Marcelo condena "precipitadas" suspeitas de terrorismo
Ao contrário dos restantes partidos, os líderes de PSD e Chega, colocaram o cenário de "atividade terrorista" nos esclarecimentos pedidos às autoridades após refugiado de origem afegã ter morto à facada duas pessoas no Centro Ismaili. "É injusto e precipitado", diz o Presidente.
"Não tinha qualquer sinalização que justificasse alerta de segurança", "não havia registos de qualquer sinal de violência", "era discreto", "com fácil relação com a comunidade", "terá distúrbios emocionais, talvez psicológicos" porque "viu muita coisa má" - em particular a morte da mulher num campo de refugiados, na Grécia - antes de ter chegado a Portugal em finais de 2021.
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O "perfil" traçado por fontes locais e policiais [e o relato do crime] coincide com o retrato dos autores do crime de homicídio voluntário doloso verificado no Relatório de Segurança Interna: "Uma maior expressão em autores do sexo masculino, no qual existe relação de vizinhança/conhecimento entre autor e vítima e a utilização preferencial de arma branca e de fogo como instrumento do crime".
Só que este perfil de "fácil relação" já tinha um passado: "Ameaças às três vítimas", refere fonte policial ao DN.
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© Leonardo Negrão / Global Imagens
As "desavenças", ainda não explicadas, levaram Abdul Bashir, de 34 anos, que vive em Odivelas com os três filhos, e que tinha aulas de português e recebia refeições do Centro Ismaili, a atacar "com uma faca de grandes dimensões" duas mulheres e um homem. As duas mulheres, de nacionalidade portuguesa, uma com 25 anos e a outra com 49, morreram. O homem, um professor, "com ferimentos no peito e no pescoço", está internado no Hospital de Santa Maria.
Ainda está por esclarecer o "telefonema" que o afegão recebeu "minutos antes de esfaquear o professor" tendo depois ido para as "outras salas" onde acabou por matar as outras duas vítimas.
"Permanece a dúvida quanto à motivação. É refugiado e estava a ter aulas de Português no Centro. Após uma chamada telefónica entrou numa espiral de violência, esfaqueando as senhoras e o professor, tentando ainda outra", refere fonte policial.
Por esclarecer, ainda, a "discussão" que teve com as duas mulheres antes de as esfaquear.

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"Beneficiário de estatuto de proteção", este homem e os três filhos [de 4, 7 e 9 anos] vieram para Portugal ao abrigo da cooperação europeia e tem permanecido no país "com uma vida bastante tranquila", beneficiando do apoio da comunidade ismaelita.
Ainda antes do ministro da Administração Interna dizer que "tudo leva a crer que se trata de um ato isolado" e que era necessário "evitar análises precipitadas", já Marcelo Rebelo de Sousa, num breve comunicado de dois parágrafos, dizia que "tal como declarado pelo primeiro-ministro, as primeiras indicações apontam para um ato isolado".

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Horas depois, numa visita ao Centro Ismaili, Marcelo disse ser "claro que é um ato isolado, com motivações psicológicas de uma determinada pessoa com um determinado quadro pessoal e familiar (...) Sendo um ato isolado e tendo atingido uma comunidade muito pacífica (...) Espero que os portugueses não façam generalizações".

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António Costa, que estava nas Jornadas Parlamentares do PS, começou por "registar a pronta intervenção da PSP" alertando ser "obviamente prematuro fazer qualquer interpretação sobre as motivações deste ato criminoso. Devemos aguardar que as autoridades procedam às necessárias investigações".
"Já tive a oportunidade de falar com o doutor Nazim Ahmad [representante da comunidade Ismaelita em Lisboa] que me deu uma explicação, mas, naturalmente, cabe às autoridades fazer agora a investigação e a caracterização", afirmou o primeiro-ministro.
"Até agora, tudo indica que foi um ato isolado. Mas não nos vamos antecipar ao trabalho das autoridades. Este é o momento de recolhimento, de pesar pela perda de duas vidas humanas e de expressar solidariedade à comunidade", acrescentou.

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De acordo com a direção nacional da PSP, os primeiros agentes [da Equipa de Intervenção Rápida da 3.ª Divisão da PSP de Lisboa] chegaram ao local um minuto depois e "depararam-se com um homem armado com uma faca de grandes dimensões. Foram dadas ordens ao atacante para que cessasse o ataque, ao que o mesmo desobedeceu, avançando na direção dos polícias, com a faca na mão".
Face a esta "ameaça grave", os agentes dispararam contra o atacante, "atingindo [nas pernas] e neutralizando o agressor" que foi levado para o Hospital de São José.

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O caso foi condenado por todos os partidos - "ataque vil", "crime hediondo" e "ato chocante" foram algumas das expressões utilizadas -, mas houve uma separação nas leituras. Montenegro e Ventura, ao contrário dos restantes líderes partidários, colocaram a questão "terrorista" na abordagem que fizeram ao caso.
"Espero que as autoridades possam ser muito rápidas no apuramento cabal de todos os contornos desta situação, de modo a podermos tranquilizar o povo português no que diz respeito à nossa segurança e a afastar eventuais cenários de uma criminalidade mais violenta e que possa ter algum contacto com qualquer atividade terrorista ou alguma rede terrorista (...) e que se possam tomar também medidas para diminuir a criminalidade violenta que, infelizmente, tem vindo a aumentar em centros urbanos como Lisboa", afirmou o líder do PSD.
André Ventura, por seu lado, disse ser necessário "ver se [este caso] tem alguma que ver com terrorismo ou com alguma espécie de ligação religiosa ou política (...), se a guerra entre sunitas e xiitas pode ou não estar a ser importada para Portugal ".
"Há responsabilidades, quer do Presidente da República, quer do Governo que patrocinaram estas receções durante os últimos anos", acusou.
As palavras de Pedro Vaz Patto, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, organismo da Igreja Católica, quase que sintetizam as reações de todos os outros: "Não há nenhum motivo para associar este ato à própria comunidade [ismaelita], que se distingue pela sua abertura ao diálogo inter-religioso, pela recusa de qualquer extremismo".
Ou, como disse Marcelo: "Não vale a pena estar a generalizar porque é injusto e é precipitado".

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Atualmente, a criminalidade violenta e grave representa 3,9% de toda a criminalidade participada. O número total de participações registadas [no ano passado] foi de 13 281, mais 1667 que em 2021, o que corresponde um aumento de 14,4%. Os crimes, registados, de ofensa à integridade física voluntária grave aumentaram de 629 para 741. O homicídio voluntário consumado subiu dos 85 para os 97 casos.

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