprometam a idoneidade pessoal nem a do Partido. Este princípio assegura que os representantes do partido mantenham a confiança pública, refletindo os valores de ética, integridade e responsabilidade”.
As escolhas dos candidatos, definida como estratégica” e que não distingue “princípios diferentes” para Juntas de Freguesia ou para Câmaras Municipais, exige regras de “qualidade”, de “prioridade” e “ética” definindo a opção por “candidatos com experiência, capacidade de liderança e ligação real às suas comunidades”, o que significa também um travão a ambições de líderes de concelhias, que por o serem “podem pensar que são os melhores candidatos, mesmo não o sendo” – neste caso o candidato é independente.
A orientação política “estratégica” para as autárquicas estabelece que o partido “não vai permitir” candidatos autárquicos “acusados” pela justiça. E é isso que oficialmente e publicamente ainda está por clarificar.