Referendo. PAN não quer portugueses “reféns do lobby da tauromaquia”
É discutido esta sexta-feira no Parlamento o projeto de resolução do PAN que tem como objetivo levar a que portugueses se pronunciem sobre a possibilidade de abolir as touradas. Ao DN, a deputada única do partido, Inês de Sousa Real, questionada sobre o motivo do referendo, argumentou que “a larga maioria dos portugueses, mais de 60%, é contra as touradas. Não nos faz sentido que continuemos a estar reféns do lobby da tauromaquia e do lobby da caça para que estes passos não sejam dados”, atirou.
As sete páginas do projeto de resolução do PAN evocam estudos académicos, sondagens, legislação e exemplos de outros países para que seja dado este passo de acabar com as touradas, que Inês de Sousa Real classifica como um “progresso civilizacional”.
Com argumentos esgrimidos também do outro lado da trincheira, neste caso protagonizado pela ProToiro (Federação Portuguesa de Tauromaquia), Inês de Sousa Real ainda revela que tem uma carta na manga se o Parlamento não concordar com o PAN: “Iremos lançar a mesma iniciativa por via da Iniciativa Legislativa de Cidadãos, porque o próprio referendo pode ser proposto por parte dos cidadãos e das cidadãs portuguesas.”
“À partida, vai ser rejeitada, mas o caminho faz-se caminhando e não desistimos, não baixamos os braços e continuamos a sensibilizar a sociedade para tudo isto”, garantiu.
Confrontada com uma das ideias mais evocadas pelos defensores das touradas, a de que não haveria touros se não fosse o investimento motivado pela tauromaquia, Inês de Sousa Real rebate-o.
“Nós não torturamos o lince ibérico, nem o lobo ibérico, para manter a sua raça. Já nem falando que, se existe amor à raça, se existe essa paixão pela raça do touro do lide, podem perfeitamente continuar com o apuramento da raça, através dos apoios que existem da política agrícola comum”, esclareceu.
De acordo com um comunicado da direção da ProToiro, a que o DN teve acesso, “a tauromaquia é responsável pela preservação desta raça brava, evitando a sua extinção, que por sua vez preserva o montado e a sua envolvente, não havendo, por exemplo, registo do incêndios”.
Para além disto, ao DN, o presidente da ProToiro, Francisco Macedo, garante que os ganadeiros, responsáveis pela criação dos animais que são utilizados nas touradas, não recebem “apoios comunitários para a realização de corridas” de touros.
“O que acontece é que o gado bravo não tem nenhum apoio especial. As chamada vacas aleitantes é que têm apoios comunitários”, esclarece, acrescentando que “um agricultor é, por vezes, também ganadeiro”, o que significa que recebe “milhares de euros para a produção de cereais, que é de acordo com os fundos comunitários. E depois esses valores são todos englobados como se fossem para os ganadeiros, para a tauromaquia”, remata.
Questionado com as acusações de violência inerente às touradas, Francisco Macedo afirma que “é um espetáculo em que não há tortura, não há violência nenhuma”.
“Todos nós fomos criados nesse meio e não foi por isso que nos tornámos cidadãos violentos, pelo contrário. Basta ir a uma corrida de touros e ver como é respeitoso o público. É um espetáculo sem incidentes”, garante.