Margarida Blasco: “A formação que estamos a dar vai retirar a fruta podre do grande cesto que são as forças de segurança”
As negociações com os sindicatos e associações dos polícias terminaram terça-feira com um aumento de 300 € no subsídio de risco. Apesar de os maiores sindicatos terem assinado este acordo, nem todos o subscreveram. Para o Governo, este assunto está encerrado?
Este é apenas um dos temas que temos de abordar relativamente às forças de segurança do Ministério da Administração Interna (MAI. Como sabem, o programa do governo prevê um conjunto de medidas que dignifiquem o desempenho e os elementos das forças de segurança.
No final de de Abril, recebi a plataforma sindical, criada no princípio deste ano, se não estou em erro, que congrega vários sindicatos, quer da PSP quer da GNR, e convoquei-os para uma primeira reunião para estabelecer um protocolo de negociações.
A plataforma aderiu de imediato ao protocolo que foi assinado, avançando como sendo mais prioritária a revisão do suplemento de missão (suplemento por serviço de forças de segurança), ou, como é mais habitual dizer, do subsídio de risco. Iniciámos as negociações, que visavam o aumento deste subsídio, no princípio de Maio, dia 12.
Quero recordar que, quer na GNR quer na PSP, há uma remuneração base e depois estes dois subsídios. Um tem uma parte variável de 20% sobre a remuneração base e uma parte fixa, que era de 100 euros € à data em que que começámos as negociações. O processo foi evoluindo, fomos tendo várias reuniões.
Como sabem, independentemente de estarem juntos na plataforma, as opiniões são diversas. Cada sindicato tem a sua estratégia. Nós respeitamos essa estratégia dos sindicatos. Houve impasses, houve um processo negocial que foi moroso.
Foi muito trabalhoso, mas que deu, em termos de estratégia, para consolidar a ideia que eu já tinha do que era necessário fazer no MAI.
São duas forças que há muito tempo que não têm vindo a ver melhorias na sua profissão. E ontem encerramos este período que é apenas o suplemento de missão. Acordámos nos 300 euros, 200 que serão pagos a partir de 1 de Julho até ao final do ano. Mais 50 euros em 2025 e 50 em 2026, 14 vezes ao ano. Temos também um pacote de medidas, das quais destacava entre as mais importantes, a revisão do estatuto e das carreiras, que iremos discutir a partir de 2025. Aliás, já deixámos uma data marcada. O dia de Reis dia 6 de janeiro do próximo ano, teremos a primeira reunião.
Na semana passada, o senhor primeiro ministro veio a público dizer que não haveria “nem mais um cêntimo” para os polícias, além da proposta dos 300 euros. Quando está em processo negocial, sentiu-se, de alguma forma, desautorizada? Ou até foi uma ajuda para ajudar a delimitar qual era a meta para que estavam disponíveis?
A resposta é muito simples. Não me senti desautorizada. Senti-me, pelo contrário, com aquilo que era necessário. Eu e as forças de segurança trabalhamos há muitos anos.
Já tínhamos chegado a este valor dos 300 € na reunião de 3 de Junho. Já lhes tinha dito que não é possível o Governo apresentar um pacote financeiro mais elevado, porque há uma outra orientação no Governo que tem a ver com as contas, É um processo mimético.
Temos um conjunto de classes profissionais que começaram também as suas negociações e temos de ter uma visão de conjunto.
Portanto, o primeiro-ministro veio ajudá-la…
No fundo, veio dar o respaldo para essa decisão. O primeiro-ministro está sempre atento e governa com os seus ministros. Temos uma colaboração interministerial, em relação à qual até posso depois dar exemplos em termos de medidas que vamos tomar.
O primeiro-ministro orienta-nos, dá-nos apoio, é solidário e é assim que nós trabalhamos em grande solidariedade. O problema de cada um de nós é o problema do primeiro-ministro. Tudo é coordenado e tudo é devidamente ponderado.
Portanto, quando se chegou aos 300 €na reunião de 3 de Junho, disse “Ó meus senhores, pensem em alternativas. Agora, mais do que 300 €, não é possível. Neste momento não temos finanças públicas que aguentem um valor mais elevado”.
