É um “aparente” regresso. Pedro Nuno Santos voltou ao “praticamente impossível” e à garantia repetida de que não tem “nenhum cálculo eleitoral”, ao mesmo tempo que diz ser “muito importante evitar eleições” - tal como argumenta, desde maio, Marcelo Rebelo de Sousa -, assegurando, por isso, que o PS não se coloca “de fora” estando até os socialistas “disponíveis para dar uma oportunidade a quem quer governar Portugal para garantir condições para a viabilização desse Orçamento e, dessa forma, evitar eleições antecipadas”. Condição? “Mas não a qualquer preço”..A disponibilidade do PS já foi “praticamente impossível”; depois passou de “muito difícil” a “abertura”; depois a “superável”; mais tarde surgiu um “viabilizar” - verbo antecedido de um “se for para…” - ; houve ainda um “abraçar (…) para construir uma solução comum”; ainda, a “disponibilidade séria”; e depois, por fim, a ideia de que um “profundo desacordo” com o Governo, por exemplo na área da Saúde, não impediria “a possibilidade de viabilizar o OE” porque um Orçamento do Estado “não são duas medidas”..Ontem, houve um regresso do “praticamente impossível” - que fontes parlamentares do PS classificam de “aparente” -, por incluir acrescentos de “oportunidade” e de exigências repetidas de “condições para a viabilização” que evitem Eleições Legislativas e - eis aqui a novidade na narrativa política - a certeza de que o PS não se comprometerá com um OE do qual discorde “na sua globalidade”..Ora, dizem fontes parlamentares do PSD, a “globalidade” é o último passo de um processo [a votação final global do OE2025] que antecede as “discussões e negociações” na “especialidade” [nas comissões parlamentares] e a “apreciação política” e votação da “generalidade”..Rui Tavares, deputado e líder do Livre, já tinha admitido, ao DN, como possível “um cenário em que a discussão do Orçamento na especialidade é muito mais aberta e em que o Orçamento que sai deste Parlamento numa votação final global é um documento muito diferente do que estará a ser entregue pelo Governo como proposta de Orçamento”..O outro cenário é o Governo conseguir “um acordo orçamental com um parceiro que tenha os deputados que lhe fazem falta [o PS] e, nesse acordo orçamental, tem de aprovar medidas desse parceiro orçamental e rejeitar as medidas dos outros”..Na prática traduz os alertas de Marcelo Rebelo de Sousa para que não haja “crise política” em outubro [votação na generalidade] e em novembro [votação global]..Dito de outra forma, as palavras do secretário-geral do PS, “descontando o natural discurso para militante”, significaram para as fontes parlamentares do PSD, ouvidas pelo DN, a “disponibilidade” do PS para “negociar”, sabendo que “nunca será um Orçamento do Estado do PS” [palavras de Pedro Nuno Santos], e permitir a análise “mais profunda” das propostas na especialidade [o que traduz uma viabilização na votação na generalidade] deixando a decisão “política” para a votação final global do Orçamento do Estado - a “hora da verdade”, como já disse Marcelo Rebelo de Sousa..“Há promessas feitas pelo Governo, que são muitas e respeitam ao futuro, que supõem um novo Orçamento (…), há promessas feitas ou já aprovadas, propostas pela oposição, que implicam também um Orçamento (…), na hora da verdade vai haver o bom senso de se perceber que tem de se arranjar soluções para o Orçamento ser viabilizado”, porque, já sublinhou o Presidente da República, “é importantíssimo um Orçamento do Estado (…). Vai haver Orçamento, a meu ver, porque o mundo, a Europa, o PRR, tudo isso aponta para haver Orçamento.”.E, quanto mais não fosse, elaborou Marcelo Rebelo de Sousa, porque “o Governo é minoritário, portanto precisa de falar com as oposições. E. por outro lado, porque as oposições [o PS] sabem que realmente a estabilidade é fundamental para elas próprias. Para amanhã serem Governo, verdadeiramente, precisam que a situação seja estável, porque se não estiver estável, também não são o Governo.”.É, aliás, por isso, dizem fontes parlamentares socialistas, que José Luís Carneiro, que disputou a liderança do partido com Pedro Nuno Santos, disse que “a estabilidade é essencial, particularmente numa altura em que estamos a viver uma guerra na Europa e outra no Médio Oriente e quando o país, Estado e autarquias, têm metas tão exigentes para cumprir” - argumentos usados repetidamente por Marcelo Rebelo de Sousa..O deputado do PS diz ser importante que os socialistas mostrem “disponibilidade para dialogar” , mas “com linhas vermelhas”, a primeira das quais as “contas certas”, remetendo para o Governo a responsabilidade de “tomar a iniciativa de apresentar as propostas”, assim como dar o passo para “o diálogo e a concertação política”..O argumento coincide com o que já disseram ao DN fontes socialistas: O partido “quer” ainda “perceber que tipo de propostas [do Governo] é que estão no Orçamento do Estado, qual é a dinâmica do Orçamento (…), perceber a folga, que eventualmente exista, para apresentarmos projetos”.