Coerente, realista e com omissões. Mensagem de Marcelo aos olhos dos partidos
O PS partilha das preocupações reveladas por Marcelo Rebelo de Sousa na mensagem de Ano Novo. "Infelizmente, no plano nacional, a decisão de dissolver a Assembleia da República e convocar eleições antecipadas, tomada pelo Presidente da República, reforçou o clima de incerteza e prejudicou a confiança num percurso de expectativas económicas seguras que estavam a ser alcançados", afirmou Carlos César, prometendo um PS "rejuvenescido" e a oferecer a segurança, tranquilidade e a estabilidade necessárias.
O presidente socialista pediu ainda aos portugueses para que "emprestem a confiança" a Pedro Nuno Santos, para como primeiro-ministro de Portugal, consiga "corrigir os erros cometidos e avançar-se mais depressa e com mais firmeza seja na saúde, na educação, na habitação e noutros setores". Essa será sempre uma decisão dos portugueses, que serão chamados a votar no próximo dia 10 de março: "Ao Presidente da República e aos líderes e partidos políticos competirá apenas o respeito pela decisão eleitoral dos portugueses para uma participação ativa nas eleições regionais dos Açores, nas legislativas nacionais e nas europeias."
"Só uma grande votação no PS garante a retoma da estabilidade política", de acordo com Carlos César, que garantiu um partido preocupado como as questões que "afetam os quotidianos, como a intolerância, o radicalismo, a tendência para a supressão dos eleitos democráticos em vários países". E partilhou, em nome do partido, as preocupações expressas pelo Presidente da República sobre as "novas incertezas" no mundo - guerras no Médio Oriente e Ucrânia e eleições nos EUA e na UE.
"Ao Presidente da República e aos líderes e partidos políticos competirá apenas o respeito pela decisão eleitoral dos portugueses", considera Carlos César
Já o Partido Social-Democrata (PSD) destacou o "realismo" da mensagem de Ano Novo do Presidente da República e garantiu estar a "construir uma alternativa" para dar resposta aos desafios de 2024, um ano que "será ainda mais decisivo" para Portugal e para o Mundo do que foi 2023, segundo Marcelo Rebelo de Sousa.
Pela voz da vice-presidente social-democrata, Margarida Balseiro Lopes, o PSD considerou que o "realismo" de Marcelo Rebelo de Sousa, quando "diz que são os mais pobres aqueles que mais sofrem", "contrasta com o tom do discurso do Governo, em particular do primeiro-ministro". Recordando as horas de espera nos hospitais e "os milhares de alunos" ainda sem professores, Balseiro Lopes sentenciou: "Isto é colocar e causa o elevador social, isto é colocar em causa a igualdade de oportunidades."
Garantindo que o PSD está "a construir uma alternativa" para que os "enormes" desafios identificados por Marcelo Rebelo de Sousa "sejam superados", Balseiro Lopes disse ainda que o partido está concentrado em apresentar uma alternativas que respondam aos "problemas no acesso à saúde, à educação e à habitação".
PSD garante estar concentrado em apresentar uma alternativas que respondam aos "problemas no acesso à saúde, à educação e à habitação".
O líder do Chega destacou a clareza e coerência no apelo ao voto da mensagem de Ano Novo de Marcelo Rebelo de Sousa, no contexto das eleições antecipadas de 10 de março. Para André Ventura, o PR deixou também "um apelo muito forte" ao dizer que "se nada muda" é porque os portugueses "não querem, não saem de casa para votar". "Esta mensagem pode parecer simplista, mas não é. Num país que tem altos níveis de abstenção, em que muitas vezes os portugueses se esquecem ou não querem participar no ato democrático, Marcelo lembrou que o país é o que nós quisermos", apontou.
O combate à corrupção, a saúde e o desenvolvimento económico também mereciam ter sido abordados, segundo Ventura: "Nos 50 anos do 25 de Abril, é uma mensagem que é importante sublinhar. O país será o que nós quisermos, mas há vários temas que têm de ser lidados de forma clara pelos políticos ou Portugal inteiro ficará a perder."
"Nos 50 anos do 25 de Abril, é uma mensagem que é importante sublinhar. O país será o que nós quisermos, mas há vários temas que têm de ser lidados de forma clara pelos políticos ou Portugal inteiro ficará a perder", refere Ventura
Já a Iniciativa Liberal (IL) defendeu que só valerá a pena mudar de governo "para mudar o país". Para Rui Rocha, o "ponto fundamental" da mensagem é que "é preciso fazer mais" em 2024, ano em que também se comemoram os cinquenta anos do 25 de Abril: "Se queremos fazer mais, é evidente que não podem ser os mesmos que estiveram até agora a fazer, porque não tem sido suficiente."
