Costa: reunião com Montenegro foi "agradável e produtiva". Aeroporto? "Voltaremos a falar"

A conversa "agradável e produtiva" entre António Costa e Luís Montenegro serviu para discutirem sobre diferentes "perspetivas do país". Líder do PSD saiu em silêncio ao fim de três horas e meia de reunião
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"Uma conversa agradável e produtiva", foi assim que o primeiro-ministro, resumiu a reunião desta sexta-feira com o presidente do PSD, Luís Montenegro, em São Bento.

Em declarações aos jornalistas, António Costa disse que a reunião de cerca de três horas e meia serviu para "estabelecer metodologias de trabalho entre o principal partido de oposição e o governo", focando-se em temas como política externa, defesa nacional e "temas para decisão como o novo aeroporto".

"Foi uma possibilidade para, de forma serena, termos uma vista geral sobre as perspetivas do país", acrescentou.

Em relação ao novo aeroporto, o primeiro-ministro adiantou que "cada um trocou informações sobre o que dispõe", mas que os dois voltarão "a falar aprofundadamente sobre tema no futuro".

"[O aeroporto] foi uma pequena parte da conversa. Todos temos consciência que é preciso tomar uma decisão, mas não pode ser uma decisão apressada", disse.

"É uma matéria, como é sabido, que há várias décadas o país tem por decidir e sobre a qual, com a crescente procura de viagens com destino a Portugal - e em particular à região de Lisboa -, é importante que haja acordo. Esse é um tema em relação ao qual eu acho que é muito importante que haja acordo, mas não sei se vai haver", assumiu.

"Tivermos uma primeira conversa, que foi interessante, o PSD tem o seu próprio processo de decisão, o que é natural, e brevemente voltaremos a falar", repetiu, embora sem indicar qualquer calendário preciso para essa nova reunião com o presidente social-democrata.

Interrogado sobre as possibilidades de consenso entre Governo e PSD neste dossier do aeroporto, o primeiro-ministro voltou a defender a ideia de que "o normal em democracia é que os partidos construam alternativas para apresentar aos portugueses".

"Uma das grandes forças da democracia em Portugal é ser capaz, até agora, de sempre tornar possível aos portugueses decidirem nas eleições se querem este ou aquele caminho. Compete aos dois maiores partidos construírem os melhores caminhos para apresentarem aos portugueses. Vamos ter agora anos de estabilidade política e os portugueses vão escolher em outubro de 2026 se querem continuar este caminho ou outro", observou.

No entanto, para António Costa, além da necessidade de alternativas, "há matérias em relação às quais, é importante que haja acordos", por exemplo ao nível das relações externas.

"Portugal tem uma grande credibilidade internacional fruto de possuir uma enorme estabilidade e continuidade na sua política externa, que apenas se quebrou na invasão do Iraque", apontou, numa alusão ao período do executivo PSD/CDS, liderado por Durão Barroso, entre 2002 e 2004.

De acordo com o primeiro-ministro, também o objetivo de finanças públicas sãs é comum às maiores forças políticas, já que se trata igualmente "de um fator de credibilidade externa do país".

"Depois, desde que me candidatei a primeiro-ministro, tenho insistido que, relativamente às grandes infraestruturas, às grandes obras públicas, é muito importante que haja um grande consenso nacional. São obras que duram para décadas, dificilmente começam e acabam numa legislatura e o país não pode estar sempre a mudar de posição sobre essa matéria", alegou.

Neste capítulo, António Costa referiu que, durante a legislatura entre 2015 e 2019, "foi muito importante se ter aprovado por mais de três quartos dos deputados o Plano Nacional de Infraestruturas, "no qual se tomaram decisões fundamentais".

Confrontado com críticas de que foi alvo por parte do líder social-democrata, o primeiro-ministro desvalorizou e disse que "a retórica política faz parte da vida".

"Quem se aflige com as críticas dos adversários políticos, então o melhor é mudar de vida. Um jogador de futebol quando está em campo também leva caneladas", argumentou.

O primeiro-ministro e o presidente do PSD estiveram reunidos a sós, esta sexta-feira, em São Bento, durante três horas e meia, no primeiro encontro entre ambos e que teve como tema principal a questão do novo aeroporto.

Luís Montenegro chegou à residência oficial do primeiro-ministro pelas 10:00, saiu às 13:42.

Com o anterior líder do PSD, Rui Rio, a primeira reunião em São Bento com o primeiro-ministro aconteceu no dia 20 de fevereiro de 2018. Foi também considerada longa, cerca de duas horas e meia, mas bem mais curta do que esta com Luís Montenegro.

No final do encontro, em que António Costa e Rui Rio também estiveram a sós, o ex-líder social-democrata admitiu que havia "uma nova fase" nas relações com o PS.

Rio anunciou então que nesse mesmo dia iria indicar os interlocutores para o diálogo com o Governo nas áreas da descentralização e do quadro comunitário Portugal 2030. Governo e PSD chegaram a um acordo de princípio sobre esses dois temas - descentralização e fundos comunitários - um mês depois dessa primeira reunião entre Rui Rio e António Costa, em São Bento.

No final de maio, Luís Montenegro foi eleito líder do PSD com mais de 72% dos votos, sucedendo no cargo a Rui Rio, e entrou formalmente em funções no início deste mês.

Logo no início de junho, numa conferência promovida pela Câmara do Comércio Luso Espanhola, em Lisboa, o primeiro-ministro afirmou que a nova solução aeroportuária para a região de Lisboa terá de ser decidida em consenso com o PSD, justificando que se trata de um processo estruturante para várias legislaturas e que condicionará a ação de vários governos.

No passado dia 29, enquanto António Costa estava a participar na cimeira da NATO em Madrid, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, fez publicar um despacho com uma solução aeroportuária - Montijo mais Alcochete - e afirmou que prescindia de um acordo com o partido de Luís Montenegro sobre essa matéria.

Porém, no dia seguinte, António Costa determinou que o ministro das Infraestruturas revogasse esse despacho e reiterou que a solução referente ao novo aeroporto da região de Lisboa terá de ser tomada com base num acordo com o PSD.

Na quarta-feira, em entrevista à CNN, o líder do PSD afirmou que iria transmitir em primeira mão ao primeiro-ministro a posição dos sociais-democratas sobre a solução aeroportuária para a região de Lisboa.

Deixou também avisos ao executivo socialista sobre esse processo.

"Uma coisa é dialogar com o maior partido da oposição, outra é deixar de decidir. Quem tem de decidir é o Governo e o primeiro-ministro. Era muito interessante discutir a opinião do PSD, mas temos de discutir a opinião do Governo", declarou nessa entrevista.

Esta tarde o primeiro-ministro tem ainda agenda em Coimbra, enquanto o presidente do PSD apenas tem agenda prevista para domingo, na Festa do Chão da Lagoa do PSD/Madeira.

Pelas 15:00, António Costa estará presente na cerimónia de assinatura do auto de consignação de um troço do Sistema de Mobilidade do Mondego e na remodelação das redes de drenagem de águas residuais.

Na mesma cidade, pelas 17:00, estará no acordo de descentralização de competências nas áreas da educação e da saúde entre o Governo e a Associação Nacional dos Municípios Portugueses.

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