Ex-ministros para que vos quero? Uns deputados, outros voltam às carreiras
São onze os ministros que no dia de tomada de posse do novo Governo passam a ser classificados como "ex" . E estas duas letras abrem portas a muitas opções para os que ocuparam várias pastas no Executivo minoritário de António Costa, formado em 2019.
Saem Alexandra Leitão, Modernização do Estado e da Administração Pública; Graça Fonseca, Cultura; Francisca Van Dunem, Justiça; João Leão, Finanças; Augusto Santos Silva, Negócios Estrangeiros; Pedro Siza Vieira, Estado, Economia e Transição Digital; Nelson de Souza, Planeamento; Matos Fernandes, Ambiente e Ação climática; Manuel Heitor, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; Tiago Brandão Rodrigues, Educação; e Ricardo Serrão Santos, Mar.
Num momento em que a Assembleia da República ainda não tomou posse, o que acontecerá na próxima terça-feira, e o novo governo só assumirá na quarta, é ainda difícil vislumbrar para onde irão todos os quase ex-governantes. "Se calhar alguns ainda não sabem eles próprios", diz um ainda assessor de um deles.
Mas há um cenário mais transparente, por exemplo, para Augusto Santos Silva, que irá assumir o mandato de deputado para ser candidato do PS à presidência da Assembleia da República. E com maioria da bancada socialista, a eleição está garantida. Como a tomada de posse do Parlamento é anterior à do novo governo, António Costa terá de assumir interinamente os Negócios Estrangeiros, mas apenas por um singelo dia.
Quem anunciou esta contingência foi o Presidente da República, que a justificou como necessária "para garantir que não há interrupção, que há continuidade na política externa" até à posse do novo Governo. E não é um caso invulgar. É muito comum isso acontecer, "o primeiro-ministro assumir transitoriamente as funções, neste caso, de ministro dos Negócios Estrangeiros".
Há mais nomes entre os que saem do elenco governativo que vão tomar posse como deputados, porque foram eleitos nas legislativas antecipadas de janeiro. São eles Graça Fonseca, Tiago Brandão Rodrigues, Matos Fernandes e Alexandra Leitão.
Esta última até foi convidada pelo líder do PS para liderar a bancada socialista, mas rejeitou. "A principal razão, a principalíssima razão, é considerar que o meu perfil é mais executivo, é nesse perfil que seria mais útil ao partido e ao Governo", argumentou Alexandra Leitão. A ainda ministra da Modernização do Estado disse ainda aos jornalistas que quer continuar na vida política e assumir outros desafios profissionais , como a vida académica. E rematou que não faria sentido liderar o grupo parlamentar quando é a primeira vez que assume um mandato no Parlamento.
Dos outros que tomam posse como deputados do PS há ainda todas as dúvidas que assumam em pleno o mandato. "Poucos ex-ministros ficam na Assembleia da República, até porque passam a ser figuras de 5.ª ou 6.º fila, o que não é muito confortável depois de terem assumido pastas no Governo", diz ao DN uma fonte parlamentar. "É provável que a maioria renuncie e volte às suas profissões e carreiras".
Tiago Brandão Rodrigues, doutorado em Bioquímica, era, até aceitar o convite de António Costa para integrar o governo, investigador em Cambridge e é provável que retome a carreira académica. João Pedro Matos Fernandes poderá regressar à atividade de gestor, nomeadamente no setor das águas.
Dos quase ex-ministros que não integraram as listas do PS e que, por essa via, deverão voltar às suas atividades, estão João Leão (regresso à academia, já que é professor de Economia no ISCTE); Ricardo Serrão Santos, antigo eurodeputado, Nelson Souza, economista, e Manuel Heitor, professor catedrático no Instituto Superior Técnico. Já Pedro Siza Vieira poderá regressar à sua área profissional, a advocacia, mas para já, sabe o DN, irá fazer uma pausa e descansar.
A ainda titular das pastas da Justiça e da Administração Interna, Francisca Van Dunem, aposentou-se este mês com a jubilação como juíza do Supremo Tribunal.