Francisco Assis: “Os partidos democráticos devem conversar. Adversários não são inimigos”
O eurodeputado Francisco Assis, membro da comissão política nacional do Partido Socialista, afirma que governo e oposição devem sentar-se à mesa para debater o Orçamento do Estado. O eurodeputado considera que o debate deve ser reservado "aos partidos do centro democrático", para procurar uma solução entre o governo e o Partido Socialista.
A falar em Bruxelas, numa entrevista ao programa Fontes Europeias da TSF, Assis admitiu que tem "mantido, apesar de tudo, algum distanciamento", por estar no Parlamento Europeu, e ausente "da primeira linha da vida política nacional, por vontade própria". No entanto, admite que "tem acompanhado (...) com muito interesse" o debate político em Portugal, em torno do Orçamento do Estado.
“Acho que há algo fundamental nas nossas democracias: os adversários não são inimigos. Os verdadeiros inimigos são aqueles que são inimigos do regime democrático, e não os partidos A ou B. E, nessa perspetiva, julgo que é essencial que os partidos que se posicionam dentro do espectro político democrático, que valorizam a democracia e o Estado de Direito (...) se preocupem em conversar entre si, mesmo que seja para concluir que não conseguem chegar a um entendimento sobre uma questão específica”, afirmou o deputado europeu.
No caso de não ser possível um entendimento entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, Francisco Assis alerta que é preciso "ponderar" se é desejável a abertura de uma crise política, mas desdramatiza, dizendo que não seria uma tragédia para a democracia portuguesa.
“Não vou entrar na questão de saber se as eleições são desejáveis ou não, mas há algo importante a dizer: se porventura tudo isto culminar numa crise política e eleições, isso não é o fim da democracia em Portugal, nem é uma tragédia para a democracia portuguesa”, sublinhou o deputado, frisando que, a nível europeu, “há vários países que se têm confrontado com situações semelhantes”.
No entanto, alerta que “quando se percebe que uma determinada atitude pode originar uma crise política, é necessário ponderar e refletir bem sobre se essa crise política é desejável naquele momento específico”.
“Há uma coisa que é fundamental: nem o primeiro-ministro, nem o secretário-geral do PS, nem os principais protagonistas devem ter medo da sua própria sombra, nem ficar prisioneiros do receio de estarem a pôr em causa os seus compromissos doutrinários mais profundos, porque isso acaba por ser um fator impeditivo de um esforço de diálogo e aproximação que muitas vezes é necessário”, defendeu.
“Com isto, não estou a dizer que, se tudo isto for resolvido, inevitavelmente se chegará a um acordo, pois pode haver abertura para dialogar, e no fim, concluir-se que, ainda assim, um acordo não é possível”, admitiu ainda.