Liderança do PSD? "Estou casado com Lisboa, nem há hesitação"

Investimento, talento e habitação são prioridades para Carlos Moedas. Em entrevista exclusiva ao DN, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa descarta entrar na corrida à presidência do PSD. Afirma estar focado na capital e "não há nada que me faça mudar".

A imprevisibilidade provocada pela guerra na Ucrânia preocupa o presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Para as cidades, os cidadãos e os investidores, o conflito traz novas ameaças e imprevisibilidade. Apesar do contexto, Portugal poderá ser menos penalizado do que outros países, graças "à distância geográfica do conflito e à segurança que oferece", consideram os investidores nacionais e internacionais presentes no MIPIM e ouvidos pelo DN. Nesta que é a maior feira de imobiliário do mundo, em França, e onde decorreu a entrevista, o ex-comissário europeu Carlos Moedas voltou a reforçar a confiança na capacidade da Europa em enfrentar mais uma crise. "É claro que a guerra vai ter impacto na economia europeia, assim como a pandemia teve, mas estamos mais preparados para enfrentar os desafios. De todas as vezes que a Europa enfrentou grandes desafios, saiu deles mais forte e com maior crescimento. Temos de reagir mantendo a economia aberta, negociando com outras cidades e abrindo as nossas portas aos refugiados que estão a vir para os vários países da Europa", afirma o autarca. Se os desafios para a capital são muitos, as oportunidades também. Afiança que o seu foco está apenas e só "no casamento" que fez com Lisboa, e não nas disputas internas do seu partido, o PSD.

Neste seu mandato de quatro anos em Lisboa, que grandes investimentos serão a sua prioridade?
Diria que um dos maiores desafios para Lisboa é a habitação. Por isso trouxemos para o MIPIM [que decorreu até sexta-feira] três grandes projetos na área da habitação de renda acessível, porque para mim é um grande desafio. Temos de resolver o problema das pessoas que já não conseguem viver em Lisboa porque não têm dinheiro para pagar uma renda. Há um problema de rendas municipais, sociais. Existe uma estrutura, a Gebalis, e os bairros municipais, mas depois temos toda uma fatia da população que não consegue aceder a isso. Trazemos estes três grandes projetos - do Alto da Ajuda, do Vale de Santo António e das Olaias -, que são enormes exatamente na área de renda acessível para investidores. A renda acessível é um problema grave que tem de ser resolvido com os privados, com o público, com as cooperativas, e que tem de ter esta solução variável na sua geometria. Ainda me lembro de que, num debate que moderei, este era um dos pontos em que eu estava de acordo com o Partido Comunista Português e com o João Ferreira, que dizia que não havia uma varinha mágica para resolver estes problemas. Concordei na altura e continuo a concordar. Claro que a minha visão inclui a parte privada e talvez a do PCP não inclua essa parte. Vir aqui [ao MIPIM] é uma oportunidade enorme de apresentar não apenas a oportunidade típica de investimento, mas investimento na renda acessível. Isso posiciona-nos como cidade que realmente se importa com as suas pessoas, que quer resolver o problema e que o quer fazer com os privados.

As empresas estão preocupadas com a escassez de retenção de talento na capital e no país. Ter mais habitação e sendo mais acessível pode ajudar?
Há os projetos concretos e depois há a ideia e a visão para Lisboa, a visão de uma cidade que tem de atrair talento. Hoje estamos em concorrência com todas as cidades do mundo para atrair talento. Quando falo na cultura ou na inovação como prioridades, falo em duas áreas que podem atrair talento. Esse talento que vem para Portugal tem de ter condições de trabalho e residência. É importante para a capital atrair essa modernidade e novas empresas, que, para mim, estão muitas vezes na interseção da cultura com a tecnologia. Esse é o sonho para Lisboa, e esse sonho tem de ser transmitido. Depois temos as operações em concreto, que é dizer aos investidores imobiliários que não vamos estar cinco anos a atrasar os seus projetos e que, se vierem para cá, conseguimos acelerar os mesmos e dar-lhes resposta. No MIPIM, o que nos disseram foi "queremos ir para Lisboa, é uma cidade fantástica, mas há burocracia em geral e na câmara". Resolver isso é uma prioridade.

