Reações dos partidos. PSD diz que apoios vêm tarde e "perpetuam empobrecimento"
Iniciativa Liberal acusa o Governo de "dar com uma mão aquilo que tirou com duas" e o Chega diz que o pacote de apoios anunciado pelo Executivo é um "tiro de pólvora seca" e um "exercício de propaganda".
O PSD considerou que os apoios anunciados esta sexta-feira pelo Governo "vêm tarde", "são curtos" e "perpetuam o empobrecimento dos portugueses", dizendo que "ignoram completamente a classe média".
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Em declarações aos jornalistas, o líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, começou por dizer que "qualquer apoio às famílias mais vulneráveis é positivo".
"Sendo um apoio positivo, é um apoio que vem tarde. O PSD tem insistido que o Governo já devia ter apoiado mais as famílias", disse.
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Para os sociais-democratas, o Governo está a "perpetuar o empobrecimento dos portugueses, cobra receita fiscal como nunca cobrou e redistribui uma pequena parte".
Questionado se o aumento de 1% para os funcionários públicos é suficiente, o líder parlamentar do PSD considerou que está "muito aquém da perda de poder de compra", defendendo que "devia acompanhar o nível da inflação".
Por outro lado, o líder parlamentar do PSD acusou o Governo de "uma certa hipocrisia" sobre bens os alimentares.
"Quando o PSD apresentou um programa de emergência em setembro, disse que esse apoio tinha de ser dirigido ao cabaz alimentar. Ora, o Governo reconhece agora, passados seis meses, que há problemas com o cabaz alimentar, mas não anuncia nada: não sabemos o que é o acordo com a distribuição e produção e não sabemos que bens vão ter IVA zero", alertou.
Miranda Sarmento disse que o PSD fica "com muitas dúvidas sobre a eficácia da medida", e lembrou que os sociais-democratas propunham, em alternativa, apoio financeiro direto às famílias mais vulneráveis e redução no IRS para a classe média.
Finalmente, sobre o anúncio de que o défice do ano passado ficou em 0,4%, o líder parlamentar do PSD sublinhou "ser importante que o país tenha as contas equilibradas", e que tal deveria ser o normal em todas as situações.
"Mas o caminho para este resultado do défice é totalmente errado. Foi um caminho de aumento da receita fiscal, subiu 5,5 mil milhões de euros acima do estimado no ano passado, e é também conseguido com uma subexecução do investimento público, que devia ter subido 38% e subiu 7,5%", frisou.
"Num momento muito difícil, conseguiu-se este défice com um caminho totalmente errado de empobrecimento", disse.
Foi igualmente anunciado que os funcionários públicos vão ter um novo aumento salarial de 1% este ano e uma subida no subsídio de alimentação.
Chega diz que medidas anuncias pelo Governo são "tiro de pólvora seca"
O presidente do Chega considerou hoje que o pacote de ajudas anunciado pelo Governo para mitigar o aumento do custo de vida é um "tiro de pólvora seca" e afirmou ter "zero confiança" na eficácia das medidas.
"A confiança que temos na eficácia destas medidas é zero", afirmou André Ventura, em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.
Numa primeira reação às medidas de apoio hoje anunciadas pelo Governo, o líder do Chega afirmou que "este programa é um tiro de pólvora seca e é um exercício de propaganda".
André Ventura considerou que estes apoios "esquecem em absoluto a classe média e as empresas" e vão "ser muito pouco, um quase nada para os portugueses" face à "crise efetiva de rendimentos".
"O Governo com a receita adicional que teve tinha o dever hoje de dar muito mais aos portugueses", salientou.
IL acusa Governo de "dar com uma mão aquilo que tirou com duas"
O presidente da IL, Rui Rocha, considerou que as medidas apresentadas esta sexta-feira pelo Governo representam um "orçamento retificativo", acusando o executivo socialista de "dar com uma mão aquilo que tirou com duas ao último dos últimos meses".
"A primeira nota sobre o pacote de medidas tem a ver com o facto de terem passado 90 dias desde que entrou em vigor o Orçamento do Estado para 2023 e, em rigor, aquilo que o ministro das Finanças, Fernando Medina, apresentou hoje é um orçamento retificativo", sustentou Rui Rocha, em declarações aos jornalistas, no parlamento, numa primeira reação às medidas de apoio hoje anunciadas pelo Governo.
Na opinião dos liberais, o que o executivo socialista fez foi "dar com uma mão aquilo que tirou com duas ao longo dos últimos meses".
Considerando que aquilo que era necessário era uma "redução clara dos impostos", Rui Rocha defendeu que "em lugar do tom paternalista que foi usado nesta intervenção teria sido melhor começar por agradecer aos portugueses e até pedir-lhes desculpa" uma vez que "os portugueses cortam nos seus gastos, têm dificuldades em chegar ao fim do mês" e o Governo continua a cobrar "impostos extraordinários".
