Relatórios de criminalidade contrariam teoria de "problemas de imigração sérios"
Nem seis horas depois do crime [a PJ haveria de dizer passadas 24 horas que se estava "perante um crime de natureza comum, de delito comum (...) um surto psicótico do agressor"] e André Ventura já exigia do ministro da Administração Interna "todas as explicações (...) saber se a guerra entre sunitas e xiitas pode ou não estar a ser importada para Portugal (...) a necessidade imperiosa de um controlo rigoroso de cidadãos oriundos de alguns estados falhados, ou estados onde impera a violência (...) que foi esta política de portas abertas, de nenhum controlo que se traduziu neste resultado".
E o resultado foi o "ato isolado" [a morte de duas mulheres e um ferido no Centro Ismaili, em Lisboa] que, nas palavras repetidas de Marcelo Rebelo de Sousa, "sendo um caso isolado, não vale a pena estar a generalizar porque é injusto e é precipitado" e que Luís Neves, diretor da PJ, sublinharia dizendo não haver "um único indício, um único sinal", depois várias diligências até internacionais, de que estivesse perante a "radicalização religiosa de uma pessoa".
Na criminalidade geral mais de metade dos crimes são contra o património (50,7%) e 25% contra as pessoas. Dos 16 crimes que representam quase 70% da criminalidade participada nenhum surge relacionado com a "política de portas abertas" - violência doméstica (mais de 26 mil casos), condução de veiculo com taxa de álcool superior a 1,2 gl (mais de 22 mil casos) e ofensa à integridade física voluntária simples (mais de 21 mil) são os crimes que mais se destacam.
O Relatório Anual de Segurança Interna de 2022 (RASI), que identifica na criminalidade grave e violenta um aumento de 14,4%, coloca o roubo na via publica como o mais praticado (+ 21,1%), seguido da extorsão (+ 49,9% de casos) e da violação com uma subida de 30,7%.
O homicídio voluntário consumado, onde se enquadra, pela informação já conhecida, o que aconteceu no Centro Ismaili, em Lisboa representou no ano passado 97 casos - tinham sido 85 em 2021.
Ou seja, diz fonte da segurança interna, "nada tem a ver com imigração e terrorismo. É somente um discurso de ódio [expressão já usada pela ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares] sem qualquer ligação à realidade. É falso".
O Chega considera, por seu lado, que tem havido "uma série de episódios nos últimos meses de cenários e casos que mostram que a excessiva flexibilização de entrada têm levado a problemas muito sérios nos consulados, problemas de segurança sérios e problemas de imigração sérios" atribuindo "responsabilidades" ao Presidente da República e ao Governo que "patrocinaram estas receções [de imigrantes] durante os últimos anos".
"O tema do debate não surpreende porque o Chega faz aquilo que está na cartilha do autoritarismo: usar os instintos do medo e a figura do estrangeiro para dominar as conversas e um dia aceder ao Poder e não mais o largar", afirma Rui Tavares, historiador e deputado do Livre.
"A questão principal", acentua, é que "há muito que já não é o Chega, mas quem está disposto a dar-lhe a mão. Já há muito que se espera e desespera por ver o PSD sair em nome da defesa da democracia com um programa de rejeição total ao Chega. Infelizmente isso ainda não aconteceu, a cada nova indignidade do Chega o silêncio e a ambiguidade do PSD ficam também mais indignos".
Neste caso em particular, o do Centro Ismaili, em Lisboa, o líder do PSD pediu um "apuramento cabal de todos os contornos desta situação, de modo a podermos tranquilizar o povo português no que diz respeito à nossa segurança e a afastar eventuais cenários de uma criminalidade mais violenta e que possa ter algum contacto com qualquer atividade terrorista ou alguma rede terrorista".