E como é que se resolve?
É uma questão de processo. Em vez de se perguntar "como é que se resolve? Quem é que tem o problema? Telefone-me", que é típico em Portugal, temos de ter processos que se resolvam em termos da própria câmara. A autarquia estava a funcionar num sistema em que os processos entravam e perdiam-se, porque iam de departamento em departamento. Por isso arranjámos uma task force, a que chamámos de concertação dos vários serviços, em que todas as semanas a vereadora [do Urbanismo] se senta com os serviços e se informa sobre os projetos, para concertar a posição da câmara. Se conseguirmos fazer isso, já avançamos e ganhamos muito tempo.

Quanto tempo estima ganhar?
Aquilo que sempre dissemos é que no final deste processo gostávamos que não houvesse mais de seis meses para tomar uma decisão. Muitas pessoas criticaram-me porque disseram que hoje a regra são 30 dias, mas toda a gente sabe que isso não existe. E porque é que não existe? Por causa de outro ponto que estamos a tentar resolver, ou seja, os processos entravam e, como não estavam completos, a câmara ao fim de 30 dias dizia "falta este papel" e depois eram mais 30 dias... e assim passavam anos. Porque não temos um serviço ao cliente que vai a montante trabalhar com as pessoas para que o processo entre na câmara completo e não precise de estar a voltar para trás a cada 30 dias porque falta um papel? Essa é a gestão de cliente que começámos a fazer com gestores de projetos que estamos a montar. E depois tudo isto passa por uma digitalização dos serviços, em que as pessoas possam acompanhar o seu processo dia a dia, num site, e que saibam como está o caso. Com estes pilares e mais eficiência no processo poderemos resolver o assunto. Até agora o que é que se fez? Quando há um problema, o presidente da câmara telefona para a diretora municipal ou para a vereadora e diz que é preciso resolver. Isso não é processo de trabalhar, até porque é injusto, porque depende de quem tem acesso ao telefone do presidente ou telefona mais vezes. Não é justo.

Lisboa perdeu empresas para concelhos como Oeiras e outros. Como atrair novamente as grandes organizações para a cidade?
Muitas foram para esses concelhos por questões burocráticas. Exatamente por estas questões de processamento, porque nessas outras cidades, como no caso de Oeiras ou Cascais, os processos andam mais depressa, é mais fácil, têm uma resposta mais rápida. Temos de acelerar o tempo de resposta. Temos de criar na cidade estes setores de inovação, como é o caso do Hub do Beato, que é um projeto a que temos de dar um dinamismo que não tem tido até agora. Tendo esses locais onde as pessoas podem ter os seus escritórios e onde temos a capacidade de as acolher, isso muda a atração do talento. O talento quer conviver com outro talento. Perdemos não só talento das empresas mas também das universidades. Veja universidades como a Nova, em que parte saiu de Lisboa. Portanto, temos de voltar a atrair, tendo no Beato um ponto de inovação. Temos de ter os chamados "bairros digitais", a que estamos a concorrer no âmbito do PRR, e temos de ter o mais difícil, que é dar resposta ao cliente. Os fregueses são nossos clientes, os investidores são nossos clientes e, se conseguirmos fazer isso, as coisas irão mudando.

O Hub Criativo do Beato e a Fábrica de Unicórnios são importantes para as startups e empresas de inovação. E metas para a atração de grandes empregadores?
Acho que as metas normalmente dão mau resultado. Aquilo que tenho feito é receber semanalmente investidores que querem vir para Portugal, e isso é um bom barómetro. Por exemplo, neste momento, no setor financeiro das criptomoedas, temos uma procura enorme por Lisboa. Há também empresas na área da tecnologia, como a sueca Evolution, que agora se instalou em Lisboa e que quer contratar 150 pessoas. No fundo, não somos nós que definimos quem são essas empresas, mas é através da procura no mercado que, se sentirem que o presidente da câmara lhes dá esse conforto, vêm instalar-se em Portugal. Nas tecnologias há capacidade de desenvolver talento e de contratar a partir de Portugal. Uma grande empresa de criptomoedas contou que se deu conta de que 100 dos seus 500 trabalhadores vivem em Lisboa, mas nem sabiam uns dos outros. Depois de termos tido uma reunião, decidiram vir instalar-se na capital. Sou presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mas tenho uma responsabilidade quase de embaixador da região. Obviamente, há a senhora presidente da Área Metropolitana de Lisboa, que é, no fundo, a "chefe da banda". Mas para um investidor, quando se fala em Lisboa, poderá ser Oeiras ou Cascais. Temos de trabalhar em conjunto e fazer um esforço enorme. Além disso, quero lançar muito rapidamente os transportes públicos gratuitos na cidade, que é uma aposta muito forte, mas estamos realmente a instar o governo também a olhar não só para Lisboa, mas para toda a área metropolitana e até todo o país. Se queremos descarbonizar, os transportes públicos gratuitos são importantíssimos para o nosso futuro.

"A minha ideia é em abril ter a proposta dos transportes públicos gratuitos na câmara. Mas isso inclui pôr todos os vereadores a elaborá-la, para que quando chegar à reunião de câmara já saiba o que cada um vai fazer, no bom sentido. É a diferença entre ter maioria e não ter."

A guerra e a alta de preços do petróleo poderão acelerar essa aposta? E a própria eletrificação da frota?
Sem dúvida. Acho que vamos ter, obviamente em concertação com a União Europeia e com os construtores de automóveis, de definir uma data-limite na Europa para os carros a combustão de energia fóssil. Haverá uma altura em que esses veículos já não poderão circular na cidade. A guerra pode antecipar muitas dessas datas e estas decisões, que são difíceis porque implicam uma mudança estrutural e disruptiva. Temos nas cidades pessoas a morrerem porque estão a respirar partículas. Obviamente que um carro elétrico tem uma bateria que tem de ser reciclada, mas a poluição será diminuta. O que estamos a ver é que daqui a 10-15 anos as doenças respiratórias irão aumentar.

O governo deve reforçar os incentivos para acelerar essa adoção?
Sem dúvida. Temos de ter a tecnologia que leve os preços a baixarem, mas precisamos do incentivo.

E o governo estará atento a essa necessidade?
O governo está em mudança. Acho é que não tem havido coragem política da União Europeia para impor uma data-limite para os carros a combustível fóssil. Se tivermos essa coragem, mudamos o paradigma.

As cidades poderão tomar a dianteira?
As cidades podem ir tomando a dianteira, mas a decisão tem de vir realmente de cima. Se não for de cima, o que acontece é que os automóveis elétricos têm preços tão elevados que vamos estar a criar uma cidade elitista, porque dizemos que só quem tem carro elétrico é que entra, mas os mais pobres não têm dinheiro para o comprar. Quando o preço for equivalente, a pessoa pode tomar essa decisão. É uma cadeia de transmissão de decisões. Há uma coisa que é certa e que define uma grande diferença da minha política para a de outros políticos: não podemos fazer isto sem as pessoas. Não aquela visão que hoje existe de uma certa esquerda radical, quase moralista, de dizer "não, agora fechamos a cidade toda e não há carros". No caso da Zona de Emissões Reduzidas, dizem que "o Carlos Moedas andou para trás". Eu não andei para trás. Estamos é num momento em que as pessoas estão a sair de uma pandemia, estamos em recuperação, e os cidadãos não aceitariam que de repente na Baixa já não pudesse haver carros. Quem ali vive precisa de se deslocar e os comerciantes precisam de viver. Isso seria uma loucura neste momento.

Defende um período de transição pós-pandémico?
Há políticos que, de certa forma, estão a viver num mundo que ainda não existe. O mundo que existe hoje ainda tem esses automóveis. Hoje, 90% da poluição é daqueles que têm mais de 10 anos. Então dê-se uma ordem para que os carros não possam ter mais de 10 anos, que os com mais dessa idade tenham de ir para a sucata e fiquem fora das cidades.

E para isso considera que é preciso que o governo recupere o incentivo ao abate?
Penso que é necessário. Vemos que, factualmente, temos 90% da poluição que vem dos carros mais antigos, o que quer dizer que os mais modernos não têm esse problema. Acho esse incentivo essencial, porque as pessoas têm de ter carros menos poluentes. O incentivo, sobretudo ao elétrico, parece-me essencial. O elétrico é o futuro e também os carros mais pequenos. Vejo cidades em que vamos ter modos de transporte em que os carros são mais pequenos, em que só dão para duas pessoas, que vão ser diferentes e elétricos. Agora dizer que numa cidade iremos estar todos a andar a pé ou de bicicleta não é possível, é utópico. Podemos escolher viver na utopia, mas eu escolho viver na realidade. Tenho consciência e quero realmente descarbonizar a cidade, mas com as pessoas, senão vamos criar aqui uma divisão.

Falando em mobilidade, como será o redesenhar da Avenida Almirante Reis e para quando?
Fizemos reuniões com os comerciantes nas três áreas da Almirante Reis, com os vizinhos e com as pessoas que ali vivem para perceber onde é que está o problema e como é que podemos ter uma visão de curto prazo, que terá de ter alguma mudança, e depois uma visão de longo prazo. Acredito que numa visão de longo prazo podemos reperfilar a avenida e, reperfilando-a, temos espaço para ter o que precisamos, que são duas vias para baixo e para cima, porque é uma via central, mas também ter as ciclovias. Em Portugal estamos limitados porque dizem que a via tem de ser muito larga. Hoje está provado que quanto mais larga é a via mais rápido [os automóveis] andam. Isso tem de ser a visão de longo prazo. No curto prazo há um problema que tem de ser resolvido rapidamente, que é a saída da cidade. Temos de incentivar a saída de carros de Lisboa. Aquela ciclovia como está, que vai do Martim Moniz para fora, não aguenta só com uma faixa. Penso que para a semana vamos anunciar as duas soluções, de curto e de longo prazo, e vai ver que as pessoas irão perceber. Toda esta loucura em redor da Almirante Reis é um bocadinho para diabolizar, ou seja, quando não há argumentos, tenta-se diabolizar as pessoas. Esta ideia de me diabolizar em relação à Almirante Reis é muito estúpida e muito pobre de argumentos. Não quero criar fricções sociais, quero é perceber do que as pessoas na Almirante Reis realmente precisam. E, percebendo isso, vamos encontrar a solução. Não tenho qualquer problema em dizer que a minha solução ou aquilo que pensei não era bem assim e que [a solução] é diferente. Assumo isso perfeitamente. Não sou nenhum Deus que tem as soluções todas corretas.

"Para a semana vamos anunciar a solução de curto prazo e a de longo prazo para a Almirante Reis e vai ver que as pessoas irão perceber. Toda esta loucura em redor da Almirante Reis é um bocadinho para me diabolizar."

O seu partido terá mudanças em breve. Será candidato à presidência do PSD?
Acho que é uma excelente questão, mas uma das coisas que as pessoas que me conhecem sabem é que, quando me envolvo num projeto, envolvo-me mesmo. E o meu projeto é Lisboa. O meu projeto é levar Lisboa a um próximo nível. E nem sequer é um trabalho full-time a 100%, é mais que isso, por isso nem consigo ter tempo para a minha família, que deveria ter. Não há mais nada para que tenha tempo agora. Quero mesmo trabalhar para mudar a cidade. Há muito trabalho que quero fazer, e isso faz a diferença, e é com isso que as pessoas podem contar da minha parte em Lisboa.

Está casado com Lisboa?
Estou casado com a minha mulher e estamos ambos casados com Lisboa.

Está casado com Lisboa, mas sabe-se que uma parte do aparelho partidário e vários seus apoiantes pressionam e gostariam que avançasse. Sente essa pressão como um dever que o possa fazer ainda ponderar entrar na corrida à liderança do Partido Social -Democrata?
Obviamente, quando falam bem de nós é sempre positivo. Tomo isso como um elogio ao meu trabalho político desde há 10 anos e ao facto de sentirem que sou uma pessoa de missões. Mas, exatamente porque sou uma pessoa de missões, a minha missão é Lisboa. Quando se tem uma missão, a pessoa tem de estar focada nela, e eu estou focado em Lisboa. Foi isso que combinei com os eleitores e não há nada que me faça mudar. As pessoas dizem que "sabiam que o Carlos Moedas era bom tecnicamente", mas não sabiam "se conseguiria assumir risco político". E realmente assumi um risco muito alto. Poderia dizer que nos últimos 10 anos pouca gente assumiu o nível de risco que assumi para me candidatar à Câmara Municipal de Lisboa. Neste momento, exatamente porque me arroguei esse risco enorme e pela confiança que me foi dada, é o que tenho de fazer, é o que quero fazer e é o trabalho que vou fazer em Lisboa.

Será incompatível acumular a liderança do PSD com a liderança da CML?
Isso é a escolha de cada um. Para mim, neste momento é incompatível naquilo que é a minha visão de uma nova maneira de fazer política. Não há uma questão formal ou legal, há uma questão pessoal. Para mim, a minha missão é Lisboa, é tentar fazer o melhor que posso pelos lisboetas, e depois logo verei a minha vida no futuro. Neste momento é essa a minha missão. Para mim é simples. Não há, aliás, nenhuma hesitação.

Não avançando, irá apoiar Luís Montenegro?
Essa não é uma pergunta para este momento. A minha missão é Lisboa e, portanto, nem estou a acompanhar tudo aquilo que se está a passar no partido. Gosto muito do meu partido e desejo-lhe o melhor.

Do que é que o PSD precisa? De um novo líder? De uma estratégia?
Posso dizer do que Lisboa precisa neste momento. Sobre o PSD falarei no tempo certo. Acho que estamos a viver tempos difíceis na política e, obviamente, esses tempos difíceis exigem uma forma diferente de fazer política. Aquilo que acho que o PSD precisa é dessa nova maneira de fazer política, mais perto das pessoas, com conteúdo, com esperança no futuro.

Por isso há quem diga que precisa de novos tempos, concorda?
É um slogan de que gosto muito (risos).

Como é que tem sido gerir a CML em minoria? O que está a retirar da experiência?
Tem sido um privilégio. A Câmara Municipal tem serviços muito bons. Mais do que a sua estrutura política e os seus vereadores, é uma estrutura técnica muito forte, é uma instituição fortíssima. E vemos isso nas várias situações, como foi, por exemplo, o centro de vacinação em que tínhamos a universidade a dizer-nos que precisava do espaço e, em duas semanas, os serviços da câmara resolveram o problema. E vimos isso agora com a Ucrânia. É um privilégio liderar esta instituição. E esse privilégio faz com que muito do meu trabalho seja a motivação dessas pessoas no dia a dia, porque quem trabalha na Administração Pública e na administração local sente-se muito pouco motivado. Hoje em dia é difícil trabalhar no setor público. Depois há uma parte política. Aprovámos o orçamento, não aprovámos? Foi bom, mostrou que conseguimos e que a oposição conseguiu, apesar de todas as vicissitudes, deixar que as coisas acontecessem. Mas não é fácil todos os dias, porque implica acordos constantes, telefonemas constantes e, como costumo dizer, falar com todos. Depois, há pessoas com quem se sente mais química, outras menos, mas acho que vamos conseguindo. Neste momento o meu foco é conseguir pôr a proposta dos transportes públicos gratuitos rapidamente na Câmara Municipal de Lisboa.

Já sabe quando conseguirá fazê-lo?
A minha ideia é em abril conseguir ter essa proposta na câmara. Mas tê-la, exatamente por causa deste contexto político, inclui também pôr todos os vereadores a elaborá-la, para que quando chegar à reunião de câmara já saiba o que cada um vai fazer, no bom sentido da palavra. É a diferença entre ter uma maioria e não ter. Eu tenho de trabalhar com os vereadores, o que faz com que tenha de ser um executivo muito mais coeso, mesmo com oposição. Nos transportes públicos, penso realmente que vamos conseguir ter uma proposta por unanimidade. Era isso o meu sonho: que a Câmara Municipal de Lisboa, por unanimidade, pudesse tomar essa decisão dos transportes públicos gratuitos para os mais novos e para os mais velhos em Lisboa. Portanto, conseguimos o orçamento, conseguimos baixar o IRS, conseguimos montar a Assembleia dos Cidadãos e agora os transportes públicos. E assim vamos caminhando.

Acha que esta gestão com os vários partidos no executivo está a ser um bom treino, eventualmente para um dia ser primeiro-ministro? Está nas suas ambições?
(Risos) Acho que é um bom treino para aquilo que quero fazer, que é mudar a vida das pessoas na cidade de Lisboa. É um treino no dia a dia da vida real. Acho que sempre consegui consensos. Dentro das fricções, consigo ter esses consensos.

rosalia.amorim@dn.pt

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