Rita Júdice não reagiu à “perplexidade” de Lucília Gago quanto às críticas da ministra ao Ministério Público.
Rita Júdice não reagiu à “perplexidade” de Lucília Gago quanto às críticas da ministra ao Ministério Público.Paulo Spranger/Global Imagens

Silêncio é a resposta mais sonante à acusação de campanha contra MP

Governo, Presidente, PSD e PS fizeram por ignorar entrevista de Lucília Gago. Entre os partidos que reagiram, Chega e Iniciativa Liberal destoaram das críticas à procuradora-geral.
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A denúncia de uma “campanha orquestrada” contra o Ministério Público, feita pela procuradora-geral da República, Lucília Gago, em entrevista à RTP1, obteve silêncio como resposta do Governo, da Presidência da República e dos dois maiores partidos. E em particular da ministra da Justiça, Rita Júdice, que se recusou a comentar as declarações da principal responsável pelo Ministério Público (MP), que na noite de segunda-feira confessou ter ficado “incrédula e perplexa” com as críticas da responsável pela tutela.

“Ouvi as declarações e fiquei algo incrédula e perplexa. São indecifráveis e graves. Indecifráveis porque disse que o diagnóstico estava feito. E não mo disse numa audiência de três horas, que teria sido uma ocasião ótima para o fazer. Graves porque diz que o MP tem uma situação de falta de liderança, de falta de capacidade de comunicação e que precisa de arrumar a casa. Rejeito essas críticas”, disse Lucília Gago à RTP1, numa altura em que se aproxima o final do seu mandato, sendo evidente que não será reconduzida.

Também não houve reação do Presidente da República, após a procuradora-geral ter manifestado desagrado com os comentários de “maquiavelismo”, proferidos por Marcelo Rebelo de Sousa, a propósito de o processo do caso das gémeas luso-brasileiras, que terão tido tratamento preferencial no Serviço Nacional de Saúde após uma intervenção do primogénito do chefe de Estado, ter sido aberto a 7 de novembro. Justamente o dia em que Lucília Gago foi recebida em Belém para dar conta da Operação Influencer, e em particular do inquérito que envolve o então primeiro-ministro, António Costa.

Da parte do PS, que tem sido particularmente crítico da atuação de Lucília Gago - ao ponto de Pedro Nuno Santos exigir explicações da procuradora-geral pela divulgação de escutas que envolviam António Costa -, reinou o silêncio, à exceção de um texto da deputada Isabel Moreira, publicado nas redes sociais. As palavras ficarão guardadas até à audição da procuradora-geral na Assembleia da República,  que ainda está por marcar.

Com o PSD também a optar pelo silêncio, coube ao líder parlamentar do CDS-PP, Paulo Núncio, dizer que muitas questões “ficaram em aberto” na entrevista, sobretudo a identidade de quem estará envolvido na “campanha orquestrada”. O centrista instou Lucília Gago a esclarecer tal ponto na sua audição parlamentar e defendeu a ministra da Justiça, referindo-se a uma interpretação “exagerada” das declarações de quem defende “um novo ciclo”, até porque haverá “uma pessoa diferente” à frente do MP.

Já os presidentes do Chega e da Iniciativa Liberal, André Ventura e Rui Rocha, coincidiram no apoio a Lucília Gago, ainda que ambos tenham defendido que deveria ter falado antes. Subscrevendo a ideia da “campanha orquestrada para dar a ideia de que há uma nova PIDE”, Ventura disse que as críticas de Rita Júdice ao Ministério Público deixaram a independência da Justiça “fortemente em causa”, acrescentando que “caiu a ideia” de que o último parágrafo do comunicado sobre a Operação Influencer  teve intenções políticas.

De igual modo, Rui Rocha considerou “razoáveis” os motivos para a inclusão da referência à investigação ao alegado envolvimento de António Costa. “Já ninguém acredita nessa teoria do golpe de Estado”, disse, embora tenha sido crítico quanto a práticas do MP, como as escutas realizadas ao longo de anos e detenções prolongadas durante vários dias.

Mais negativas foram as reações à esquerda. O líder parlamentar bloquista, Fabian Figueiredo, lamentou a “postura” da procuradora-geral, dizendo que “deve esclarecer a acusação grave” da existência de uma campanha contra o MP, enquanto Paulo Muacho, deputado do Livre, acusou Lucília Gago de “encarar com toda a normalidade” as escutas e detenções prolongadas. O comunista António Filipe realçou que a audição parlamentar ainda faz agora mais sentido e a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, apontou “falta de autocrítica”, nomeadamente quanto às escutas, e “incapacidade de gestão” à procuradora-geral.

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