Designada para a pasta dos Serviços Financeiros e União da Poupança e do Investimento na próxima Comissão Europeia, a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, deve ter pela frente uma aprovação “pacífica” no Parlamento Europeu. Apesar das reticências que o seu perfil e experiência governativa causam nos eleitos de esquerda, o conhecimento da pasta que lhe foi atribuída e o aval da reconduzida Ursula von der Leyen permitem que a sua confirmação seja vista como “pacífica”..Nesta quarta-feira, em Bruxelas, ao entrar para uma reunião com a presidente da Comissão Europeia e os restantes candidatos a comissários, Maria Luís Albuquerque limitou-se a dizer “estou satisfeita”, anunciando que não fará mais declarações até passar pelo crivo dos eurodeputados..As audições de confirmação dos 26 nomes apresentados por Ursula von der Leyen irão começar em outubro, com o objetivo de a nova Comissão Europeia tomar posse a 1 de dezembro. E, embora a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, ter garantido que “o escrutínio não vai ser fácil”, Albuquerque tem a seu favor a pertença do PSD ao Partido Popular Europeu, que continua a ser a família política com maior número de eurodeputados. Ainda que esses votos sejam manifestamente insuficientes para garantir a maioria, também se espera o apoio dos liberais do Renew Europe, e têm sido assinaladas declarações positivas de eleitos portugueses de outras áreas, como o socialista Francisco Assis, com o Chega a reconhecer competência à ex-ministra das Finanças para desempenhar as funções que lhe foram atribuídas. E que correspondem ao seu percurso académico e governativo, embora fomentem críticas como as do porta-voz do Livre, Rui Tavares, para quem Maria Luís Albuquerque será “mais comissária da Goldman Sachs do que de Portugal”..Havendo a “tradição” de o Parlamento Europeu deixar pelo caminho poucos nomes escolhidos para a Comissão Europeia, a portuguesa não se encontra entre os mais óbvios candidatos a que tal aconteça. Além do provável futuro vice-presidente para a Coesão e Reformas, Raffaele Fitto, membro dos Irmãos de Itália de Giorgia Meloni, acusado de ser “ponta de lança da extrema-direita”, o alvo mais evidente é o húngaro Olivér Várhelyi, do Fidesz de Viktor Orbán, que foi comissário do Alargamento, e a quem foi agora destinada a pasta da Saúde e Bem-Estar dos Animais..COMISSÁRIOS AFASTADOS.Rocco Buttiglione.Escolhido por Berlusconi para a Comissão Europeia de Durão Barroso, em 2004, o democrata-cristão italiano foi o primeiro designado a não passar o crivo do Parlamento Europeu. Por apenas um voto, e após o escolhido para a Justiça dizer, na audição, que via a homossexualidade como “um pecado” e que o papel das mulheres é no lar. Rumiana Jeleva.À búlgara, escolhida para comissária europeia da Cooperação Internacional, nem a pertença ao Partido Popular Europeu bastou para apagar as dúvidas quanto à relação com uma empresa de consultoria. Além disso, também lhe foi apontada falta de conhecimento quanto a ajuda humanitária. Alenka Bratusek.Era a primeira-ministra da Eslovénia e deveria ter sido a vice-presidente com a pasta da Energia na Comissão Europeia de Jean-Claude Juncker, mas o Parlamento Europeu considerou que lhe faltava experiência e a liberal chumbou, provocando várias alterações de pastas em 2014. Sylvie Goulard.Apontada por Emmanuel Macron para a primeira equipa de Ursula von der Leyen, em 2019, teve forte oposição do Partido Popular Europeu à sua nomeação para a pasta do Mercado Único. Acabou por ser afastada por dúvidas quanto à sua relação com um think tank. Rovana Plumb.A socialista romena, nem pôde chegar à inquirição, pois o Comité de Assuntos Legais pôs em causa, entre outros casos, uma doação ao seu partido após receber um empréstimo de um milhão de euros. László Trócsányi.Primeira escolha de Viktor Orbán, o húngaro que devia ter sido comissário europeu do Alargamento também foi chumbado à partida devido aos negócios da sociedade de advogados que fundou com o Governo do seu país.