Envolvidos na Operação Influencer deixados de fora da Comissão Nacional do PS
O ex-ministro das Infraestruturas, João Galamba, e o advogado João Tiago Silveira, secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e da Justiça em governos de José Sócrates, ambos arguidos no âmbito da Operação Infuencer, ficaram de fora da lista única para a Comissão Política do PS, aprovada ontem por 90,78% dos congressistas socialistas. E o mesmo sucedeu ao anterior e ao atual ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes e Duarte Cordeiro, que também foram envolvidos na investigação do Ministério Público que levou à demissão do primeiro-ministro António Costa.
Apesar de ficar de fora da Comissão Nacional - eleita em congresso e que até agora incluía os quatro socialistas envolvidos na Operação Influencer - não implicar necessariamente a exclusão dos órgãos dirigentes, pois os 65 nomes que constituirão a Comissão Política não têm que ter assento na estrutura mais alargada do PS, fontes socialistas ouvidas pelo DN não acreditam que isso possa acontecer a Galamba, que foi apontado como o “autor e verdadeiro mentor” de um alegado esquema para favorecer a Start Campus no projeto da construção de um data center em Sines, segundo o recurso do Ministério Público às medidas de coação decretadas pelo juiz Nuno Dias Costa. E muito menos a João Tiago Silveira, que o Ministério Público acredita ter produzido uma alteração legislativa, enquanto advogado e sócio da Morais Leitão, destinada a beneficiar a Start Campus.
Na prática, o único dos socialistas que foram envolvidos na Operação Influencer, embora nunca tenha sido constituído arguido, e de garantir sempre estar “de consciência tranquila” desde a semana em que a vida política em Portugal foi alterada pela investigação que levou António Costa a demitir-se, a 7 de novembro, que deverá integrar os novos órgãos dirigentes do PS é o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro. Muito próximo de Pedro Nuno Santos desde os tempos da Juventude Socialista (JS), é dado como certo não só na Comissão Política que será eleita nos próximos dias, mas também nas escolhas do novo secretário-geral do PS para o secretariado nacional, integrando uma equipa que deverá incluir outros compagnons de route de ambos. É o caso do deputado Francisco César - que foi diretor de campanha de Pedro Nuno Santos nas eleições internas em que o ex-ministro das Infraestruturas venceu José Luís Carneiro e Daniel Adrião -, o vogal da administração das Águas de Portugal Pedro Vaz, a ministra da Habitação Marina Gonçalves, o ex-secretário de Estado da Juventude e Desporto João Paulo Rebelo, e os também deputados Alexandra Leitão (que coordenou da moção de orientação do novo líder socialista, aprovada por 88,9% dos congressistas) e Pedro Delgado Alves.
Justiça na mira de “notáveis”
Esse esforço de distanciamento do novo secretário-geral em relação à Operação Influencer, patente desde a apresentação da candidatura de Pedro Nuno Santos, quando garantiu que o PS não iria passar os quatro meses seguintes a discutir um processo judicial, não teve eco entre muitos dos oradores que fizeram intervenções no 24.º Congresso do PS, que terminou ontem na Feira Internacional de Lisboa. Entre os mais indignados com a atuação do Ministério Público esteve o ex-ministro Vieira da Silva, apoiante de José Luís Carneiro, que repetiu ser “grave” que um membro do Governo tenha estado quatro anos a ser alvo de escutas, numa referência ao que aconteceu a João Galamba. “Não podemos ignorar e fechar os olhos, não podemos fingir que não existe”, disse, recusando que as suas palavras fossem “a política a entrar na Justiça”, vendo o alerta como uma defesa da democracia e do Estado de Direito.
Outras intervenções foram no mesmo sentido, como a da vice-presidente da Assembleia da República, Edite Estrela, que juntou os procuradores do Ministério Público à comunicação social e ao Presidente da República ao dizer que “ninguém tem o direito de condicionar a vontade soberana do povo português”.
Em declarações à comunicação social, o histórico socialista João Cravinho, antigo “superministro” dos governos de António Guterres, referiu-se à Operação Influencer como “uma fonte de grande preocupação sobre o funcionamento da Procuradoria-Geral da República”. Por seu lado, o ex-secretário-geral do PS e ex-presidente da Assembleia da República Eduardo Ferro Rodrigues - que, tal como Cravinho, João Soares e os ex-ministros da Administração Interna Eduardo Cabrita e Constança Urbano de Sousa, também ficou de fora da lista única para a Comissão Nacional do PS - sustentou que “não há coincidências em política e, sobretudo, não há coincidências entre os timings políticos e os timings da Procuradoria-Geral da República”.
Apesar de apontar sobretudo em direção do Presidente da República na sua intervenção ao Congresso, o deputado Ascenso Simões disse que “há um problema com o sistema judicial”, que se manifesta na existência de magistrados “que não conseguem saber o que é a ação governativa e que não conseguem conhecer a atividade autárquica”, lançando sobre os autarcas portugueses “um manto de suspeição insustentável”. E deu como exemplo processos aos presidentes das câmaras de Matosinhos (Luísa Salgueiro), Portimão (Isilda Gomes) e Vila Nova de Gaia (Eduardo Vítor Rodrigues), todos eles socialistas.
Em declarações a jornalistas, Pedro Nuno Santos manteve a doutrina “à justiça o que é da justiça”, sublinhando ser “muito importante separarmos a política da Justiça”, sem deixar de acrescentar que esta última “não está acima de qualquer escrutínio”. E que a Operação Influencer “teve grande projeção mediática” e “esteve na origem da queda do Governo”.