JS e JSD: as “escolas de quadros” que “recompensam os líderes mais fortes”
Quando a Juventude Socialista (JS) eleger o seu próximo líder, no congresso de dezembro, os jovens do PS terão o seu 15.º secretário-geral desde 1974. Será, ao mesmo tempo, a primeira vez em 18 anos que há dois candidatos à liderança: Bruno Gonçalves ou Sofia Pereira, um deles irá substituir Miguel Costa Matos, atual secretário-geral da JS, que deixa o cargo por já ter 30 anos de idade.
A última vez que houve uma disputa pela liderança da JS foi em 2006, quando Pedro Nuno Santos, atual líder do PS, derrotou João Tiago Henriques, cumprindo o seu segundo mandato à frente da 'jota' socialista (termo este que era, aliás, o nome da sua moção). Saiu dois anos depois, sucedendo-lhe outro nome conhecido: o ex-ministro Duarte Cordeiro.
Mas, historicamente, os líderes da JS não chegaram a patamares tão altos quanto os da Juventude Social-Democrata (JSD) - que continua a ser a única em Portugal a ter um ex-líder como primeiro-ministro (Passos Coelho, que comandou a ‘jota’ entre 1990 e 1995).
Paula do Espírito Santo, professora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), recorda que “Pedro Passos Coelho teve até alguma dificuldade em se afirmar no partido, por ser um ex-líder da ‘jota', se bem me lembro, por se considerar que o seu currículo era muito do aparelho. Chegar ou não a liderar um partido, e, neste caso, a primeiro-ministro, tem muito mais a ver com dinâmicas internas do que propriamente com o facto de se ter ou não um currículo marcadamente do aparelho partidário”, sublinha a investigadora.
Ainda assim, é “positivo” que estas figuras, ligadas a juventudes partidárias, apareçam em lugares de relevo, numa altura em que a “filiação política tem vindo a decrescer”. É importante dar “alguma visibilidade” aos militantes mais jovens, diz. Estas organizações, aponta, “são fenómenos pouco constantes na vida interna de um partido”, sobretudo em “grandes partidos” como PS e PSD. Ou seja: “Tirando as escolas de verão ou as rentrées, escassos são os momentos em que conseguem algum palco.”
Socorrendo-se das palavras de Francisco Rodrigues dos Santos, ex-líder do CDS (ele próprio presidiu à Juventude Popular), que “disse, a certa altura, que os jovens tinham poucas oportunidades na política”, a investigadora refere ainda que essa “dificuldade está muito presente sobretudo nos dois maiores partidos”, mas “ambos têm um funcionamento próprio, que acaba por remeter as ‘jotas' para segundo plano, apesar da ânsia de protagonismo político”. Afinal, “estas ‘jotas’ acabam por funcionar, numa primeira fase, numa lógica de escola de quadros”. Tal não é sinónimo, no entanto, de que este seja o único caminho para chegar onde desejam. “É uma escola de quadros e de bases, mas há membros dos partidos que só se juntam mais tarde e nem por isso são menos capacitados.”
“Lideranças persistentes são recompensadas”
No universo PS, Pedro Nuno Santos é talvez o rosto de maior relevância que salta de entre ex-líderes da ‘jota’. Mas antes outros nomes sonantes lideraram a estrutura. Por exemplo, António José Seguro, que chegou a secretário-geral do partido, esteve à frente da militância jovem socialista desde 1990 até 1994.
E há ainda outros nomes, como Margarida Marques, ex-eurodeputada e ex-secretária de Estado dos Assuntos Europeus, ou Jamila Madeira, atual deputada e ex-secretária de Estado Adjunta e da Saúde, que acabaram por exercer funções governativas e com algum relevo.
Casos semelhantes há também na JSD. A atual ministra da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro Lopes, liderou os jovens sociais-democratas entre 2018 e 2020, tal como o seu colega de governo, Pedro Duarte (ministro dos Assuntos Parlamentares), que foi presidente da JSD entre 1998 e 2002. Hugo Soares, secretário-geral do PSD e um dos homens próximos do primeiro-ministro, Luís Montenegro, também por lá passou entre 2012 e 2014.
O que mostra isto? “Mostra, sobretudo, que as lideranças mais perseverantes e persistentes, com líderes também eles mais fortes, foram recompensadas internamente. Esses casos são vários exemplos disso. A própria ascensão, do ponto de vista interno, foi também um pouco resultante disto”, diz Paula do Espírito Santo ao DN. A investigadora acrescenta que há ainda “vários jovens que são deputados”, como o ex-líder da JSD Alexandre Poço ou o ainda secretário-geral da JS, Miguel Costa Matos. Mas, frisa, tirando estes casos “não há muito mais relevância” das duas maiores juventudes partidárias.
Jovens afastados da política partidária
De acordo com o estudo Projeto Politicamente Desperto: Mais Informação, Melhor Participação, publicado em 2023 pelo Conselho Nacional da Juventude (CNJ), há um afastamento dos jovens em relação aos partidos. Isto significa, explica o estudo, que preferem expressar-se através de atos como “assinar petições” ou “abaixo-assinados”, mas nem por isso menos participativos. Entre as principais queixas, aponta o documento, estão a sensação de lentidão e burocracia da política portuguesa.
Significa isto que PS e PSD se devem repensar ou mudar a forma como encaram as suas juventudes partidárias? “Todos os partidos precisam de o fazer”, aponta a investigadora. “Os partidos acabam por se adaptar, até pelos recursos de que dispõem”, e “os dois maiores não são exceção”. “Só assim”, diz a docente, “acabam por se conseguir reinventar e continuar a ter uma base forte de recrutamento político”.