Rangel. "O meu adversário não é mais Rui Rio, mas sim António Costa"

Com eleições legislativas antecipadas marcadas para 30 de janeiro, o eurodeputado Paulo Rangel é candidato à liderança do PSD. "A minha luta é Portugal", afirma. Quer colocar o partido "em condições de ser uma alternativa ao PS, de ganhar as eleições legislativas, de oferecer esperança aos portugueses".
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Paulo Rangel afirmou, esta sexta-feira, que a mudança de posição de Rui Rio, que quer agora "comprimir" todos os prazos do processo de eleição de novo líder social-democrata, não é positiva para o PSD. "Não oferece estabilidade nem credibilidade ao partido", defendeu em entrevista à SIC

"É preciso mostrar que Rui Rio teve três posições num mês. Primeiro queria as diretas o mais depressa possível, a 4 de dezembro, como vão ser, depois no dia anterior ao Conselho Nacional apelou a que se refletisse se não se devia adiar, depois andou a defender o seu adiantamento, e ontem numa primeira fase de uma entrevista defendia o adiamento e na segunda parte que se devia comprimir todos os prazos", afirmou o eurodeputado que é candidato à liderança do PSD, uma corrida que disputa com Rui Rio, recandidato à presidência do partido.

"Desde o início disse que queria eleições diretas o mais cedo possível e com os prazos mais curtos possíveis", destacou, realçando que o Conselho Nacional deste sábado só existe porque existiram mais de 60 conselheiros nacionais, que apoiou "fortemente", que querem reduzir os prazos.

"Esta ideia de compressão dos prazos é dos meus apoiantes", defendeu. "E só há hoje a ideia de antecipar o congresso em um mês, de 16 de janeiro para 17 de dezembro, porque forçamos a convocação deste congresso nacional", apontou.

Paulo Rangel afirmou que se for possível juridicamente antecipar ainda mais o congresso podem contar com o seu apoio. "Sinceramente, trabalhamos com qualquer prazo", garantiu.

"É preciso muita serenidade e bom senso e acho que é uma má mensagem a que ontem foi dada. Na primeira parte de um programa pede-se um adiamento e na segunda parte pede-se antecipação", lamentou, dizendo que desde o anúncio das eleições antecipadas pelo Presidente da República houve "uma mudança muito grande".

A partir de agora, "o meu adversário não é mais Rui Rio, mas sim António Costa", disse referindo-se às legislativas de 30 de janeiro.

Sobre a escolha de Marcelo Rebelo de Sousa em relação à data das eleições antecipadas, Rangel afirma que não fez nenhum condicionamento ao Presidente da República, afirmando que aceitaria qualquer data. "A minha luta é Portugal. É colocar o PSD em condições de ser uma alternativa ao PS, de ganhar as eleições legislativas, de oferecer esperança aos portugueses. Não estou preocupado com a data A ou com a data B".

Já no que se refere à elaboração das listas, a sua feitura "é sempre um processo global" no PSD, disse, reforçando que é um candidato que se apresentou pela unidade do partido. "Todos os sinais que darei, se for eleito presidente, serão de agregação".

Admite viabilizar um orçamento de um governo sem maioria? "O voto no PS é hoje um voto inútil porque a solução da geringonça esgotou-se. Votar no PS é votar numa situação de instabilidade", respondeu, referindo-se a vários problemas que Portugal enfrenta como a situação dos hospitais, a questão dos preços dos combustíveis e da energia elétrica, a educação e os transportes.

"Aquilo que eu vou fazer é construir uma alternativa, sendo líder do PSD, que dê esperança aos portugueses", sublinhou Paulo Rangel que diz que vai "estar a trabalhar para um cenário de maioria do PSD".

"Eu vou trabalhar para o PSD liderar uma maioria estável no parlamento" ​​​​, completou. Voltou a referir que o seu objetivo é que o PSD tenha um governo maioritário", com maioria absoluta ou em coligação com "os partidos moderados do centro e do centro direita".

Não se pense que Rangel vai apontar para um PSD que vai ficar em segundo lugar. "O que queremos é restaurar nos portugueses o sonho e a esperança", reforçou. "E para isso nós precisamos de uma maioria, não podemos fazer cedências", assegurou.

