Sindicatos das forças de segurança acusam Montenegro de travar diálogo
O primeiro-ministro garantiu esta terça-feira que o Governo não vai acrescentar “nem mais um cêntimo” à proposta de valorização do subsídio de risco da PSP e da GNR, que, de acordo com o Executivo liderado por Luís Montenegro, passaria dos atuais 100 euros para 400 euros, de forma faseada até 2026 (uma subida de 300 euros), justificando que não acompanharia os sindicatos para não “trazer de volta a instabilidade financeira, o sofrimento para todos só para cumprir o interesse particular de alguns”. Os sindicatos exigem mais 100 euros por mês do que o Governo propõe, isto é, um aumento total de 400 euros, e já está “no limiar mínimo”, disse ao DN o porta-voz da plataforma dos sindicatos da PSP e das associações da GNR, Bruno Pereira.
Assumindo “uma imensa tristeza” face às declarações de Luís Montenegro, Bruno Pereira prometeu ser inflexível com o Governo: “nem menos um cêntimo.”
“Penso que as declarações do senhor primeiro-ministro tiram qualquer margem à senhora ministra [da Administração Interna, Margarida Blasco] para negociar seja o que for”.
Para o representante sindical da PSP e GNR, os sindicatos têm feito várias cedências “com toda a razoabilidade” e “não foi só no valor”.
“Admitimos esses 400 euros [a proposta inicial era de 600 euros] como o mínimo dos limiares. Admitimos também o pagamento faseado e até admitimos negociar a retroatividade”, continuou Bruno Pereira, vincando que Montenegro impôs um limite ao esforço que pode fazer para valorizar as carreiras das forças de segurança, “desconhecendo as condições socioeconómicas que”, espera, “sejam muito melhores daqui a 1, 2 e 3 anos”.
“É uma questão de prioridades políticas”, acusou.
Questionado sobre como vão decorrer as negociações com o Governo a partir de agora, e com uma reunião agendada com Margarida Blasco para dia 9 de julho, Bruno Pereira diz que não sabe.
“Qual é a motivação e a esperança depois de tudo isto”, pergunta, de forma forma retórica, ensaiando uma resposta por parte do Governo. “O que o primeiro-ministro fez foi transferir totalmente o ónus e o encargo para a Assembleia da República”, sublinhou, lembrando que amanhã será debatido o projeto de lei do Chega que é um “decalque” da proposta das forças de segurança, com uma exceção: a indexação dos suplementos de missão da PSP e da GNR ao vencimento mais alto da tabela da Polícia Judiciária, com a qual os sindicatos discordam.
“O Governo, assumindo esta posição, irá dar mais força e sentido à discussão pública na Assembleia da República”, conclui.
Esta terça-feira, na comemoração do 157.º aniversário da PSP, a ministra da Administração Interna elogiou a postura dos sindicatos das forças de segurança face ao empenho que têm demonstrado em chegar a um acordo com o Governo. “Este posicionamento é uma postura que merece todo o nosso respeito e o Governo está disponível para discutir até ao final este acordo”, afirmou.
Confrontado com as declarações de Margarida Blasco e de Luís Montenegro, o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, Paulo Jorge Santos, ao DN, classificou as palavras do primeiro-ministro como “precipitadas”.
“Deveria deixar que no dia 9 o Governo ouvisse o que os sindicatos têm para acrescentar, e de certa forma deixar que o Ministério da Administração Interna se pronunciasse”, justificou, garantindo que a polícia vai estar na reunião “no sentido construtivo de melhorar não só a condição dos polícias, mas também melhorar a realidade do funcionamento da PSP, que está nas lonas, que está um caos, que não funciona, que só sobrevive”.
André Ventura, esta terça-feira, dois dias depois de apelar a que as forças de segurança se dirigissem ao Parlamento no dia do debate em torno do projeto de lei do Chega para valorizar as carreiras da PSP e da GNR, acusou Luís Montenegro de “arrogância” e falta de “sensibilidade” por não cumprir a promessa de “resolver um problema que o anterior Governo criou”. “Esta é uma injustiça histórica criada pelo anterior Governo e que a direita tinha o dever de resolver”, defendeu.
O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, mostrou-se esta terça-feira preocupado por não haver acordo entre o Governo e as forças de segurança e criticou Montenegro por não cumprir promessas eleitorais, lembrando que o atual primeiro-ministro disse “que em pouco tempo resolveria a situação com as forças de segurança. Aquilo a que estamos a assistir é ao fracasso desse anúncio”, destacou.
O Presidente da República mostrou-se esperançoso de “que continue o espírito de diálogo e de compreensão”. Para Marcelo Rebelo de Sousa, “as forças de segurança são um exemplo de dignidade cívica, de responsabilidade ao serviço da segurança e das pessoas”, pelo que, “haverá oportunidade de continuarem a falar com responsáveis políticos.”