Pedro Nuno Santos terá de preparar o terreno socialista para duas eleições este ano, antes de chegar às autárquicas, em 2025.
Pedro Nuno Santos terá de preparar o terreno socialista para duas eleições este ano, antes de chegar às autárquicas, em 2025.FILIPE AMORIM/LUSA

PS pensa no pós-europeias e precisa de renovação para as autárquicas

A Comissão Nacional socialista aprovou ontem o calendário eleitoral do partido, mas, com a maior parte dos autarcas já no último mandato, Pedro Nuno Santos testa liderança.
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A Comissão Nacional do PS aprovou este sábado o calendário interno do partido para as secções, concelhias e federações socialistas. Foi a primeira vez que ficou definido o ritmo a que  o PS, sob a liderança de Pedro Nuno Santos, vai tomar as decisões que irão determinar o futuro para as autárquicas, apontadas para 2025, principalmente quando cerca de 60% dos autarcas do PS estão a cumprir o terceiro e necessariamente último mandato.

Entretanto, o país ainda terá de passar por eleições na Madeira, já este mês, e pela escolha dos deputados para o Parlamento Europeu, em junho. E cada sufrágio é um teste para o próximo, até porque há mais atores políticos no jogo.

As eleições “são sempre um teste importante para as lideranças”, explicou ao DN a professora de Ciência Política no ISCSP Paula do Espírito Santo. Ainda assim, acrescenta, “há caminho a fazer em relação a Pedro Nuno Santos”, porque “vai haver aqui algum tempo mais de expectativa”.

O líder socialista foi eleito em dezembro do ano passado, na sequência da saída de António Costa do governo e da liderança do PS, e foi com uma derrota renhida face ao PSD que saiu das últimas eleições legislativas, com uma diferença de apenas dois deputados.

Ainda assim, com novas eleições na Madeira daqui a três semanas, a serem disputadas depois de o Executivo regional, liderado pelo social-democrata Miguel Albuquerque, ter caído por suspeita de corrupção apontada pelo Ministério Público, e com eleições europeias duas semanas depois, o teste político está montado para que o PS faça a gestão do percurso até às autárquicas de 2025.

“Cada eleição acaba por ser sempre lida não só pelo palco que é dado a todos os protagonistas, e já sabemos que as eleições autárquicas têm centenas de protagonistas” (são 308 câmaras municipais, por exemplo), explica a politóloga, para quem a liderança do PS não está em causa nem com estas eleições nem com as próximas.

Qualquer resultado “não pressionaria ao ponto de ele ter que convocar eleições ou pensar em deixar de ser secretário-geral, até porque creio que não será esse o perfil dele”, afirma.

Oposição estimulada

Com a liderança socialista solidificada, é importante analisar o que é que acontece ao partido a nível regional quando se sabe que a maior parte dos autarcas não poderá candidatar-se para um próximo mandato, por já estarem a cumprir o terceiro e último.

Perante este cenário, o DN ouviu o presidente da Câmara de Paredes de Coura, Vítor Paulo Pereira, que está nessa situação. Não haverá um quarto mandato consecutivo.

Para já, há uma garantia: “Quando há mudança, também estimula, muitas vezes, as oposições a organizarem-se e a trabalharem mais, é o normal”, afirma Vítor Paulo Pereira.

“Uma câmara municipal é sempre constituída por uma equipa. Depende das concelhias. Há concelhias onde há mais estabilidade, mais coesão, mais espírito de união, e há outras concelhias em que, muitas vezes, abrem brechas, porque é normal quando há eleições internas”, explica o autarca.

“Também se criam novas oportunidades. Quer para aqueles que estão no poder, quer também para os outros que estão na oposição”, conclui .

Com a análise centrada na oposição, resta perceber se o país político em 2025 é o mesmo que havia em 2021, quando aconteceram as últimas eleições europeias.

Os novos concorrentes

“Certamente que vai haver crescimento da parte do Chega e os restantes partidos vão ter também que ser mais competitivos, sobretudo a nível local”, lembra Paula do Espírito Santo.

Quanto a Vítor Paulo Pereira, “o Chega não tem uma tradição autárquica, não tem um trabalho ainda profundo no terreno”. Por isso “as eleições vão disputar-se entre os partidos com maior tradição democrática e com maior presença no terreno. Agora, é evidente que, se fizermos uma análise fria, o Chega pode baralhar aqui um bocadinho isto”.

Ataque ao governo

Pedro Nuno Santos também terá de pensar no seu adversário direto: o PSD. Foi assim que o secretário-geral do PS, no final da reunião da Comissão Nacional do partido, afirmou que “estes primeiros 30 dias de governo são preocupantes. Se eu tentar resumir a duas palavras, só me ocorre: instabilidade e incapacidade política.

Em 30 dias não conseguiram tomar uma decisão de valor para o povo português”, sublinhou.

“Não tenho memória de um governo ter começado tão mal em funções, e portanto não desviem as responsabilidades para quem no Parlamento está a fazer a sua parte e o seu trabalho. O PS, ao longo destes 30 dias, foi um fator de estabilidade e de responsabilidade”, disse Pedro Nuno Santos depois de uma semana em que viu ser aprovado, com os votos favoráveis do Chega e da restante esquerda, o seu projeto para erradicar as portagens nas ex-SCUT.

Resta perceber se esta aproximação estratégica do Chega aos socialistas será bem vista internamente.

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