Espera-se que sejam força criativa e fonte de inovação. Que catalisem mudanças e produzam renovação nos partidos. Que captem novos eleitores e criem dinâmicas na partilha do poder. São os protagonistas do futuro do PSD. Há 40 anos, havia Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes, Marques Mendes, Durão Barroso, José Miguel Júdice e Fernando Nogueira. Há 20, Jorge Moreira da Silva, Luís Montenegro, Pedro Duarte, Paulo Rangel e, ainda que um pouco mais velhos, Passos Coelho, Miguel Relvas, ou Rui Gomes da Silva. Hoje, distinguem-se Sebastião Bugalho, Margarida Balseiro Lopes, Ana Gabriela Cabilhas, Alexandre Poço, Lídia Pereira e João Pedro Luís. Serão eles capazes de tomar o partido e, a seguir, o poder?.Têm respostas prontas, anunciam "espírito de missão" e " compromissos com o povo", dominam o lugar-comum, uns mais de que outros, sem se comprometerem. São disponíveis, nota-se-lhes genuína vontade. .Têm cargos de confiança e de extrema responsabilidade: Balseiro Lopes, de 35 anos, é ministra; Bugalho, de 28 e Lídia Pereira, com 32, estão no Parlamento Europeu. João Pedro Luís é secretário-geral da JSD. Alexandre Poço, também de 32 anos, é vice-presidente do partido e da bancada parlamentar. “Se com a idade dele me tivessem atribuído tamanha responsabilidade, teria ficado aflitíssimo”, diz José Miguel Júdice que há quatro décadas, jovem de 35 anos, estava empenhado no combate ao Bloco Central, juntamente com Santana Lopes, de 26, Durão Barroso, com 27, e Marcelo Rebelo de Sousa, de 35. Formavam a Nova Esperança, de onde sairiam dois primeiros-ministros e um presidente da República. .Margarida Balseiro Lopes. Em política busca-se o poder. Alguns dos jovens militantes de 1984 – Marques Mendes, ou Durão Barroso, ou mesmo Santana Lopes, por exemplo -, aproveitaram os governos de Cavaco Silva para darem um passo importante nesse propósito, estes. As jovens figuras contemporâneas do partido “sabem que têm de ser pacientes”, diz fonte do PSD. Não só o primeiro-ministro tem apenas 51 anos como surgem na calha dois 'quarentões' de peso: Hugo Soares e António Leitão Amaro. .O pecado da gula. “O PSD não é uma fila de espera”, começa por responder Sebastião Bugalho, acabado de se filiar no partido. “O PS fez isso da última vez que esteve no governo, e acabou por desbaratar uma maioria absoluta em oito meses. O PSD não vai cometer o mesmo erro”. Sebastião Bugalho nasceu em Lisboa há 28 anos. Cabeça-de-lista pela Aliança Democrática nas eleições parlamentares europeias de 2024, foi eleito eurodeputado para o mandato de 2024-2029. Tem o curso de Ciência Política. Filho primogénito de dois jornalistas, começou a carreira jornalística na imprensa, focando-se na cobertura noticiosa do CDS. Foi convidado a assinar uma coluna de opinião e a fazer comentário político na TVI. Fazendo lembrar um pouco do percurso de Paulo Portas - “mas sem o mesmo sentido de humor e estética”, diz um antigo dirigente do CDS, trocou de cadeira: foi escolhido por Assunção Cristas para integrar, em sexto lugar, a lista do CDS, como independente pelo círculo de Lisboa. Não foi eleito. Dos seis, é o mais mediático, e o mais reconhecido pela Direita democrática. “Abaixo dos 35 anos, é o mais brilhante, o mais talentoso”, dizem. Mas, acrescentam, “também pode ser colérico e arrogante, imponderado”. E “intenso, talvez em demasia”. Porém, “é de seguir de perto porque vai chegar lá”. .Não é difícil encontrar quem testemunhe ter visto em Paulo Portas ou Marcelo Rebelo de Sousa a “mesma mania”. “Achavam-se melhores do que os outros”. Pedem por isso ao deputado europeu “mais humildade, mais serenidade, menos voracidade”, como se Bugalho cedesse a uma espécie de pecado da gula. “Não me sinto nem mais, nem menos do que os meus contemporâneos. Porque há uma enorme coesão geracional”. Admite a intensidade, “porque