PS salienta que contas certas permitem agora mais apoios sociais
O PS defendeu, pela voz de Eurico Brilhante Dias, que a existência de contas certas possibilita agora ao Governo avançar com novos apoios contra a inflação e colocou esta forma de atuar em contraste com "os cortes" do último executivo PSD/CDS.
Estas posições foram transmitidas pelo líder parlamentar socialista após o Governo ter anunciado "apoios adicionais" na ordem dos 2,5 mil milhões de euros, abrangendo IVA para alguns bens alimentares essenciais, aumento em um por cento dos trabalhadores da administração pública, apoios às famílias mais vulneráveis e à produção agrícola.
"O PS regozija-se não só com o resultado do défice [de 0,4% em 2022) e da dívida [113,9%], mas também com o conjunto de medidas hoje apresentadas para apoiar as famílias e as empresas. Com políticas certas e contas certas, é possível apoiar a estar lado a lado com os portugueses", sustentou.
Depois, o líder da bancada socialista procurou colocar em contraste os executivos de António Costa e os de Pedro Passos Coelho:
"Nas conferencias de imprensa do período da governação PSD/CDS, apresentavam-se cortes nos salários e nas pensões. Hoje, os portugueses têm um Governo que apresenta um bom resultado nas contas públicas e que, por isso, tal como fez em 2022, continua em 2023 a apoiar os mais vulneráveis, a recuperação de rendimentos dos funcionários públicos e a produção do setor agrícola", declarou.
Numa alusão a uma das principais medidas apresentadas pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, Eurico Brilhante Dias destacou que o Governo fará "um acordo com a distribuição e com os produtores de bens alimentares para permitir que uma diminuição do IVA nos produtos alimentares essenciais seja imediatamente transferida para as pessoas".
BE acusa Governo de "brincar com o desespero das famílias"
O BE acusou o Governo de "brincar com o desespero das famílias" ao ter uma almofada financeira "que não usou" para responder às dificuldades, considerando que as medidas de apoios "são insuficientes" e sem "coragem para fazer a diferença".
"A primeira das constatações mais óbvias é que o Governo tinha uma margem financeira, uma almofada financeira que não usou em devido tempo. Tinha, não quis usar e por isso a situação a que nós chegamos agora é responsabilidade do Governo. O Governo andou a brincar, anda a brincar com o desespero das famílias", acusou o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, numa primeira reação às medidas de apoio anunciadas pelo Governo.
Segundo o bloquista, o executivo "deixou passar tempo que é precioso para responder à dificuldade das famílias com uma almofada financeira que não usou", considerando que "foi uma escolha do Governo".
"É um conjunto de medidas que são insuficientes e que estão bem longe sequer de retornar à economia, às famílias o que leva porque devolve hoje menos do que a almofada financeira que tem ao seu dispor", acusou.
Pedro Filipe Soares referiu ainda que "entre as pessoas com maior carência económica estão três milhões de pessoas" e que "este número é a dimensão da falência das medidas do Governo, deixando claro que "ter deixado passar tempo é uma irresponsabilidade".
"O Governo também prova não ter a coragem para fazer a diferença. Se devolve muito menos do que a almofada financeira que tem, na prática também não vai a fundo para controlar preços", condenou.
A este propósito, o líder parlamentar referiu que o ministro da Economia e o próprio primeiro-ministro reconheceram que "baixar o IVA sem controlar preços poderia não ter nenhum impacto no resultado no preço de bens alimentares".
"O BE apresentou uma interpelação ao Governo para garantir que na próxima quarta-feira temos cá o ministro da economia para responder sobre estas matérias porque não controlar preços é garantir que os abusos continuam a existir", anunciou.
PCP considera medidas do Governo "manifestamente limitadas e parcelares"
O PCP considerou que o pacote de medidas do Governo é "manifestamente limitado e parcelar" e não responde aos problemas enfrentados pela população, defendendo o aumento geral dos salários e a fixação de preços dos bens essenciais.
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, considerou que as medidas anunciadas pelo Governo são limitadas para responder a problemas como o aumento do custo de vida, a perda de poder compra ou "os escandalosos lucros dos grupos económicos".
As medidas "não só não respondem a este conjunto de problemas, como consolidam o aumento dos preços dos bens essenciais e não combatem a especulação por parte dos preços e dos lucros que muitos grupos económicos têm ganho", reforçou.
A deputada comunista antecipou que a taxa zero no IVA dos bens alimentares essenciais vai ser absorvida pelos lucros da grande distribuição, e não se vai traduzir numa "redução do preço dos bens essenciais".
"Nós já tivemos a experiência no nosso país do que significou a redução do ISP nos combustíveis: não teve uma tradução na mesma ordem de grandeza nos preços para as populações e acabou por ser absorvida pelas petrolíferas. Não há nenhuma garantia que assim não seja relativamente a esta medida", frisou.
