Ministro condena que rankings das escolas sirvam apenas para "marketing"
A opinião é unânime entre os representantes da escola pública: Tiago Brandão Rodrigues, Filinto Lima, Mário Nogueira e João Dias da Silva 'chumbam' os rankings das escolas. No privado, a visão é outra.
O ministro da Educação considera que os rankings das escolas com base nos resultados dos exames de quem lá estuda são "redutores e desmotivadores", porque "comparam realidades completamente" diferentes entre si.
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Em declarações no Fórum TSF no dia em que foram revelados os resultados dos exames nacionais de acesso ao Ensino Superior, Tiago Brandão Rodrigues sublinha que não cabe ao Governo fazer uma hierarquização das escolas.
"É preciso deixar muito claro que o ministério da Educação não faz rankings. O ministério da Educação, transparentemente, fornece um conjunto de dados à comunidade académica e também aos meios de comunicação, que acabam por fazer os rankings. Muito provavelmente porque sentem a necessidade de seriar, com um conjunto de critérios, as instituições de ensino. O ministério da Educação nunca sentiu vontade de o fazer."
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Tiago Brandão Rodrigues ressalva que "é muito importante conhecermos os dados e sabermos o que é que eles nos dizem", mas a melhor forma de olhar para os indicadores das escolas não é através de rankings, considera.
"Estas listas seriadas, única e simplesmente centradas nos resultados dos exames nacionais, por exemplo, acabam por esconder muitas das qualidades, muito do trabalho das escolas, que são tão difíceis de medir num ranking dessa natureza", aponta.
Além disso, acaba por acontecer que as escolas privadas usem estes rankings para se apresentarem no mercado como 'as melhores' ou destacando "as características que lhes derem mais probabilidade de ganhar esse campeonato", condena o ministro da Educação.
"É uma pena se estes rankings forem utilizados única e simplesmente por uma questão de marketing das instituições de ensino. Temos que pensar que os indicadores e estatísticas nos devem dizer algo mais sobre as escolas", apela.
O ministro da Educação convida, por isso, pais, professores e alunos a visitar o portal InfoEscolas, que agrega estatísticas de escolas do 1.º Ciclo ao Secundário, com indicadores alternativos, como os "percursos diretos de sucesso", que avalia "como é que uma escola agarra num grupo de alunos e os transforma em melhores alunos, comparativamente a outra escola que não está a ter essa capacidade e que tem que entender porque é que não está a ter essa capacidade".
Também o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep) critica a realização de rankings dos estabelecimentos de ensino. Filinto lima considera que essa classificação é redutora, que "não avalia minimamente o trabalho das escolas" e que banaliza uma avaliação qualitativa do ensino.
Para o presidente da Andaep, todo o ensino secundário "precisa de ser repensado", já que os alunos parecem dedicar-se ao estudo apenas quando há exames no horizonte. "Torna-se muito redutor o ensino para o marranço, para exame, para o acesso ao Ensino Superior", condena.
Filinto lima considera que a melhoria das médias dos exames registada no último ano letivo 2019/2020 - como é o caso da matemática, em que se regista uma subida de dois valores - está relacionada com as novas regras dos exames.
Isto porque as provas finais do ensino secundário que deixaram de ser obrigatórias, servindo apenas como prova de ingresso, devido à pandemia de Covid-19. Houve também novidades nas regras de classificação, flexibilizadas com o objetivo de mitigar as desigualdades acentuadas pelo ensino à distância, sendo apenas contabilizadas as respostas às perguntas obrigatórias e aquelas em que o aluno tenha tido melhor pontuação.
Questionado sobre o facto de apenas um em cada três alunos carenciados terminarem o ensino secundário sem chumbar, o presidente da Andaep garante que as escolas estão atentas e têm em conta as dificuldades destes alunos.
Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (FENPROF), concorda que elaborar rankings com base nos resultados dos exames nacionais não é útil. "Estamos perante uma farsa que compara o incomparável", condena.
Para o representante da FENPROF, a pandemia torna ainda mais irrelevante comparar escolas, uma vez que o ensino à distância agravou as desigualdades e há até escolas a ser investigadas por inflacionar as notas.
Também João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional da Educação, se manifesta contra a elaboração de rankings, considerando que deixam muito de fora e "orientam para uma leitura errada e incompleta" do que se passa nas escolas, quer sejam públicas ou privadas.
Opinião diferente tem o diretor executivo da AEEP, a Associação que junta Escolas, Colégios, Externatos e Internatos de Ensino Particular e Cooperativo em Portugal. Rodrigo Queiroz e Melo considera que os rankings são "muito positivos" e retratam uma parte importante da escola - os resultados dos alunos.
Reconhecendo que " a escola é muito mais do que isso", Rodrigo Queiroz e Melo olha para os rankings como "uma fotografia" que "mede uma dimensão, a dimensão cognitiva do trabalho que está a ser feito nas escolas".
O representante das escolas privadas considera que não faz sentido dizer que nos rankings se comparam escolas muito diferentes. Há escolas "a ter muito melhores resultados que escolas comparáveis", apesar de trabalharem com alunos com grandes dificuldades socioeconómicas. Se não fossem os rankings, isso não se saberia, lembra.
"Ter informação sobre o que se passa nas escolas é muito importante. Há 20 anos ninguém sabia nada e a ignorância é sempre algo a combater", defende.