Além de que eles têm de perceber que com este valor, que é um valor histórico que eles nunca tiveram em tempos de democracia, é muito dinheiro. É o valor mais alto que eles receberam de uma vez só, independentemente dos termos em que foi estabelecido o acordo. É um esforço enorme porque eles são membros das forças de segurança.
Aquilo que realço é a importância que o Governo dá às forças de segurança. Por isso este aumento é para as forças de segurança, que são os pilares da nossa segurança, do nosso quotidiano.
Pelo meio deste processo negocial, o CHEGA convocou as forças de segurança a estarem presentes nas galerias, tanto dentro e fora do Parlamento. Sentiu que, de alguma forma, se estava a tentar instrumentalizar a luta dos polícias?
Tenho uma visão dos polícias, de todos, quer da GNR quer da PSP, muito responsável. Sei que posso contar com eles e eles podem contar comigo.
O CHEGA tem a sua estratégia, o seu líder tem a sua estratégia e não farei qualquer comentário sobre isso.
Aquilo que eu lhe posso garantir é que num universo de 45.000 polícias, as principais organizações sindicais vieram a terreiro dizer que não se sentiam vinculadas, que não queriam ser instrumentalizadas. E estou a usar as palavras que as associações e os sindicatos usaram. Portanto isso para mim e a adesão que teve...
Ia perguntar exatamente se a pouca adesão que acabou por ser registada, se de alguma forma a tranquilizou?
Eu já estava tranquila. Aliás, acho que eles sentiam que, efetivamente, e disseram-no, era com o governo que queriam negociar. Isto revela o profissionalismo deles. E é nesta base que nós trabalhamos.
O facto de existirem, por exemplo, movimentos mais inorgânicos, como o Movimento Zero, que resposta acha que deve merecer do poder político?
A criação desse movimento inorgânico foi mais ou menos coincidente com o período em que era a inspetora-geral da Administração Interna...
Nasceu do processo de Alfragide…
Exatamente. Na altura abriu-se uma auditoria por causa de uma alegada infiltração da extrema-direita nas forças de segurança. É um assunto que eu sigo muito perto. Tenho tolerância zero a isso.
Os polícias são cidadãos, mas não são uns cidadãos quaisquer. São cidadãos que defendem a ordem pública, defendem o cidadão. São um dos pilares da democracia e do Estado de Direito e não é admissível que haja movimentos radicais dentro das forças de segurança.
É isso que, quer eu, quer os comandos, quer toda a cadeia toda hierárquica, estamos muito atentos e os procedimentos estão a ser a ser verificados.
Ouvi no outro dia um comentador que eu prezo muito dizer que eu compactuava com isso. Não é verdade. Garanto que nem a ministra, nem o governo, nem as direções nacionais, nem os Comandos pactuam com movimentos radicais.
E penso que vão desaparecer rapidamente, porque a formação que estamos a dar, a formação para a qual queremos evoluir, vai, efetivamente, retirar a fruta podre do grande cesto que são as forças de segurança. Desculpem esta imagem, mas é para filtrar.
Há alguns dias foi divulgado um relatório da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), segundo a qual há falta de viaturas à disposição da PSP da GNR, as escalas de serviço não asseguram patrulhas de 24h e não há polícias em número suficiente para assegurar o funcionamento de instalações policiais. Sabemos que tomou posse há três meses, mas este cenário não é novo para si, não é? Já se tinha apercebido dele quando era inspetora-geral. Como ministra que soluções é que tem para esta situação?
Tenho diversas soluções e posso dizer que também falámos sobre isso nas negociações. Porque nós falamos um pouco de tudo. Sobre a condição policial, como é que trabalham, como é que se atende o cidadão. Esse relatório diz respeito ao ano de 2023.
No entanto, eu e a minha equipa temos percorrido o país e temos recebido alguns autarcas - e vamos receber, nomeadamente amanhã, o Sr. Presidente da Câmara do Porto - no sentido de verificar in loco quais são as condições em que os membros das forças de segurança trabalham e onde o público é atendido.
Porque temos aqui duas faces de uma mesma moeda. As pessoas tem de ser atendidas e bem. E as pessoas que os atendem? Os polícias têm também condições para para atender bem. O que é que eu quero dizer com isto?