numa campanha entrego-me de corpo e alma. Quando acabo uma intervenção, estou cansado. Fisicamente cansado”. Recorda: “Aos 29 anos já fui jornalista de jornais e de televisão, e cabeça de lista às europeias”. Voracidade, também: “Quando ando, ando depressa; quando como, como depressa; quando falo, falo depressa. Sou assim”. .Define-se social-democrata. Um homem de fé. Atribuem-lhe “qualidades de liderança, ambição, muita” e advertem: “espera-se que não fique refém das suas próprias qualidades. E ele, onde se vê daqui a dez anos? “Gostava de ter cumprido com o projeto para que fui eleito. Gostava de ver um país diferente, resultado do trabalho de governos do PSD. Um país que os jovens não fossem obrigados a abandonar”. Garante que não tem pressa. “Os primeiros cinco anos de Europa são para aprender. Seja quais forem as minhas funções, os sucessos do governo são mais importantes do que os meus”. Bugalho não vem das ‘jotas’. Embora tenha noção da importância de se ligar à base partidária: “Nas próximas eleições estarei disponível para correr o país de norte a sul. Sou um deles, e senti isso. A palavra que me vem à cabeça é gratidão”, acrescenta, para prometer: “Tal como Paulo Rangel, não vou desaparecer no Parlamento Europeu”. .Cabilhas e a cadeira de Medina.Foi na presidência da Federação Académica do Porto que deu nas vistas. A cadeira fora ocupada por Fernando Medina em 1996, um ano antes de nascer, em Albergaria-a-Velha, Ana Gabriela Oliveira Cabilhas. Mestre em nutricionismo, eleita para a Assembleia da república, nas eleições legislativas de março de 2024, marcou pontos com o discurso que proferiu na sessão solene das comemorações do cinquentenário do 25 de abril. “Bem articulado, de voz bem colocada”, lembra José Miguel Júdice. “Um discurso de enorme qualidade”, diz o advogado. Sem tradição política familiar, Cabilhas escreveu o discurso que reveria depois com Hugo Soares, acentuando a tónica da ligação da democracia ao povo, numa contínua renovação. .Surgida politicamente no exterior do PSD, tenta combater as expectativas elevadas. Mas o que viram nela? “Luís Montenegro terá visto em mim uma enorme vontade de ser parte da solução, promovendo uma abertura do partido à sociedade civil”. Ideologicamente, diz-se de centro-direita – “da mobilidade social, do compromisso, do trabalho, do esforço e do mérito”. Tem como inspiração os governos de Cavaco Silva e Sá Carneiro. Valoriza nos políticos, acima de tudo, “a consistência de valores”. Raramente pensa no futuro. Diz ao DN: “não projeto muito a minha vida na política; olho para a política como uma missão e um serviço. No movimento associativo, assumi um compromisso cívico contratualizado para a vida”. Através do ballet aprendeu a "importância do equilíbrio” e tem uma palavra de ordem: “mais propostas e menos protestos”. Mesmo não fazendo contas a uma década, traçou um rumo: “não podemos perder a noção do país real. Não podemos perder a proximidade com as pessoas, com as suas angústias”. Assume o entusiasmo com exercício do poder. “Gosto da parte executiva, da ação e da tomada de decisão”. .Sociedade civil vs jotas.Há quarenta anos, os políticos em geral eram recrutados na sociedade civil, que não lhes fechava as portas a um regresso. Júdice, Miguel Pinto Leite, Morais Sarmento, todos do PSD, eram advogados antes da política e voltaram a ser, mais tarde, advogados. Não havia jotas. A escola política tinha sido, ou o combate ao regime, ou as lutas associativas, num período histórico onde a a vitória não passava por ganhar eleições. “Eram batalhas muito duras, políticas e ideológicas”, lembra um antigo dirigente do CDS. Em 1984, a elite jovem do PSD “construiu o pensamento do partido”, diz, por comparação com a atividade nas juventudes partidárias. “Hoje há uma uniformização que leva ao oposto: o pensamento