O incêndio em Vila Pouca de Aguiar foi um dos mais preocupantes esta quinta-feira.
O incêndio em Vila Pouca de Aguiar foi um dos mais preocupantes esta quinta-feira.Pedro Sarmento Costa / Lusa

Novas equipas anunciadas pelo Governo para os fogos aguardam modelo de funcionamento

A intenção é chegar a responsáveis na origem dos fogos, mas não se sabe com que recursos. Executivo aperta a malha aos incendiários e já anunciou, entretanto, uma outra equipa especial de investigação.
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Foi anunciada por Luís Montenegro, primeiro-ministro, como “uma equipa especializada em aprofundar, com todos os meios, a investigação criminal à volta dos incêndios florestais”. Mas, até agora, pouco ou nada se sabe sobre que trabalho, exatamente, lhe está destinado, apurou o DN.

Já existem neste momento duas equipas “multidisciplinares para a redução de ignições”, uma destinada à Região Norte e a outra focada na Região Centro - as duas zonas do território nacional que mais fustigadas têm sido pelos incêndios que se fazem sentir desde domingo.

Estes operacionais, que já estão no terreno, contarão ainda com o apoio de magistrados do Ministério Público (MP), segundo a resolução do Conselho de Ministros extraordinário do passado dia 17.

No final desse encontro, o primeiro-ministro anunciou a criação e o reforço destas equipas que, segundo noticiou o jornal Público na edição desta quinta-feira, já existem há três anos. Ainda que com outra formulação (Grupos de Trabalho para a Redução das Ignições em Espaço Rural), o objetivo era exatamente o mesmo: “Reforçar a investigação dos incêndios rurais, em especial nos territórios com elevados níveis de causalidade indeterminada ou com causas de tipologia dolosa.”

Até a distribuição dos elementos, segundo o despacho assinado por Francisca van Dunem, então ministra da Justiça, era semelhante. Esses dois grupos de trabalho seriam sediados em Vila Real e na Lousã.

Estes grupos de trabalho até já permitiram à Polícia Judiciária fazer detenções. Exemplo disso é o homem detido na região de Braga, no passado dia 13 de setembro (ainda antes do período crítico de incêndios), suspeito de atear oito fogos entre 19 de julho e 4 de setembro deste ano.

Margarida Blasco, ministra da Administração Interna, anunciou esta quinta-feira que além das equipas prometidas pelo primeiro-ministro, o Governo constituiu ainda uma equipa especial de investigação aos incêndios para “destrinçar” os fogos por negligência daqueles com origem criminosa.

Na próxima segunda-feira, haverá um primeiro encontro desse grupo (liderado por Luís Montenegro), que vai contar com Blasco e com a ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice. A Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, também estará presente, além dos responsáveis máximos da PJ, PSP e GNR.

Tecnologia permite estudar origem dos incêndios

O homem detido em Braga é apenas um na longa lista de detenções que a PJ e a GNR têm feito nos últimos dias. O número de detidos desde domingo já ultrapassa a dezena de suspeitos.

As detenções da PJ e GNR têm sido possíveis com o auxílio e o recurso à tecnologia. Com isto, as autoridades têm conseguido investigar os incêndios onde existem suspeitas de dolo.

Mas não só. O próprio combate às chamas, segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), tem recorrido à tecnologia.

De acordo com André Fernandes, comandante nacional da ANEPC, Portugal tem utilizado o sistema europeu de satélites, o Copernicus, para avaliar as “frentes de fogo” e a direção dos incêndios. Isto permite um ataque às chamas mais coordenado e célere, explicou o responsável no balanço diário da passada quarta-feira.

Já depois de ter recorrido à ajuda de parceiros da União Europeia, no âmbito do Mecanismo Europeu de Proteção Civil, Portugal recebeu mais um apoio. Numa publicação na rede social X (antigo Twitter), Andrii Sybiha, ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, anunciou que o país disponibilizou um avião de combate a incêndios, de fabrico ucraniano, juntamente com uma equipa, “para apoiar os esforços”.