"Sei que há outros que gostam de trabalhar em cenários, há pessoas que gostariam de ser vice-primeiros-ministros, eu quero ser primeiro-ministro", afirmou o eurodeputado, numa crítica implícita ao atual presidente do PSD e recandidato ao cargo, Rui Rio, que admite dialogar com o PS "em nome do interesse nacional", embora sem executivos de Bloco Central.

Mas Rangel fez questão de esclarecer : "Há uma coisa que eu garanto, não haverá governos com o Chega e não haverá um governo de bloco central".

Caso seja eleito presidente do PSD e perca as legislativas, como será a forma de Rangel fazer oposição? O eurodeputado defende que quando se trata de um líder parlamentar ou de um porta-voz de um partido existe uma função, se se for presidente de um partido ou primeiro-ministro há outra função. "Temos de adequar os nossos registos, mas eu sou sempre o mesmo. Eu não fiz essa oposição que Rui Rio diz", afirmou referindo-se às criticas do atual presidente do PSD que é contra quem faz a oposição a gritar.

"O problema de Rui Rio é que não fez uma oposição firme", acusa.

Em relação ao voto de Rangel contra o casamento homossexual em 2008, o eurodeputado disse que, na altura, defendia uma posição de transição. "Não há nenhuma contradição, Nunca menti". Afirmou, no entanto, que se fosse hoje teria feito diferente em relação a esta matéria.

O Conselho Nacional do PSD reúne-se este sábado e, além da análise da crise política e do pedido de antecipação do Congresso, poderá discutir a sugestão do presidente Rui Rio para "comprimir" todo o calendário eleitoral interno, incluindo diretas.

A reunião em Aveiro foi pedida, de modo extraordinário, através de um requerimento de mais de 60 conselheiros nacionais e dirigentes distritais que pediam a antecipação do Congresso para 14, 15 e 16 de dezembro, em vez da data inicialmente marcada, entre 17 e 19 de janeiro, devido à previsível marcação de legislativas antecipadas.

O requerimento entregue na sede nacional em 28 de outubro (um dia depois do 'chumbo' do Orçamento do Estado), mantinha as eleições diretas para a escolha do presidente do PSD a 4 de dezembro, e pedia um Conselho Nacional extraordinário em cinco dias, com um ponto único na ordem de trabalhos: alteração ao Regulamento da Eleição do Presidente da Comissão Política Nacional e do 39.º Congresso Nacional, e respetivo cronograma, que tinham sido aprovados na reunião anterior, em 14 de outubro.

O presidente do PSD e recandidato, Rui Rio, foi reiterando - em público e numa carta aos militantes - o apelo a uma ponderação das desvantagens para o partido realizar "ao mesmo tempo" as eleições internas com a preparação para as legislativas.

No entanto, na quinta-feira à noite, em entrevista à TVI e já depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter anunciado a marcação de legislativas antecipadas para 30 de janeiro, Rui Rio introduziu uma nova possibilidade: antecipar todo o calendário - diretas e congresso - para dar "menos tempo" de vantagem ao PS para fazer a campanha "livremente", enquanto o PSD discute internamente a sua liderança.

O presidente e recandidato ao cargo voltou a defender que para ser "como devia ser", o PSD devia estar "sem tumultos internos, todos unidos, todos focados para derrotar o PS em janeiro", e aproveitar os meses de novembro, dezembro e janeiro para essa tarefa.

Além dos candidatos já anunciados Rui Rio e Paulo Rangel, esta semana foi anunciado que o ex-candidato a presidente da Câmara de Alenquer, Nuno Miguel Henriques, estaria a recolher assinaturas para uma candidatura com vista à liderança do partido.

O prazo para a entrega de candidaturas termina em 22 de dezembro e tem de ser acompanhada de 1500 assinaturas.

Caso nenhum dos candidatos tenha a maioria absoluta dos votos validamente expressos (o que só pode acontecer se forem pelo menos três), existiria uma segunda volta no prazo máximo de dez dias depois da primeira e que, neste caso, foi fixada em 11 de dezembro.

Com Lusa

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