deles já é o pensamento do partido”. .Alexandre Poço, Margarida Balseiro Lopes, João Pedro Luís, Lídia Pereira: todos eles fizeram um percurso na JSD e, excetuando a última, tiveram cargos de chefia na organização dos jovens do partido. Os dois primeiros, presidiram, o último é secretário-geral. Alexandre Poço, nascido a 4 de julho de 1992 em Oeiras, é vice-presidente do PSD. Comum mestrado em gestão, é ainda vice-presidente do seu grupo parlamentar. Define-se como “social-democrata liberal e moderado”. Não faz planos para o futuro: “há dez anos estava na concelhia de Oeiras da JSD. Se na altura me dissesse que hoje estaria aqui, com estas funções, diria que não seria fácil”. .Na ‘jota, o antigo escuteiro e acólito aprendeu os truques da política, e os meandros da conspiração. Com Margarida Balseiro Lopes, de quem foi vice-presidente na JSD, fez oposição a Rui Rio. Foram dois dos sete deputados que, em 2020, contrariam a indicação da então direção, votando contra o fim dos debates quinzenais na AR. Descreve-se “um político de convicções”, que aposta estrategicamente “na prudência e na paciência”. Dizem dele que é “um diplomata”. Confessa-se ambicioso, mas sem excessos de calculismo. Já aprendeu que “tudo leva o seu tempo". Com trabalho, acredita que as oportunidades surgem. “Sou vice-presidente do primeiro-ministro de Portugal”, repete com gosto ao longo da entrevista. Aos 32 anos, sabe que "a vida é longa “. E quando se lhe pede que pese as probabilidades de Hugo Soares ou de Leitão Amaro na sucessão do atual líder, garante haver “espaço para todos”. Voltando ao grupo da sua idade, “não ficaria surpreendido se saíssem daqui um ou dois líderes do partido. Temos a mesma escola” - a Jota. É sobretudo muito forte a ligação a Balseiro Lopes, “com quem conspirei muito”. E às bases: “Já fiz várias rotas da carne assada”. Acreditando que um dia terá o apoio da base, quer manter, na próxima década, “as funções públicas”. .Alexandre Poço.“Isto não é um emprego”.“Sou o que sou. Comigo sabem com o que contam”: Margarida Balseiro Lopes é a mais velha do grupo. Aos 35 anos, a ministra da Juventude e da Modernização crê que o partido reconhece nela “autenticidade”. Um trunfo que não tenciona desbaratar, ainda que conheça as tentações. “Isso seria o que a deitaria a perder - deixar de ser genuína”, diz quem a conhece bem. Com mestrado em Direito e Gestão, uma paixão antiga, Margarida Balseiro Lopes desde muito cedo se envolveu na política. Foi representante dos estudantes no Conselho Académico da Faculdade de Direito de Lisboa, presidente da Comissão Política da JSD da Marinha Grande e presidente da Comissão Política Distrital de Leiria da JSD. É vice-presidente do PSD. Mas foi nas funções de deputada e, agora, como ministra que mais se realizou. Afirmando não precisar de desempenhar um cargo público para fazer política, e que a consultadoria será sempre uma possibilidade, olha para a próxima década e imagina-se em funções públicas, "a fazer o melhor que posso e sei". Porém, ressalva o velho cliché: “O exercício do poder para mim, não é um objetivo de vida. Isto não é um emprego”, diz ao DN. .Margarida Balseiro Lopes.A pluralidade é uma das características que mais aprecia no partido. “Posso estar mais próxima de uns do que de outros, mas sempre fui livre. Neste partido, nunca deixamos de ser nós próprios”. Um exemplo: a forma como ‘desobedeceu’ Rui Rio. Estes jovens reclamam-se da social-democracia, do cavaquismo. De Sá Carneiro. João Pedro Luís é “católico e humanista da direita social”. Defende "um Estado ao serviço dos mais frágeis” e, aos 22 anos, cita Bento XVI na sua página de Facebook: “há combates que um homem não pode sustentar sozinho, sem a ajuda da graça divina”. O atual secretário-geral da JSD foi o mandatário da juventude nas duas candidaturas de Luís Montenegro