Entretanto, as equipas de França, Espanha e Itália colocaram oito aviões no combate aos incêndios em Portugal. Houve ainda uma oferta da Grécia, que foi recusada por motivos operacionais, explicou à Antena 1 João Silva, oficial de ligação da Comissão Europeia no terreno.

Alguns destes meios já foram, entretanto, desmobilizados - mas o reforço de duas unidades espanholas ainda se mantém.

Ministra garante que tudo foi feito atempadamente

Pelas 20.00 horas, antes da habitual conferência de imprensa da ANEPC, a ministra Margarida Blasco falou pela primeira vez desde o início dos incêndios, garantindo que “tudo foi feito atempadamente” e que não foi ao terreno porque as recomendações de “boas-práticas” assim indicam.

Segundo a ministra da Administração Interna, “nestes dias críticos” o país teve ao serviço “o maior dispositivo de combate de incêndios de sempre”.

Confrontada com as críticas da presidente da câmara de Arouca, que referiu ter tentado contactar a governante, mas que esta não atendeu por ter o telemóvel desligado, Margarida Blasco esclareceu: “Não tenho esse telefonema. O número de telefone que lhe foi dado não era o meu.”

Já sobre as críticas à coordenação do combate aos incêndios, preferiu nada dizer. E também não respondeu à pergunta sobre se sentia estar fragilizada no seu cargo.

Sobre as alegadas falhas na rede SIRESP - que fonte no terreno apontou ao DN -, a ministra refere não ter “registo de quebras”.

De acordo com o briefing da ANEPC, feito depois da intervenção da ministra, perto das 20.30, os incêndios em Portugal fizeram, até àquele momento, cinco mortos e 90 feridos (12 dos quais graves). Acerca da divergência dos números em relação aos noticiados - que apontam para, pelo menos, mais três mortos -, o comandante nacional da Proteção Civil justificou que os números estavam “fechados com o INEM”, que não tinha reportado mais nenhum óbito àquela hora.

Mais dados

121 mil hectares ardidos esta semana
A área ardida em Portugal Continental desde domingo ultrapassa já os 121 mil hectares, segundo o sistema europeu Copernicus, que mostra que nas zonas mais atingidas pelos incêndios nos últimos dias, nas regiões Norte e Centro, já arderam 100.492 hectares. A sub-região de Viseu-Dão-Lafões é a mais afetada pelos incêndios que lavram desde o fim de semana, com 36.358 hectares de área ardida. No total, a área atingida pelas chamas em Portugal, neste ano, ultrapassou já os 144 mil hectares, 84% dos quais apenas nesta semana, o que faz deste o pior ano desde 2017.

Chuva pode provocar deslizamentos
A Proteção Civil indicou que as próximas horas “ainda vão ser complexas” em relação aos incêndios e alertou para a chuva forte prevista para esta sexta-feira e sábado, que pode provocar deslizamento de terras nas zonas afetadas pelos fogos. O comandante nacional André Fernandes apelou a que sejam tomadas medidas preventivas e indicou que “já foram dadas orientações para que se iniciem os trabalhos de estabilização”.

Poeiras e cinzas vão continuar no ar
Uma nuvem de dióxido de carbono, dióxido de enxofre e dióxido de azoto provocada pelos incêndios tem afetado  gravemente a qualidade do ar no norte e centro. O presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, Tato Borges, alertou na RR que “as poeiras e as cinzas irão continuar no ar” por um ou dois dias após os incêndios, reforçando avisos para que as saídas à rua sejam reduzidas nessas zonas.

Sexta-feira é dia de luto nacional
O Governo decidiu, “em articulação com o Presidente da República”, decretar para esta sexta-feira um dia de luto nacional, de forma a “expressar, em nome do povo português”, o “profundo pesar e solidariedade para com as vítimas trágicas” dos incêndios, anunciou, na conferência de imprensa do Conselho de Ministros, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro.

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