André Ventura quer acordo com AD e IL. Maioria de direita é "oportunidade única" para mexer na Constituição
Um Parlamento com uma maioria de direita é uma "oportunidade única" que não deve ser desperdiçada para rever a Constituição. A convicção é de André Ventura, presidente do Chega, deixada esta sexta-feira em conferência de imprensa na sede nacional do partido, em Lisboa.
Para poder chegar a um entendimento com a PSD, IL e CDS-PP, o líder do Chega anunciou que vai propor "já amanhã" [sábado] uma "plataforma de entendimento" sem o PS.
Ainda que reconheça que a revisão constitucional "não é uma prioridade" para quem votou no Chega, tal não significa que não se deva mudar a Lei Fundamental para rever o "quadro penal, passando Portugal a fazer parte do grupo de países que incluem prisão perpétua".
"É hora de deixarmos de ser os mansos da Europa", atirou, acrescentando que é também "tempo de ter coragem" para "reduzir o número de deputados no Parlamento". Para quantos, exatamente, o líder do Chega não especificou, mas deu o exemplo dos Países Baixos, "que tem menos população que Portugal" e também menos deputados (entre as duas câmaras, o total são 225, menos cinco do que em Portugal). "Os partidos, incluindo o Chega, têm de ter coragem", referiu. Abdicar desta mexida "não está" em cima da mesa para o partido, garantiu o presidente do Chega.
Para Ventura, a revisão constitucional deverá ainda garantir que a lei passa a ser "neutra" e que deixa cair termos como os "latifúndios ou minifúndios", bem como o "abrir caminho para uma sociedade socialista" que consta no preâmbulo. "O país mudou desde 1976, as pessoas mudaram. Queremos um país livre, de liberdade", reiterou.
Esta é assim "uma oportunidade única para fazer reformas", sendo o "teste do algodão para a AD".
A "proteção" às pessoas de etnia cigana "tem de acabar"
Em relação ao inquérito aberto pelo Ministério Público (MP) por declarações de André Ventura feitas durante a campanha eleitoral sobre pessoas de etnia cigana, o presidente do Chega reforçou que a abertura ocorreu por "queixas" de associações de proteção desta etnia e não por iniciativa do MP ou da PJ.
É no entanto "impossível não denotar" que estas associações ficaram "em silêncio" quando a comitiva do Chega foi "ameaçada e atacada" durante a campanha eleitoral tendo mesmo, nas palavras de Ventura, "colocado em risco a integridade física" ao ser cuspido, ofendido e atacado "com morteiros" e pirotecnia.
Durante a campanha para as legislativas, as ações do Chega em vários distritos ficaram marcadas por encontros com pessoas de etnia cigana que se manifestaram ("sem autorização", na opinião de Ventura) para criticar a comitiva do partido.
Na opinião do presidente do Chega, Portugal "tem dado proteção constante" a estas pessoas e isso tem de mudar. "Chega de proteção, que não se compreende, tivemos o maior índice de ameaças na campanha", reforçou, acrescentando: "Há sempre coitadinhos."
Referindo que "aceita" o inquérito aberto pelo MP, André Ventura disse ainda "confiar na justiça", que seguirá "o seu caminho". Mas, garantiu, "há que acabar com este regime de quase excecionalidade" das pessoas de etnia cigana. "A lei tem de ser para todos. Uma comunidade que está no nosso país há 500 anos tem de estar adaptada e não se pode reger pelas suas próprias leis", rematou.