à presidência do partido. É o mais novo do grupo, e aquele que assume “um dissabor político”. Cabeça de lista do partido por Portalegre nas legislativas de 2022, falhou a eleição. Moral da história: “a política nunca são favas contadas”. .João Pedro Luís..Principais argumentos políticos: convicção e firmeza. “Sem esquecer que a política é a arte do consenso”, acrescenta. São fortes os laços que unem Poço, Balseiro Lopes e João Pedro Luís. Foram todos forjados na Jota: “Fizemos muitos quilómetros em grupo e trabalhámos muitas horas juntos”. Reconhece que não é fácil trabalhar consigo. “Sou teimoso”. Por isso, não irá desistir de representar o seu distrito na AR. Também domina a arte da conspiração, e tem um plano B: a advocacia. “Não vá correr mal; ainda que eu queira muito que corra bem”. Sem antecedentes familiares na política, o interesse “pela coisa pública” foi despertado numa visita ao Parlamento – o então aluno do secundário conheceria aí Balseiro Lopes. Poucos dias depois, inscrevia-se na Jota. Tinha 14 anos. “Daqui a dez, gostaria de dizer que o meu partido governou uma década”. Sobra-lhe uma certeza: “aos 32 anos já terei completado o meu percurso na JSD”. Contrariando os dados que apontam para o facto de líderes jovens nem sempre conquistarem o voto da sua faixa etária, garante: “Para conseguir atrair a atenção dos mais novos, é essencial ter políticos igualmente mais novos”. Lídia Pereira, nascida em Coimbra a 26 de julho de 1991, é economisya e, desde 2019,deputada ao Parlamento Europeu, onde preside à Juventude do Partido Popular Europeu.. Foi a primeira política portuguesa a realizar uma campanha política neutra em carbono, chamando atenção para as mudanças climáticas. Como número dois da lista do PSD à Europa, destacou-se como intérprete de uma renovação política dos deputados portugueses. Onde se vê daqui a dez anos? “Em política, isso é de facto muito tempo. A certeza que tenho é da minha disponibilidade para servir o partido e os portugueses, seja no desempenho de funções públicas ou noutros desafios”. Ao DN define-se com “sentido de missão, vontade de renovação e capacidade técnica e política”. A conciliação da vida pessoal com a vida profissional ajudará a determinar o seu futuro político. Menos próxima do grupo de ‘montenegristas’, não se sente por isso esquecida: “Pelo contrário, sinto-me reconhecida pelo meu partido". Ideologicamente, revê-se na frase de Lucas Pires: “ao princípio não era o Estado, era o Homem”. É partidária dos valores “do humanismo, do personalismo, da economia social de mercado e da livre iniciativa, matriz identitária do PPD/PSD”. .Lídia Pereira.Mais prestígio e sucesso.“Não há democracia sem partidos”, diz Ana Gabriela Cabilhas. As suspeitas sobre os políticos e a sua idoneidade, o escrutínio cerrado, os insultos nas redes sociais ou a necessidade de um passado à prova de bala, em vez de a afastarem, levaram-na a escolher a política. Nos anos 80 e 90 do século passado, o sucesso dos políticos era mais rápido. As oportunidades surgiam mais cedo, e a atividade não destruía com tanta facilidade a vida civil: “Havendo ética e inteligência, as pessoas lucravam na vida civil com a vida política”, lembra um deputado desses anos. Hoje, “a vida política pode ser ingrata. Sobretudo a partir da troika começou a infetar”. Assim sendo, “é ainda mais admirável que hoje queiram seguir este caminho”, acrescenta o ex-parlamentar. “Não quer dizer que não se encontrem grandes talentos, porém, estão nas empresas ou nos escritórios de advogados do que na política”, lembrando alguns casos como o de Adolfo Mesquita Nunes ou Francisco Mendes da Silva, antigos dirigentes do CDS. .Aos seis jovens laranja, “todos eles quadros de grande destaque”, Hugo Soares, o todo-poderoso secretário-geral do PSD, aconselha “serenidade e ausência de pressa”.