IL põe diferenças de parte, aprova novo programa e olha para o futuro
Renovado, dividido em seis eixos (direitos, liberdades e garantias; organização política; soberania; economia; sociedade e Estado Social) e com duas ideias “corajosas”: uma “Função Pública mais pequena, eficiente e qualificada, sujeita a avaliações de mérito e adequadamente remunerada” e “lucros e prejuízos privados [que] não devem ser socializados”. Eis o novo programa da Iniciativa Liberal, aprovado por uma ampla maioria: 511 votos a favor, 10 abstenções e um voto contra - ou seja, 97,89% dos delegados aprovaram a nova linha política do partido.
Com isto, as aparentes divergências internas, que vieram à tona no primeiro dia da Convenção Nacional do partido, que não conseguiu aprovar nenhuma das propostas de mudança estatutária, ficaram esbatidas. E foi o próprio Rui Rocha, o líder liberal, que falou no assunto. No discurso de encerramento, o também deputado começou por dizer que os liberais são “muito melhores a fazer programas políticos do que a aprovar estatutos”.
O documento, disse Rui Rocha, marca o “fim de um ciclo” que se iniciou com a criação do partido e que termina com a IL como “quarta força política e a estar em todos os Parlamentos”.
“A partir de agora olhamos para o futuro e para um novo ciclo da IL”, disse. Na sua intervenção, o dirigente defendeu uma reforma na Justiça e apontou que não é aceitável ter “cidadãos perseguidos pelo Estado” e que é “inadmissível que um cidadão esteja sob escuta durante quatro anos”, numa referência às escutas da Operação Influencer.
Antes, o ex-líder (e agora eurodeputado eleito), João Cotrim Figueiredo, utilizou o lema do congresso (“Sempre a Crescer”) para dizer que, para o partido continuar nesse caminho, é preciso lutar por tal. São precisas “três ideias”, especificou: “Boas ideias, melhores ideias e ideias que inspiram.”
Ou seja, “uma boa base programática, uma competente ação política” e a forma como o partido comunica (que precisa mudar, admitiu). No entanto, “ter razão não chega, nem na política, nem na vida”. Na sua intervenção, aproveitou mesmo para parafrasear... Lenine: “O hiper-racionalismo é a doença infantil do liberalismo.”
No último dia da reunião magna liberal (que aconteceu em Santa Maria da Feira), Tiago Mayan Gonçalves, crítico e principal rosto do movimento Unidos pelo Liberalismo, oposição interna, apontou que o programa é “imperfeito”, mas ainda assim “muito mais capaz do que o atual”, sobretudo na junção de todas as ideias de pensamento liberal.
Na véspera, o ex-candidato presidencial deixara críticas ao rumo do partido: “Cumprir valores liberais é reconhecer as capacidades dos outros e a nossa própria incapacidade. É aceitar que só nos aproximamos da omnisciência e da omnipresença com a colaboração livre e profícua entre todos. Não com idolatração pessoal ou sistémica.”
Já o ex-líder parlamentar, Rodrigo Saraiva pediu que os membros sejam “liberais em toda a linha. Sem ‘mas’.” Dizendo que se sente “respaldado” pelo programa aprovado, o deputado defendeu a “ação pela liberdade e democracia”, assumiu que “descer a Avenida da Liberdade no dia 25 de Abril” é das coisas que mais orgulho lhe dá. Terminou atirando farpas à esquerda. Afinal, ainda há trabalho a fazer “onde partidos de esquerda sectários e as suas organizações-satélite deturpam marchas que deveriam ser de liberdade e tolerância, afirmando nessas marchas manifestos anticapitalistas”.