Pedi, quer ao comando-geral da GNR, quer à direção nacional da PSP, que me fizesse um levantamento das condições de todas as instalações, quer de postos, quer de esquadras, quer de comandos territoriais ou distritais, nas cidades e no interior (como sabem, a GNR tem tem a fiscalização em 98% do território, a PSP está limitada aos grandes centros urbanos) e verificámos que, efetivamente, esse levantamento está a ser feito e que, infelizmente, há muitas situações que têm de ser corrigidas.
Temos também um programa que foi iniciado no governo anterior, que é a Lei de Programação das Infraestruturas das Forças de Segurança, que é onde esse levantamento está feito, só que não está atualizado.
Uma das primeiras tarefas é atualizar esse programa nos termos em que eu já vos disse, mas com uma com uma variante, que é adaptar o dispositivo policial às necessidades reais da população.
Não é mexido há muito tempo o dispositivo policial no território, não é?
Temos de ter consciência de que na segurança interna, as ameaças são novas. Temos situações no país que mudam permanentemente. As populações são diferentes. O Norte não é igual ao Sul. Falamos todos a mesma língua, mas são condições diferentes. São diferentes em termos de densidade populacional, em termos de fenómeno criminal.
Portanto, temos de adaptar o dispositivo e colocar as pessoas nos locais que possam atender e fazer desempenhar a sua função diretamente na origem. Ou seja, quero eu dizer com isto que, por exemplo, o concelho da Guarda é um concelho de pessoas de idade muito avançada, que tem verões muito rigorosos, muito quentes, e que tem invernos muito frios, que têm habitações com acessos muito difíceis.
É necessário colocar um dispositivo no concelho da Guarda e nas aldeias limítrofes, neste caso será a GNR, que seja um pouco os acompanhantes desses idosos. Ou seja, cada equipa de elementos da GNR sabe que tem aquele casal, ou tem aquela senhora ou tem aquele senhor como sob a sua responsabilidade. Já se faz um pouco isso, mas eu quero ir mais além.
Qual é a diferença que nós queremos marcar aqui? Começamos pelo telemóvel se for necessário, porque sabemos que há sítios do país que não têm rede. Começar por este pequeno pormenor, saber se há telemóvel, se há rede, para que, se houver algum problema, o idoso pode contactar com o elemento da força de segurança.
Se houver um problema de saúde, contactar imediatamente com a Segurança Social, com a unidade de saúde local no sentido de encaminhar logo a pessoa. O sentimento de companhia que esse idoso tem transforma a vida. Nós queremos as pessoas mais felizes.
Acho que este tipo de programas, para o cidadão mais próximo, pode ser feito. Só que é feito de forma diferente. No interior, no Minho, no Algarve, em Lisboa, são realidades diferentes. E é esta evolução que queremos para uma polícia moderna.
No fundo, termos uma polícia mais próxima do cidadão, respondendo ao cidadão, prevenindo as situações e reprimindo quando tem de ser, quando tem de utilizar a força para repor a ordem pública.
Nas grandes cidades, a PSP poderá também assumir essa tarefa? Sabemos que muitos idosos nas grandes cidades, por exemplo em Lisboa, vivem muito isolados e no meio da grande cidade….
Esse levantamento também está nas cidades. Temos diversos fenómenos. Há o programa que é feito para as cidades, a Cidade Segura, que já era feito. Tem várias valências, porque temos, não só a questão dos idosos, mas também a questão das crianças, das escolas, dos adolescentes, do policiamento de proximidade. Têm de estar mais visíveis. Temos as esquadras que não funcionam de todo porque estão sobre dimensionadas. Temos que fazer um programa específico para a cidade, que é diferente em Lisboa e no Porto.
Vão prosseguir com a estratégia de segurança urbana que foi iniciada pelo anterior governo?
Vamos prosseguir porque é um bom programa. Agora é preciso implementá-lo e adaptá-lo às novas realidades, porque a criminalidade e a segurança é diferente todos os dias.
Portanto, estes programas não podem ser programas parados, têm que ser dinâmicos. Não podem ser estanques, têm que ser de tal forma dinâmicos que se possa juntar uma peça e não cair, não cair o puzzle todo. E este puzzle tem que ser construído de momento a momento. É isso que quero.
Porque isto foi muito debatido e por isso é que veem no programa do Governo uma série de alíneas sobre as forças de segurança que têm exatamente a este pensamento. As forças de segurança têm que ter a dignidade para prosseguir estes programas.
