Augusto Santos Silva exclui-se da corrida a Belém
"Não serei candidato." Em entrevista à RTP1, esta quarta-feira, dia 2 de julho, o antigo presidente da Assembleia da República desfez o tabu sobre a sua candidatura à Presidência da República, um anúncio que já estava prometido desde sexta-feira da semana passada.
"Cheguei à conclusão de que a minha candidatura não seria suficientemente abrangente para ser suficientemente forte e, em consequência, que a melhor candidatura possível é a candidatura de uma personalidade independente, oriunda da sociedade civil, que possa colocar em cima da mesa os temas que nós temos de discutir na campanha presidencial", defendeu o socialista, antes de elencar aquilo que considera ser a função do chefe de Estado.
"A função do Presidente como moderador, árbitro e para o equilíbrio dos poderes, sem ficarmos pelas generalidades. A função do Presidente enquanto órgão máximo de representação externa do país, o que obriga a pensar bem, para além dos chavões, o posicionamento de Portugal na Europa e no mundo. E, sobretudo, a função do Presidente de garante da Constituição, isto é, da defesa do Estado de Direito e da Democracia, hoje tão ameaçada por esse vírus de ódio que anda a lastrar por nosso tecido social, infelizmente", destacou.
Questionado sobre o motivo pelo qual conclui que a sua candidatura não seria abrangente, Santos Silva considerou que seria "seria divisiva".
"Foi a conclusão dos contactos que eu fiz, verifiquei que não tem a capacidade de agregação que é necessária."
Sobre um eventual apoio à candidatura de António José Seguro, o antigo presidente do Parlamento disse que "não está fora de hipótese nada. Até porque as eleições presidenciais têm, à luz da lei, a possibilidade de haver uma primeira volta e uma segunda volta."
Numa nota que deixara no Facebook, na sexta-feira da semana passada, Santos Silva considerou que se tem "interrogado sobre o assunto – que as três candidaturas até agora formalmente apresentadas não esgotam nem o espaço político nem as propostas e perfis que devem estar representados nas eleições presidenciais do próximo mês de janeiro."
Lamentando a saída de António Vitorino da corrida à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa, o antigo presidente do Parlamento disse sentir-se obrigado "a uma nova reflexão sobre o quadro de candidaturas presidenciais possíveis, incluindo a eventual apresentação" da sua própria candidatura. Esta reflexão, porém, acabou por ser no sentido de não se candidatar.
"Se tudo correr normalmente, e considerando os meus próprios afazeres profissionais, tenciono comunicar publicamente a decisão que tomar na próxima quarta-feira, 2 de julho", afirmou.
Em dezembro de 2024, Augusto Santos Silva, num ensaio publicado no Expresso, deixou, num tom prescritivo, uma série de linhas condutoras de como deve ser um Presidente da República, defendendo que, no exercício dessa função, "por si só, o egocentrismo constitui impedimento inultrapassável".
"O mesmo se diga de qualquer inclinação caudilhista. Quem reclame ser a voz do 'povo' contra os 'políticos', qual anjo vingador da 'pureza' contra a suposta degradação da vida pública, quem pretenda ser investido de autoridade suprema sobre o conjunto das instituições (nelas incluídas os partidos), só demonstra incompreensão do papel presidencial. Não merece confiança", rematou, antes de sublinhar que o chefe de Estado "serve a Constituição, não o contrário".