Pedro Nuno Santos realçou que Marta Temido é a primeira mulher a vencer numa campanha a nível nacional.
Pedro Nuno Santos realçou que Marta Temido é a primeira mulher a vencer numa campanha a nível nacional.Paulo Spranger / Global Imagens

PS à frente da AD, IL alcança Chega e esquerda no limiar da sobrevivência

Vitória do PS foi mais apertada do que em 2019, mas Marta Temido teve mais um eleito do que Sebastião Bugalho. Partido de André Ventura caiu em relação às Legislativas, enquanto os liberais obtiveram maior votação de sempre. Bloco e PCP encolhem e Montenegro anuncia apoio a Costa.
Publicado a
Atualizado a

A vitória do PS sobre a Aliança Democrática (AD), mantendo a tendência das anteriores europeias, acabou por saldar-se na eleição de mais um integrante (oito) da lista da ex-ministra da Saúde Marta Temido do que os sete obtidos pela lista encabeçada pelo até agora comentador político Sebastião Bugalho. No entanto, mais do que a vantagem socialista sobre a coligação, a nota dominante foi a derrota das forças partidárias nos extremos do espetro político em Portugal, em contraciclo com o que sucedeu noutros países da União Europeia, ainda que o Partido Popular Europeu (PPE) tenha garantido a maior bancada no Parlamento Europeu.

Tal resultado leva que a democrata-cristã alemã Ursula von der Leyen possa fazer um segundo mandato à frente da Comissão Europeia. E  abre caminho a que o presidente do Conselho Europeu seja um socialista, o que levou o primeiro-ministro Luís Montenegro a fazer um anúncio oficial de apoio ao antecessor. “Se António Costa for candidato a esse lugar, a AD e o Governo de Portugal não só apoiarão como farão tudo para que a candidatura tenha sucesso”, disse, alegando que decidiu fazer essa comunicação, após reconhecer a vitória do PS nas europeias, “para não criar nenhum tabu”.

Certo é que a cartada de Costa levou o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, a seguir outras direções na hora de celebrar a vitória socialista, salientando o facto de Marta Temido ser a primeira mulher a ganhar uma campanha eleitoral nacional em Portugal. Também voltou a dizer que o Governo esteve, ao longo das últimas semanas, “em campanha intensa, com promessas que não estão quantificadas do ponto de vista orçamental”. E, garantindo que “não virá do PS nunca a instabilidade política em Portugal”, anunciou a convocação de Estados Gerais para criar uma alternativa ao Governo da AD.

Realçado pelos restantes partidos foi o mau resultado do Chega, abaixo dos 10% meros três meses após atingir 18,07% nas legislativas. Sendo certo que a eleição de dois eurodeputados garantiu a estreia no Parlamento Europeu - em 2019, ainda sem o partido legalizado, André Ventura não foi eleito como cabeça de lista da coligação Basta -, ninguém escondeu que o partido ficou bem aquém de objetivos que passavam pela vitória, na versão mais otimista, ou pela obtenção de quatro mandatos, na mais realista. Perante uma realidade muito diferente, Luís Montenegro saúdou o povo português  “por continuar a ser na Europa um referencial de moderação e dos valores fundadores da União Europeia”, recebendo do líder do Chega a acusação de ser “a muleta do PS em Portugal” devido ao apoio a António Costa.

Mas além de um Chega reduzido ao ponto de ter ficado com o estatuto de terceira força em risco, com a Iniciativa Liberal (IL) separada por menos de 30 mil votos e de um ponto percentual, também à esquerda do PS prosseguiu a trajetória descendente. Tanto o Bloco de Esquerda como a CDU só confirmaram a eleição dos respetivos cabeças de lista, mantendo representação no Parlamento Europeu, no final da noite eleitoral, quando na legislatura anterior cada um desses partidos tinha dois eleitos. Por seu lado, o Livre falhou por pouco a sua estreia em Bruxelas e o PAN ficou muitíssimo longe de voltar a eleger, como fizera em 2019, ficando atrás do ADN.

As ondas de choque no Chega começaram logo com a divulgação das projeções de resultados pelas televisões. Nos antípodas da euforia das legislativas de março, quando elegeu em todos os círculos eleitorais tirando Bragança, formando um grupo parlamentar de 50 deputados, o facto de as televisões admitirem a hipótese de ser ultrapassado pela IL, não foi escamoteada pelos dirigentes. Na primeira reação, o líder parlamentar, Pedro Pinto, tentou  dizer que o “fundamental” era a entrada no Parlamento Europeu. Mas logo de seguida André Ventura admitiu que o resultado ficou “aquém da nossa expectativa”, terminando a noite a assumir a derrota como sua responsabilidade. Ainda que tenha mantido que o seu partido continuará a entrar em todas as eleições para ganhar.

A IL assumiu um flirt àqueles que deram o voto a André Ventura nas legislativas. “Cada vez mais portugueses perceberam que o Chega é apenas o PS que ainda não alcançou o poder”, sentenciou o deputado Bernardo Blanco, numa primeira reação às projeções reveladas pelas televisões, que apontava, para a hipótese de os liberais subirem a terceira força partidária. Em sua opinião, oferecer soluções às pessoas que votaram no Chega terá sido uma das chaves do “grande crescimento” dos liberais, que nas europeias de 2019 não foram além de 0,88%, com 29.120 votos. Desta vez, como foi salientado no discurso de João Cotrim de Figueiredo, tendo ao lado a número dois da sua lista, Ana Vasconcelos Martins, que também irá para o Parlamento Europeu, a IL teve mais de 357 mil votos, na sua maior votação de sempre.  “Viemos para nunca dar tréguas aos socialistas e aos populistas”, disse o antecessor de Rui Rocha à frente do partido.

À esquerda, apenas duas semanas após Bloco de Esquerda, PCP e Livre ficarem de fora da Assembleia Regional da Madeira nas eleições antecipadas, a noite foi de suspense para os três partidos. E acabou por correr menos mal para os bloquistas, com Catarina Martins a conseguir eleger-se “numas eleições que eram muito difíceis”, apresentando-se como “uma esquerda de confiança” no Parlamento Europeu. Prometeu “um mandato pela paz e pelo fim do genocídio na Palestina”, sem deixar de se referir à invasão da Ucrânia, ao contrário da coordenadora bloquista, Mariana Mortágua. Esta apontou como ponto positivo das eleições europeias a “derrota da extrema-direita do ódio e da violência”, em contraponto com a “consolidação da viragem à direita” a que Portugal já tinha assistido nas legislativas.

Também eleito, o cabeça de lista da CDU, João Oliveira, dissera logo a meio da noite, quando a sua presença no Parlamento Europeu ainda não estava completamente garantida, que a “campanha de esclarecimento e informação” conduzida pelos comunistas terá efeitos “muito para lá dos resultados destas eleições”. Horizontes que passam a ser os dos ainda maiores derrotados da noite, com o Livre e o PAN a ficarem fora do Parlamento Europeu.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt