Líder parlamentar do PSD. Montenegro escolhe entre o “mais bélico” e o “mais conciliador”
Dois dias antes de Luís Montenegro apresentar a Marcelo Rebelo de Sousa os nomes que escolheu para o Governo, o que irá suceder na quinta-feira, 28 de março, toma posse a Assembleia da República, no início de uma legislatura marcada pela ausência de maioria absoluta. A Aliança Democrática (AD) não foi além de 80 deputados, pouco acima dos 78 eleitos do PS (tantos quantos os do PSD, pois há dois representantes do CDS-PP, que volta a ter grupo parlamentar) e não muito além dos 50 do Chega.
Nesse contexto, por muito que se tente levar avante o programa eleitoral da coligação de centro-direita através de decretos-lei, como foi ontem avançado pelo Expresso, será necessário lidar com um hemiciclo potencialmente hostil e certamente passível de ter geometrias variáveis entre os diversos partidos. Uma circunstância que aumenta ainda mais a relevância do Ministério dos Assuntos Parlamentares, que será uma pasta-chave do Governo de Luís Montenegro.
Fontes sociais-democratas contactadas pelo DN reconhecem que tal escolha ganha preponderância sobre a de um novo (ou de uma nova) líder do grupo parlamentar, visto que o atual, Joaquim Miranda Sarmento, está praticamente certo no Ministério das Finanças. E realçam que Montenegro deverá optar entre dois dos maiores trunfos do seu núcleo duro: o atual secretário-geral do PSD, Hugo Soares, que foi seu braço direito quando liderava o grupo parlamentar que apoiava a governação de Passos Coelho, ou António Leitão Amaro, um dos vice-presidentes do partido, que já foi secretário de Estado da Administração Local.
A opção entre Hugo Soares e António Leitão Amaro, de longe os candidatos mais prováveis a esta pasta - que implica um desafio ainda mais complexo do que o atual líder socialista, Pedro Nuno Santos, teve, na qualidade de secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, fez a articulação política da Geringonça -, indiciará estilos diferentes de lidar com os 150 deputados da oposição, que ainda seriam 142 caso a Iniciativa Liberal chegasse a acordo com a AD.
Um antigo deputado social-democrata, que lidou com ambos, sintetiza o que está em causa ao descrever Hugo Soares, de 41 anos, cabeça de lista por Braga, como “mais bélico”, enquanto António Leitão Amaro, dois anos mais velho, e cabeça de lista por Viseu, é “mais conciliador”.
Feita a escolha, outros sociais-democratas ouvidos pelo DN acreditam que aquele que não ficar nos Assuntos Parlamentares estará destinado a ser ministro da Presidência, ou ministro-adjunto, assumindo a gestão política da governação.
De fora deverá ficar outra vice-presidente do PSD, Margarida Balseiro Lopes, que não integrou as listas de candidatos a deputados e é vista como uma solução para a lista da AD às eleições europeias de 9 de junho.
Quanto à liderança do grupo parlamentar do PSD, cuja constituição ainda depende da quantidade de eleitos que suspenderão o mandato para integrar o Governo - o que abrirá a porta da Assembleia da República a cerca de uma dezena de candidatos que não puderam festejar logo na noite de 10 de março -, a coordenação dos 78 deputados pode caber a outra pessoa de confiança de Luís Montenegro.
Com o ex-líder da bancada José Pedro Aguiar-Branco, que regressou à política ativa para encabeçar a lista da AD em Viana do Castelo, apontado para a presidência da Assembleia da República, fontes sociais-democratas indicam a cabeça de lista pelo círculo de Setúbal, Teresa Morais, como forte possibilidade.
Também apontada como provável futura ministra da Justiça, foi secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares (antes de ser ministra da Cultura, Igualdade e Cidadania no efémero segundo Governo de Pedro Passos Coelho) e tem a experiência de ter sido vice-presidente do grupo parlamentar.
Apesar de a maior parte dos integrantes da atual direção do grupo parlamentar do PSD terem sido reeleitos nestas legislativas é dado como improvável que algum ou alguma venha a ser uma hipótese.
E a renovação levada a cabo nas listas, com a saída de próximos de Rui Rio e de veteranos da Assembleia da República, reduziu o número de figuras com peso político.
CDS-PP à espera do Governo
Também no “contingente” da AD, Nuno Melo e Paulo Núncio, os dois eleitos do CDS-PP, que asseguram a existência de um grupo parlamentar no regresso dos centristas a São Bento, não irão necessariamente assumir o mandato. Isso é quase certo no caso do presidente do partido, com Melo a ser dado como provável ministro da Defesa, e também poderá acontecer com Núncio, que foi secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no Governo de Passos Coelho e Paulo Portas.
O acordo de coligação prevê que a ida de qualquer um dos centristas para funções governativas levará a que sejam substituídos por elementos do CDS-PP nas listas da AD. No caso de Melo, a “linha de sucessão” inclui os ex-deputados Álvaro Castelo Branco e João Almeida, enquanto Núncio tem como substitutos os ex-deputados Isabel Galriça Neto e Pedro Morais Soares, seguindo-se a vice-presidente centrista Maria Luísa Aldim.