Preços ao consumidor podem subir como efeito da alteração das rotas comerciais, consequência dos conflitos internacionais.
Preços ao consumidor podem subir como efeito da alteração das rotas comerciais, consequência dos conflitos internacionais.Paulo Spranger / Global Imagens

Distribuição prevê atrasos mas ainda afasta subidas nos preços

Supermercados ainda não refletem as alterações de rotas dos navios de carga que transportam os bens que chegam a Portugal. A guerra no Médio Oriente, associada ao protestos dos agricultores, tem consequências para os preços, mas não imediatas.
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Perante os vários conflitos mundiais, que obrigaram a adaptações nas rotas de transporte de bens, agora agravados com os protestos dos agricultores, toda a cadeia de valor fica afetada, e os consumidores não estão livres de encontrar preços agravados nas prateleiras dos supermercados. “Se o conflito [Israel-Hamas] permanecer e se se mantiver este período que vá provocar toda esta indefinição, admitimos que seja difícil de suportar um aumento e não o transmitir para o preço final”, confirmou ao DN o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier.


Ainda assim, explica o dirigente da APED, “neste momento o que estamos a verificar é atrasos e aumentos, mas nada que ainda seja sentido pelo consumidor no imediato”. 


No que diz respeito à guerra na Ucrânia, com todas as consequências que tem trazido, desde fevereiro de 2022, para o comércio de cereais e energia, esta não é o centro das preocupações, confirmou ao DN o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes. “Em termos de produtos alimentares, os problemas estruturais que foram criados com a guerra da Ucrânia, de abastecimento de cereais e outros, estão minimamente estabilizados, até porque esses não vêm em geral da Europa nem vêm do Oriente. Vêm da América Latina ou dos Estados Unidos. Portanto, nada tem baixado [de preço] mas também não tem havido subidas muito significativas”, sustenta o representante do comércio. 


Por outro lado, o conflito Israel-Hamas levou a que as rotas comerciais que até agora passavam pelo Mar Vermelho, para evitar os ataques dos Houthis - rebeldes apoiados pelo Irão -, tivessem de mudar os itinerários, o que está a ter como consequência demoras nos produtos, que a longo prazo implicarão alterações nos preços dos bens importados por Portugal provenientes da Ásia. 


“A influência principal são os produtos importados no Oriente. Em tudo o que seja eletrónicos, brinquedos, independentemente de alguns agravamentos de preços, há interrupções de fornecimento, precisamente porque os stocks não estão a chegar”, lembra João Vieira Lopes. Isto acontece “até nas próprias componentes dos automóveis. É público que a fábrica da Tesla na Alemanha parou. Há muitos bens que mesmo que sejam fabricados na Europa, têm componentes que vêm de todo mundo. Aí, de facto, a rota do Cabo da Boa Esperança [alternativa à do Cabo do Suez, no Mar Vermelho] tem interesse e acima de tudo muda os planeamentos de stocks de produção”, lembra o líder da CCP.


“No retalho alimentar, daquelas geografias o que vem sobretudo é peixe congelado e salmão. Até agora, o que estamos a ter é atrasos e aumentos de preços, como é evidente, no custo associado ao transporte”, explica Gonçalo Lobo Xavier. “Neste momento o consumidor ainda não sentiu esse agravamento porque esse produto ainda não está a ser disponibilizado e atrasos não implicam necessariamente um aumento de custo. Implicam um aumento do custo de transporte, que poderá ser eventualmente diluído e a distribuição fará um esforço para não o transmitir de imediato ao consumidor. Agora, é evidente que isto traz um transtorno a nível global, sobretudo para o retalho especializado, que tem componentes eletrónicos, de moda, de têxtil, ligados à informática, à eletrónica de consulta. Tudo isso são de facto mercadorias que vêm da Ásia e, portanto, naturalmente têm um impacto difícil de não transmitir”, conclui o dirigente da APED.

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