O presidente da IL manifestou-se também preocupado com os problemas no "acesso à Saúde que tem afligido os portugueses", defendendo que é preciso "permitir que o utente escolha o cuidado que quer sem pagar mais por isso, seja no privado, social ou no Estado". E deixou ainda uma mensagem de esperança e confiança para jovens, que têm tido uma vida difícil com salários baixos e uma crise na habitação".
Se queremos fazer mais, é evidente que não podem ser os mesmos que estiveram até agora a fazer, porque não tem sido suficiente", diz a IL
O porta-voz do Livre considerou a mensagem "muito igual" à de outros líderes políticos na quadra natalícia, alertando que 2023 deixa Portugal "perante uma situação de uma grande indecisão". "Creio que o senhor Presidente da República terá dito algumas dezenas de vezes 'ficou claro'. Quando um político sente muita necessidade de dizer 'ficou claro' é porque estamos a atravessar um dos momentos de maior incerteza em que nada ao contrário do que foi dito ficou claro. O ano de 2023 deixa-nos perante uma situação de uma grande indecisão", disse Rui Tavares.
E aludindo às eleições legislativas de 10 de março, o deputado lembrou que as pessoas terão oportunidade de dar resposta: "Estou cansado de ver as pessoas de braços caídos como se, com eleições à frente, não tivessem capacidade de dar uma orientação ao que o país deve ser no futuro." Mas para isso precusam saber "o que está no cardápio destas eleições" e que cada partido ofereça a sua visão de futuro. Algo que segundo Rui Tavares não tem sido oferecido.
Creio que o senhor Presidente da República terá dito algumas dezenas de vezes 'ficou claro'. Quando um político sente muita necessidade de dizer 'ficou claro' é porque estamos a atravessar um dos momentos de maior incerteza em que nada ao contrário do que foi dito ficou claro", aponta Rui Tavares
O Bloco (BE) concordou com o apelo ao voto feito pelo PR e disse esperar "uma grande viragem na política portuguesa". Sobre os alertas de Marcelo para o crescimento económico, Luís Fazenda defendeu que "sem justiça social", ou seja, sem redução da pobreza não será possível.
"As contas certas não podem ser um fetiche, ser endeusadas ao extremo de impedir o investimento público e impedir a capacidade de regeneração, de organização e de funcionamento de serviços públicos essenciais na democracia, como a saúde, como a educação, vários segmentos da solidariedade social, como uma política pública de habitação", disse o dirigente bloquista. Estes serão aliás os temas centrais da campanha para as legislativas por serem "temas do quotidiano dos portugueses", sublinhando ainda "o brutal aumento do custo de vida, que é aquilo que inaugura o ano, neste dia".
"As contas certas não podem ser um fetiche, ser endeusadas ao extremo de impedir o investimento público e impedir a capacidade de regeneração", critica Luís Fazenda
Para o PCP a mensagem de Ano Novo constatou os "problemas que o país atravessa"."A mensagem do Presidente da República [Marcelo Rebelo de Sousa] é essencialmente uma mensagem de constatação dos problemas que o país atravessa. O senhor Presidente da República entendeu dar destaque à identificação desse elenco de problemas que afetam a vida dos portugueses", realçou o ex-líder parlamentar do PCP João Oliveira
Mas faltou acrescentar que "é preciso mudar para políticas que garantem o cumprimento da Constituição". Para isso, segundo João Oliveira, é preciso consagrar o aumento dos salários e das pensões, o acesso aos cuidados de saúde e o reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o acesso à habitação e a valorização da escola pública. "As eleições não mudam tudo, mas podem criar condições para que as coisas mudem", acrescentou o comunista.
"É preciso mudar para políticas que garantem o cumprimento da Constituição", defende o PCP
O PAN preferiu destacar causas que ficaram de fora da mensagem de Marcelo e que um grupo parlamentar pode retomar, como a pobreza, os mais jovens, o combate às alterações climáticas e o desenvolvimento económico. "Para o PAN é preciso que no próximo dia 10 de março se garanta não só a força, no caso um grupo parlamentar, para podermos retomar as causas e colocar as causas no centro político da nossa atividade, para que Portugal possa ter um maior combate à violência doméstica, que não desapareceu como pano de fundo e não esteve presente nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa", criticou a líder do PAN, Inês Sousa Real.
A habitação e a "crise habitacional", com mais de 10 mil pessoas em situação de sem-abrigo, é outras das omissões na mensagem do chefe de Estado apontada por Sousa Real que defendeu que a erradicação da pobreza tem de ser "um desiderato" do país, assim como o acesso à habitação: "Numa altura em que estamos tão perto dos 50 anos do 25 de Abril, o chamado 1.º direito não pode ser um direito que fica reiteradamente para trás.", criticou a deputada.
Inês Sousa Real frisa que a erradicação da pobreza tem de ser "um desiderato" do país, assim como o acesso à habitação.
hh