Temos de lhes dar os instrumentos e criar-lhes as condições para que o cidadão se sinta mais seguro. Parece uma frase feita, mas é aquela que é que é usada e que todas as pessoas percebem.
Nós sabemos que estar um polícia ou um GNR fardado a ser visto traz esse sentimento de segurança às pessoas. E é isso que nós queremos que as pessoas se sintam seguras.
Portugal está dentre os países mais seguros do mundo. Está acima da média europeia no número de polícias por 100.000 habitantes. Mas a falta de polícias é uma conversa que se repete porquê?
É uma profissão que tem vários problemas. Aquilo que eu lhe posso dizer é o seguinte: a nível do recrutamento e da entrada de novos elementos das forças de segurança tem sido um problema.
Quero eu dizer com isto que alguns dos concursos têm ficado desertos e nós queremos inverter essa tendência. Há várias fundamentações para isto acontecer, mas eu penso que, nomeadamente, através do subsídio que foi acordado ontem, mais o pacote já aprovado pelo Governo de apoio aos jovens na área fiscal e habitação, vai ajudar.
Mas é um ponto que eu tenho em aberto para estudar com os diretores das escolas e do Instituto (de Ciências Policiais e Segurança Interna), que é saber qual é a maneira de atrair estes jovens. Porque queremos jovens que gostem de ser polícias e isso é muito importante para nós.
Queremos os jovens que gostam de ser polícias, que querem ser polícias e que sabem o que é ser polícia. Isto é muito importante quando se faz o recrutamento. Estes jovens até aos 35 anos são cerca de 11.000 em cada uma das duas forças de segurança, mas precisamos de mais. Precisamos de mais. Eu reconheço que precisamos de mais.
Mas há falta de polícias ou estão mal organizados e distribuídos? Porque estamos acima da média europeia...
Quando tiver as conclusões sólidas, direi sim ou não. Acredito piamente que estejam mal distribuídos. Mas aquilo que me dizem do outro lado é que há muitos polícias, entre 300 a 600, que já estão na pré aposentação e, portanto, também contam porque não vão para a aposentação nem vão para a reforma, nem vão para a reserva, porque são necessários ao serviço.
Portanto, há aqui um problema que tem de ser estudado rapidamente, que é saber quais são as causas que nos levam a ter, segundo consta, mais polícias que no resto da Europa, quando cá dentro temos, em termos etários, uma grande fatia que está acima dos 55 anos.
Há aqui um desfasamento para o qual temos de encontrar rapidamente a solução, porque esta é uma profissão de grande stresse, de grande desgaste. Quantas pessoas já tiveram 30 anos de serviço e que continuem a ter que trabalhar porque não há pessoas que os substituam?
Portanto, temos dois cenários e temos que encontrar a solução para estes cenários. Um pouco a atratividade, por um lado, precisamos de mais jovens, e os mais velhos têm de ensinar e passar a sua mensagem aos mais novos. E na polícia isso é essencial.
Nesse aspeto de passagem de testemunho, quando chegarem o que é que deve mudar na formação deste destes jovens para a polícia moderna que quer, para os atrair para trabalhar nas forças de segurança? Já disse que este aumento de subsídio poderá significar um incentivo. Aliás, o próprio comissário Bruno Pereira, da Plataforma Sindical, também dizia que os mais jovens vão ser dos grandes beneficiados por isto.
A primeira coisa que vão ter que vão ter, que eu já prometi, é uma aula em cada uma das escolas. Vou conversar com eles. Vou tentar motivá-los, captá-los. Acho que é muito importante que uma pessoa que dirige esta área, que tem a seu cargo esta área, possa ir falar com os futuros polícias.
Portanto, já me comprometi com todas as escolas, em ir dar uma aula . E vou dar uma aula de surpresa sobre matérias que que eles nem sabem que são necessárias para a sua função. Foram muitos anos de IGAI, foram muitos anos de levantamentos e de preocupações e, portanto, já me comprometi com os diretores das escolas. E não aviso.
Depois, aquilo que eu penso que é importante para além da formação inicial, apesar de terem uma boa curricula em qualquer das escolas, terá de ser alterada em conformidade com o tipo de ameaças. As ameaças são diversas.
Existe cibercrime a aumentar e independentemente da competência da PSP ou da GNR ou da PJ, aquilo que nós temos que ver é que as ameaças são novas e tem que haver uma permanente formação. Defendo que existe a formação teórica, muita informação, e tem que haver muita formação em termos operacionais.
