Rui Tavares e Inês de Sousa Real travaram esta terça-feira um duelo para as legislativas mais marcado por aquilo que os aproximava do que por aquilo que os separava.
Rui Tavares e Inês de Sousa Real travaram esta terça-feira um duelo para as legislativas mais marcado por aquilo que os aproximava do que por aquilo que os separava.Foto: DR

A mesma ecologia em diferentes perspetivas: Sousa Real preocupada com a alimentação e Tavares com a mobilidade

O porta-voz do Livre afirmou sobre a oponente que era "mais aquilo que" os unia do que o que os separava, mas a porta-voz do PAN lembrou a ausência de iniciativas no Livre sobre ambiente ou ecologia.
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"A questão está na visão que temos da ecologia", destacou esta terça-feira o porta-voz do Livre, Rui Tavares, no frente a frente que o opôs à porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real. O objeto do confronto começara com a observação de Inês de Sousa Real de que "o Livre, com quatro deputados, em 11 meses não agendou nenhuma iniciativa, por sua iniciativa própria, sobre ambiente ou ecologia".

No debate para as legislativas, que nesta terça-feira – que também era o Dia da Terra – foi acolhido pela RTP 3, o moderador lançara o desafio aos dois oponentes políticos de destacarem o que os separava.

"É é uma pergunta ingrata, porque é mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa", lançou Rui Tavares, observando que o desafio lançado configurava "aquela pequena diferença que obscurece todos os partidos que são da ecologia e do progresso", e que acaba por resultar em "800 mil votos que se perderam".

Para Rui Tavares, o "Livre tem uma ecologia que alarga e não afunila" e que passa por uma "visão de um desenvolvimento futuro do país", até porque, afirmou, "Portugal é um país rico" também "na sua capacidade de transição tecnológica e ecológica".

Com esta ideia em mente, Rui Tavares lembrou que o PAN não acompanhou o seu partido "na criação de uma Hidrogénios de Portugal", uma iniciativa do Livre para criar uma agência pública do hidrogénio.

Reforçando a ideia de que Portugal é "um país rico com as suas conexões com o mundo", "na sua biodiversidade", "na força de trabalho", o porta-voz do Livre diz que Portugal é também "dominado por um dinheiro fácil" que surge do "turismo de massas", das "imobiliárias de luxo" e dos "esquemas nos jogos online".

Por este motivo, a "perspetiva do Livre é explicar à pessoas como a ecologia é dínamo que nos permite passar para um modelo de desenvolvimento" assente na gestão do Estado Social.

No rasto deixado por esta ideia e com outro desafio lançado pelo moderador do debate, Rui Tavares falou ainda na iniciativa do Livre que passa por criar o Serviço Nacional de Habitação, argumentando que o partido não quer "que aconteça o que aconteceu com Sócrates" e que está "a acontecer com Luís Montenegro", que é "gastar a almofada orçamental antes de uma crise global".

No contra-ataque polido, que caracterizou o debate, Inês de Sousa Real, para além de destacar a "oportunidade perdida" pelo Livre ao não defender, ao longo desta legislatura "iniciativas sobre ambiente ou ecologia", lembrou que o partido de Rui Tavares não "concorda com a garantia jovem" na habitação e com "medidas complementares" defendidas pelo PAN, como o "regime bonificado" no acesso a crédito à habitação, "para que todos possam sonhar em ter casa própria".

Sem se distanciar muito do oponente, Inês de Sousa Real optou por destacar as medidas defendidas pelo PAN para a habitação.

"Acabemos com o regime de residentes não habituais", apelou, recordando que esta medida "todos os anos tira aos cofres do estado mil milhões de euros".

Para a deputada única do PAN, "acabar com estes mil milhões de euros", que, destacou, "contribuem para a especulação", iria contribuir para "o financiamento das cooperativas de habitação".

Argumentando que Portugal tem "os jovens com mais dificuldade de sair de casa dos pais", a líder do PAN defendeu a reabilitação "de 10 mil fogos do Estado", para que estas casas sejam colocadas "no mercado da habitação".

Sem grandes discordâncias, tanto Rui Tavares como Inês de Sousa Real escolheram destacar as medidas que defendem também para a energia.

Por parte do porta-voz do Livre, a "ecologia" acompanha as iniciativas do partido "quando propõe uma rede de transportes elétricos escolares em zonas de baixa densidade", que "também permitam trazer a "causa social, causa de coesão".

Com a defesa da ideia de que a ecologia "não pode ser de nicho", Rui Tavares atacou a medida do PAN para a habitação, afirmando que na "garantia jovem" o "Estado é fiador de crédito mal parado", enquanto "na ajuda de casa, o Estado é coproprietário com o Jovem", criando regras na eventualidade de "arrendamento ou venda" dos imóveis e com a garantia "de reserva de capital".

Inês de Sousa Real destacou uma bandeira do PAN que passa pelo "combate à pobreza energética".

"Conseguimos abranger mais de 200 mil famílias na tarifa social da energia", lembrou, acrescentando que, em relação aos transportes, o partido pretende que haja "passes sociais gratuitos".

No que diz respeito ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), Inês de Sousa Real defendeu "o conceito de uma só saúde": saúde humana, animal e do planeta.

Sobre humanos, a líder do PAN lembrou que o 'P' no partido significa "pessoas", motivo pelo qual quer que haja "um médico para cada 500 jovens", para além de propor "estratégias de combate à solidão".

Inês de Sousa Real considerou também "indigno" que doentes oncológicos "não tenham a baixa médica paga a 100%".

Na parte relativa aos animais, a líder do PAN lembrou que Portugal tem "mais de 50% dos lares com animais de companhia" e que "há pessoas que deixam de comprar alimentos ou medicação para comprar" comida para cuidar dos animais.

Por este motivo, Inês de Sousa Real defendeu que o PAN quer "um SNS animal", "cuja verba seja canalizada do fim dos apoios públicos para as touradas", tendo em que conta que, afirmou, "é imoral que governos como os da AD" permitam apoios de "18 milhões de euros" para o setor das touradas.

Inês de Sousa Real, questionada sobre a medida defendida pelo partido para que as segundas-feiras não tenham alimentação com carne no Parlamento, alertou para a necessidade de reduzir emissões de gases com efeito de estufa e criar hábitos saudáveis também para combater as alterações climáticas.

Acompanhada por Rui Tavares no que diz respeito a violência doméstica, Inês de Sousa Real lembrou que, "como deputada, como mulher e como líder dum partido que tem 'p' no nome", Portugal não pode ter "uma guerra dos sexos", uma "guerra silenciosa" que implica "34 mil denúncias todos os anos".

Deixando um apelo ao combate à violência doméstica, a líder do PAN referiu um "aumento de 10% nos crimes de violação", que teve como resultado "pessoas reais que ficam com as vidas destruídas".

Neste tema, Inês de Sousa Real disse continuar a luta para que o crime de violação seja considerado público e para que sejam nomeados advogados às vítimas destes crimes logo que haja denúncias.

Rui Tavares disse acreditar "que este combate tem de ser feito de forma unida pelo país" com o objetivo de "erradicar este flagelo".

Desviando a atenção para medidas do Livre, Rui Tavares recordou o "acesso ao subsídio de desemprego por parte das vítimas de violência doméstica", tendo em conta que a "violência doméstica está muitas vezes acompanhada por uma situação de vulnerabilidade financeira".

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