Paula Santos defendeu que o Governo deveria ter intervindo no mercado e fixado os preços dos bens essenciais, recordando que o executivo já estabeleceu uma tarifa regulada no mercado do gás e da eletricidade e intervém no mecanismo da formação de preços dos medicamentos.
"É necessária uma intervenção por parte do Governo para controlar e fixar o preço dos bens essenciais, porque é aí que garante que (...) não há este roubo que está a acontecer neste momento junto das populações", disse.
Já no que se refere ao aumento salarial de 1% na função pública, a líder parlamentar do PCP considerou que esse valor "nem sequer cobre a inflação do ano de 2022" e continua a "impor a perda de poder de compra", numa altura em que se impõe a "valorização dos salários de todos os trabalhadores".
"Aquilo que é efetivamente necessário no momento que vivemos no nosso país é aumentar os salários, aumentar as pensões, reforçar o poder de compra, valorizar o poder de compra dos trabalhadores, dos reformados, das famílias, é controlar os preços dos bens essenciais para que efetivamente não haja aqui componente especulativa nos seus preços", resumiu.
PAN diz que Estado está a "encher bolsos" em vez de "dar a mão às famílias"
O PAN acusou o Governo de estar a "encher os bolsos" em vez de "dar a mão às famílias", considerando que as medidas anunciadas "pecam por tardias",
Em declarações aos jornalistas no parlamento, a deputada e porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, salientou que o partido já propôs o IVA zero para o cabaz essencial nos Orçamentos do Estado para 2022 e 2023, tendo alertado "desde o primeiro momento para o impacto do custo de vida".
Por outro lado, lembrou que o PAN já fez uma recomendação ao Governo para que seja obrigatório um relatório mensal sobre os preços praticados nas grandes superfícies, aconselhando o executivo a incluir esta proposta no acordo que está a negociar com a produção e a distribuição.
"Outra crítica a esta medida é que só vigorará até outubro, quando sabemos que as famílias estão numa situação bastante complicada", lamentou, dizendo que também o aumento do subsídio de refeição já tinha sido proposto pelo PAN.
Inês Sousa Real criticou ainda que os apoios diretos abranjam apenas as famílias mais vulneráveis e deixem de fora a classe média baixa, e que não sejam retroativos ao início do ano.
"Quando temos um excedente por via do défice de 3.600 milhões de euros, estamos a falar do Governo encher os bolsos do Estado e não estar a dar a mão às famílias", acusou.
Livre acusa Governo de apresentar medidas escassas e tardias
O deputado único do Livre, Rui Tavares, considerou que as medidas de apoio às famílias e empresas apresentadas pelo Governo são "demasiado pouco", surgem "demasiado tarde" e "não se entendem bem".
"O Governo apresenta uma série de medidas que vêm demasiado tarde, constituindo demasiado pouco, que não se entendem bem, e que não vêm na altura certa da curva da inflação, que teria ajudado, não só a nossa economia a resistir melhor, mas acima de tudo os nossos concidadãos a não terem sofrido tanto", sustentou o deputado único do Livre, em declarações aos jornalistas no parlamento.
Comparando o Orçamento do Estado para 2023 a um carro, Rui Tavares defendeu que "o Governo travou a fundo para garantir que tinha um défice que na altura esperavam que fosse de 1,9%, numa altura em que a economia precisava de um cheirinho de acelerador".
"O que acontece é que o Governo deixou o carro morrer na curva e agora, demasiado tarde, vem tentar apoiá-lo para fazer o resto que precisamos, quando descobre que não é um défice de 1,9%, nem sequer de 1,5% como dizia o Conselho das Finanças Públicas, nem sequer 0,5% como discutimos ontem aqui no parlamento, mas 0,4%. Três mil e seiscentos milhões de euros de diferença: a folga que poderia ter servido para ajudar as pessoas, as famílias, as pequenas e médias empresas", argumentou.
Dessa folga, apontou, o Governo vai utilizar "menos de um terço do que aquilo que poderia".
O deputado único do Livre disse ainda não entender como é que a descida do IVA de bens alimentares essenciais se vai refletir nos preços, uma vez que "o Governo não acompanha esta descida com outras medidas".
Tavares insistiu na necessidade de ser criado um tipo de encontro semelhante às reuniões no Infarmed, que na altura da pandemia da covid-19 juntavam políticos e epidemiologistas, mas desta vez com entidades que estudem o fenómeno da inflação.
"Ou seja, baixar o IVA sim, mas ao mesmo tempo reunir regularmente com produtores, distribuidores, trabalhadores, associações de consumidores e aí garantir que essa descida do IVA se reflita nos preços finais", detalhou.
Em atualização