Independentemente, depois, de poderem ficar num sítio mais perto da família, que é aquilo que eles todos clamam, vão ter de correr o país e conhecer as realidades diversas. Eles são muito novos, entram com 18 anos e temos de os acarinhar. São eles que nos defendem. Portanto, nós temos que apostar para além da juventude, apostar em técnicas novas e em informação nova e dinâmica. Eu penso que será um desafio e um desafio bastante grande, mas que todos nós, portugueses, merecemos.
Uma das suas preocupações enquanto inspetora-geral da Administração Interna era a formação em direitos humanos. Aliás, um dos seus projetos mais emblemáticos foi precisamente identificar os pontos críticos da ação policial e encontrou fragilidades nesta área. Nesta altura, com os crimes de ódio na agenda, qual é a perceção que tem sobre o estado desse tipo de formação nas polícias?
Já tive a ocasião de verificar que é dada muita formação nessa área. Independentemente disso, isto é uma situação em que eu, quando estava na IGAI e agora como ministra, sou perfeitamente intransigente. Não há abertura nenhuma nem complacência.
Agora isto é um fenómeno mais alargado e aquilo que eu penso é que vai ter que haver um conjunto de medidas relativamente às agressões, aos crimes de ódio, à xenofobia. E nisso o Governo está a trabalhar e estamos a trabalhar em conjunto. O Ministério da Justiça, nós, a ministra da Juventude, temos um conjunto de programas no sentido de obviar a que esses lamentáveis crimes possam ser praticados.
Estamos a atuar em vários sítios. Como vos disse, nas escolas nas universidades, na noite e nos eventos. Nós agora vamos ter imensos eventos - a quantidade de festivais que há neste país! A mim surpreende me porque eu já estou naquela fase que só vou a alguns, mas eu não sabia que havia tantos. E isto são momento em que a polícia, não no aspeto repressivo, mas no aspeto preventivo, vai falando com os jovens e vai vendo. A presença também é dissuasora de determinado tipo de prática de crimes. E eu aposto muito nesta envolvência entre os polícias e a nossa juventude. Acho que realmente é um casamento feliz.
Já foi consultada pelo primeiro-ministro sobre a escolha do novo secretário-geral do Sistema de Segurança Interna?
Agradeço a pergunta, mas não vou de maneira alguma falar sobre essa questão. Nós sabemos que o senhor Embaixador Paulo Vizeu Pinheiro termina brevemente o seu mandato, que foi muito rico queria felicitá-lo por isso. A seu tempo saberão.
Mas tem um perfil que considere?
São cargos que levam a um determinado perfil. Mas sabe que os portugueses tem gente muito boa nesta área. Nós ficamos admirados com as pessoas que nos telefonam, com as pessoas que querem falar connosco...
Não vão faltar candidatos...
Não vão faltar candidatos nem candidatas ao cargo. Eu acho que na senda de tudo aquilo que tem sido feito desde o Dr. Mário Mendes, passando pelo Dr. Antero Luís, a Dra. Helena Fazenda, o Senhor Embaixador em Vizeu Pinheiro, vamos encontrar a pessoa certa para o lugar certo.
Portugal tem sido palco de vários acontecimentos internacionais, como já referimos. Considera que existe algum motivo de preocupação ou o país tem estado à altura na resposta que dá a estes acontecimentos? Ou seja, tem alguma preocupação particular na segurança interna?
Eu tenho sempre preocupação porque quero sempre dar melhor e que Portugal esteja esteja melhor. Aquilo que eu lhe posso dizer é que no ranking dos países seguros, Portugal está em sétimo…
Tem descido...
Estava em terceiro, se não estou em erro, e nos últimos anos baixou para sétimo. Mas nós vamos repor. Confiem em nós, porque nós vamos repor a tabela.
Nós neste momento iniciámos o chamado Verão seguro. Se é que hoje, com as alterações climáticas, nós possamos dividir o ano em quatro estações, mas é nesta altura que os turistas nos procuram e o turismo é efetivamente um grande suporte à atividade económica.
Por isso é que eu digo que as forças de segurança fazem parte de um ativo económico e financeiro. Portanto estamos a fazer esses programas, estão feitos, já estão no terreno.
