Cravinho não informou "por acaso" Seguro Sanches da nomeação de Alberto Coelho

O ex-ministro da Defesa João Gomes Cravinho alegou que "por acaso" não informou o seu secretário de Estado Seguro Sanches sobre a nomeação de Alberto Coelho para a EMPORDEF, apesar de admitir que falavam "regularmente". Seguro Sanches foi quem levantou as primeiras suspeitas sobre a empreitada.

O ex-ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, revelou que não informou "por acaso" o seu então secretário de Estado, Jorge Seguro Sanches, sobre a nomeação para uma empresa pública da Defesa do antigo diretor-geral a Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (DGRDN), Alberto Coelho, quando já sabia que este tinha cometido várias irregularidades na contratação da empreitada do antigo Hospital Militar de Belém (HMB).

Seguro Sanches tinha competências para a monitorização daquela obra e foi quem acompanhou mais de perto todo o processo, começando logo a levantar dúvidas sobre as contratações e a despesa desde início, informando o Ministro.

Gomes Cravinho esteve a ser ouvido no parlamento para prestar de novo esclarecimentos sobre os custos das obras de requalificação do antigo Hospital Militar de Belém, envoltos em polémica desde 2020.

Apesar de sublinhar que falava com Seguro Sanches sobre "assuntos da sua competência" e outros que "não eram da sua competência", este não tinha "competência nesta área" (da nomeação?) e que "por acaso aconteceu não falarmos".

O deputado Jorge Paulo Oliveira, do PSD, questionou porque "escondeu essa nomeação" do então secretário de Estado e se teve receio que a desaprovasse.

Cravinho assinalou que era "quase cómico o esforço para encontrar uma divergência" entre si e Seguro Sanches, com quem "trabalhava sempre em estreita coordenação".

O ex-ministro da Defesa afirmou que combinou esta nomeação com o então presidente da IdD-Portugal Defence - a holding das indústrias de defesa onde estava integrada a empresa ETI para onde foi Alberto Coelho como Presidente do Conselho de Administração - e atual secretário de Estado da Defesa, Marco Capitão Ferreira. "Tinha um diálogo regular com o presidente da IdD e surgiu essa questão", afirmou.

Ainda assim, Cravinho assume que "se soubesse" o que sabe hoje "não o tinha nomeado", mas que, na altura, com a informação disponível, não havia razão para tal.

"Naquele momento sobrestimei os 19 anos de experiência que tinha (Alberto Coelho), todo o seu curriculum no Ministério, e o sentimento generalizado que havia em relação às suas competências. Mas subestimei a outra parte que estava no relatório da auditoria da Inspeção-Geral. Foi um erro que reconheço à posterior", sublinhou.

A nomeação de Alberto Coelho para presidente do Conselho de Administração da ETI - EMPORDEF - Tecnologias de Informação, S.A., uma empresa estatal das indústrias de Defesa, ficou concluída a 8 de junho de 2021, muito depois de ter ficado finalizado (15 de dezembro de 2020) o relatório da auditoria da Inspeção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (IGDN), apontando ao ex-diretor várias ilegalidades na condução daquela obra.

O ex-diretor foi um dos detidos na operação "Tempestade Perfeita", em dezembro passado, onde são investigadas suspeitas de corrupção.

A empreitada para reconverter o antigo Hospital Militar de Belém, em Lisboa, num centro de apoio à covid-19 (CAM- Covid-19), foi justificada pelo contexto pandémico e a necessidade de instalações hospitalares, mas a obra, que tinha como orçamento inicial cerca de 750 mil euros acabou a custar 3,2 milhões.

Apesar de ter tido conhecido logo na fase inicial da obra, em março de 2020, de que a despesa iria ser superior ao previsto, Gomes Cravinho nada fez para o travar. "A 27 de março houve um ponto de situação em que indicava mais 420 mil euros, bem como uma estimativa de ais 500 mil que faltava validar. Isto não era inteiramente surpreende e era dentro da grandeza face ao que é habitual. Não estranhei naquele momento que pudesse custar um pouco mais", justificou.

Sobre um ofício de 20 de abril de 2020 de Alberto Coelho que dava conta de que havia uma despesa acrescida de 2,5 milhões de euros, Cravinho alegou que tal email não chegou ao seu gabinete porque "os anexos tinham excesso de peso" e ficaram retidos no servidor.

Tal informação, declarou, só terá chegado em junho.

No entanto não explicou porque tendo os contratos sido publicados na plataforma oficial base.gov, logo a 23 de abril e 2020, discriminando todos os valores, essa informação não chegou ate si.

Em todas as vezes posteriores que foi ao parlamento sempre negou conhecer os valores totais e insistiu sempre em valorizar os trabalhos.

Questionado ainda porque, conforme o DN noticiou na cronologia publicada nesta quarta-feira, demorou cerca de dois meses a enviar a auditoria da IGDN para o Tribunal de Contas, Cravinho justificou com a situação de pandemia que então de vivia.

"Não sei se estará recordado do que se estava a passar pais em janeiro e fevereiro de 2021? Era o pior momento pandemia. Estavamos todos concentrados em apoiar o SNS e eu, em particular, concentrado em tratar com a minha colega alemã o envio para Portugl de uma equipa médica para dar apoio. É evidente que relatório da IGDN estava remetido para 2º plano".

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