Portas arrasa direção do CDS. "Uma associação de estudantes com más práticas"
Há muito que Paulo Portas não falava publicamente sobre a vida interna do CDS, mas esta noite quebrou o silêncio. E com estrondo. "O líder de um partido democrático não cancela eleições internas", afirmou o antigo presidente do CDS, que liderou o partido durante 16 anos, afirmando que desta forma "ficará sempre a dúvida de que o fez com medo de as perder". E, olhando para o que se passou no partido nos últimos dias, sustentou que a direção centrista "parece uma associação de estudantes com más práticas".
Paulo Portas não fechou, aliás, totalmente o cenário de uma saída do partido, embora tenha dito que tudo fará para que isso não aconteça. "O CDS só tem três antigos presidentes que nunca saíram do partido. O professor Adriano Moreira, eu próprio e a Assunção Cristas. E eu, por respeito às pessoas a quem pedi confiança e aos militantes que me ajudaram, farei tudo o que puder, incluindo pedir muita indulgência aos meus princípios democráticos, para conservar essa posição". "Ainda gostaria de fazer um esforço, são 16 anos à frente do CDS", diria ainda, no espaço de comentário semanal no Jornal das 8, da TVI.
Referindo-se às desfiliações anunciadas nos últimos dois dias, depois de o Conselho Nacional ter aprovado o adiamento, para depois das legislativas, do congresso eletivo que estava marcado para o final de novembro, o antigo vice-primeiro-ministro também não poupou nas críticas. "Fico muito impressionado quando um diretório fica contente com a saída daquele que é provavelmente o melhor gestor da sua geração, António Pires de Lima. Ou quando um diretório fica contente, como quem diz 'já nos livrámos dele', com a saída do Adolfo Mesquita Nunes, que é provavelmente uma das cabeças mais brilhantes do centro-direita em Portugal. Ou quando passam dois anos a tentar tirar do Parlamento a melhor deputada da Assembleia da República, Cecília Meireles. Há qualquer problema de bom senso nesta forma de gerir", atirou Portas, defendendo que o "presidente do CDS devia olhar bem para as circunstâncias".
"A perceção externa do que aconteceu é terrível, parecia uma associação de estudantes com más práticas", criticou o antigo líder, sublinhando que Francisco Rodrigues dos Santos "suspendeu um congresso com uma disputa eleitoral aberta, sem saber qual era a data das eleições e aparentemente saltando vários prazos legais e regimentais". Face à situação atual no partido, o atual presidente do CDS devia "pegar no telefone" e falar com Nuno Melo, defendeu Paulo Portas, para conversar "sobre um congresso que se possa fazer e a sua data, garantias de transparência eleitoral, limites à animosidade dos discursos, que ambos teriam que cumprir como cavalheiros e sobre um princípio que eu chamaria de respeito mútuo: quem ganhar integra, quem perder, respeita". Um princípio que o próprio diz ter sempre seguido, nos 16 anos em que liderou o CDS.
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