Aumentámos também a disponibilidade do dispositivo em termos de proteção civil. Há mais cerca de 1000 bombeiros, mais dois Canadair ou bombardeiros, como como queiram chamar. Ainda na sexta feira fiz a apresentação no Algarve.
Tudo isto para lhe dizer que, dentro da dinâmica que as forças imprimem às suas ações, eu sei que posso garantir aos portugueses que temos um Portugal que é seguro, quer para os que cá vivem, quer para todos aqueles que nos visitam. E as forças de segurança estão empenhadas nisso.
Há um tema que tem sido recorrente, pegando nesta ideia do Portugal Seguro, que tem estado muito no discurso político ultimamente, nomeadamente até na campanha eleitoral, que é a questão da perceção de segurança ou insegurança. Ou seja, Portugal está nos rankings como um dos países mais seguros. Mas não faltam políticos que dizem que por vários fatores, entre os quais muitos colocam até a questão da imigração que existe nos cidadãos a perceção de insegurança. Como é que tem lido essas teses?
O tema da imigração tem sido muito debatido. Aquilo que eu lhe posso dizer, já assim de repente, é que criminalidade e imigração não casam. Se perguntarem à senhora ministra da Justiça, no RASI isso está demonstrado, só 12%, se não estou em erro, da população prisional é estrangeira. O resto são todos portugueses. O que quer dizer que pode haver um caso aqui e ali, não podemos excluir.
Há alguma tendência de, em certos sítios, mediatizar sempre mais os casos que envolvem estrangeiros. E, portanto, até pode parecer que são mais do que os portugueses, por isso mesmo...
Mas não. Portanto, o fenómeno imigração com insegurança não casa. E eu posso assegurar aos portugueses que não casa de qualquer das formas. Relativamente a esse tema nós temos aqui um grande trabalho a fazer.
O senhor Ministro da Presidência já vos deu uma entrevista. Não serei mais exaustiva do que ele e acompanho-o em tudo, dizendo que quer a GNR, quer quer a PSP estão no terreno fiscalizando.
Aliás, há uma coisa que eu vos queria ainda dizer, que é que a partir do final do deste mês nós temos um programa que é o Campo Seguro; também vamos atualizar uma App do MAI, a MAI seguro. Vamos atualizar essa app para todos aqueles que com alguma frequência, em determinadas alturas do ano, têm sido vítimas de roubos de cobre e alfaias agrícolas e, portanto, criámos.
Essa é uma uma ideia nova que no final do mês vamos lançar. E aqui está um trabalho feito com o Ministério da Agricultura e Pescas, no sentido de ver quais são os pontos onde é que há mais queixas e quais são.
Qual é a vantagem disto? É que as pessoas podem sempre ligar para o 112. O 112, como sabem, está baseado na junto da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária e que comunica imediatamente para a Central da GNR ou da PSP, conforme conforme o caso. Neste caso vai logo. As pessoas podem ligar.
Quem aderir a esta app, pode ligar logo para o posto que é mais próximo do seu, do seu terreno, da sua casa. Portanto, no fundo é uma coisa muito simples, igual aquela que nós vamos para férias, que deixamos o nosso número de telefone, o alarme ligado à PSP.
No fundo é transferir a mesma ideia para o campo. Portanto, é mais um programa que nós temos em curso.
Ser ministra estava nos seus planos de vida?
Não, não estava. Não estava nos meus planos. Eu jubilei-me em 2022 e estava calmamente no Alentejo, onde vivo, onde tenho a minha família e fui surpreendida com este convite.
Porque é que aceitou?
Porque eu gosto muito desta área. Gosto muito, sinto me bem. Acho que posso contribuir para estes homens e mulheres que todos os dias estão nas ruas, todos os dias estão a trabalhar pela segurança do país.
Também aceitei porque gosto do senhor primeiro-ministro. Tenho uma especial simpatia e apreço pelo trabalho que ele fez ainda como líder parlamentar.
Os meus colegas ministros receberam-me de uma forma muito muito boa. E eu sinto-me, efetivamente, muito apoiada, com muita solidariedade e não estou nada arrependida. É uma área que eu gosto. É uma área em que eu acho que ainda posso dar o meu contributo.
Tenciona cumprir o mandato até ao fim?
Claro, óbvio que é um compromisso e eu sou uma mulher de compromissos.