Bloco reúne-se em conferência a 30 de abril para discutir rumo estratégico
O Bloco de Esquerda marcou para 30 de abril a conferência nacional que vai discutir o "rumo estratégico" do partido, depois do desaire eleitoral nas legislativas antecipadas de 30 de janeiro. A data foi fechada numa reunião da Comissão Política dos bloquistas na passada semana. Mas a solução encontrada para discutir o posicionamento político do BE, que viu o grupo parlamentar encolher de 19 para cinco deputados nas últimas eleições, não agrada à oposição interna, que mantém em aberto a hipótese de pedir a convocação de uma convenção extraordinária.
Para Pedro Soares, um dos principais rostos do movimento Convergência, crítico da direção dos bloquistas, esta é uma solução que "não faz sentido", dado que se trata de uma iniciativa que "não é representativa e não tem qualquer capacidade de decisão, não decide nada". Admitindo que a conferência nacional terá "algum interesse para aprofundar o balanço" não só do último resultado eleitoral, mas das perdas que o antecederam - nas legislativas de 2019, presidenciais e autárquicas - , o antigo deputado sustenta que este está longe de ser o instrumento adequado para discutir o rumo do partido. A opção da direção pelo formato de conferência, defende Pedro Soares, visa apenas "procurar evitar ao máximo que haja uma convenção extraordinária". "A situação política mudou radicalmente, não é uma mera evolução relativamente à legislatura anterior", assinala, sublinhando que, neste contexto, "fazia todo o sentido que houvesse uma convenção" no curto prazo - um encontro que, pelo calendário normal, ocorrerá em 2023.
Para Pedro Soares há "uma falta de reconhecimento da penalização que o eleitorado fez ao Bloco e essa falta de reconhecimento é motivo de descrédito". "Não se vê nenhum assumir de responsabilidades nesta derrota, a culpa é de fatores externos, circunstanciais", critica o antigo parlamentar, que tem recusado a tese da bipolarização das eleições como argumento para o mau resultado dos bloquistas, invocando que essa bipolarização já ocorreu noutros atos eleitorais, sem que o partido tenha sofrido um desaire nas urnas.
Outro alvo de críticas é o calendário adotado, que deixa o Bloco de Esquerda "numa situação de águas paradas, num apodrecimento da situação, um pântano interno" - "Vamos discutir isto três meses depois das eleições, faz algum sentido? É uma sombra que estão a colocar no debate".
O antigo parlamentar destaca que o propósito do movimento Convergência não é pedir a saída da coordenadora, Catarina Martins: "Não colocamos essa questão, o problema não é esse, é um problema de linha política". Há muito que esta plataforma critica o que considera como uma excessiva aproximação do Bloco de Esquerda ao PS.
Nas últimas semanas o BE tem vindo a realizar plenários distritais para discutir o resultado das últimas eleições com os aderentes do partido, um ciclo que terá desfecho precisamente na conferência marcada para 30 de abril.
Pedro Soares não adianta ainda o que fará o movimento Convergência, remetendo posições mais definitivas para um encontro do movimento marcado para 19 de março. Para já, diz que todas as hipóteses estão em cima da mesa, nomeadamente avançar para o pedido de uma convenção extraordinária. De acordo com os estatutos do Bloco de Esquerda o órgão máximo do partido reúne-se "com uma periodicidade de dois anos, podendo ser convocada extraordinariamente por iniciativa da Mesa Nacional ou de dez por cento das e dos aderentes". "É um dos instrumentos que não descartamos", garante.
Nas últimas eleições, o Bloco de Esquerda perdeu mais de 250 mil votos face às legislativas de 2019, caindo para um pouco menos de metade face ao escrutínio de há três anos. Os bloquistas falharam praticamente em toda a linha os objetivos que tinham definido para estas eleições: manter-se como terceira força política (o partido caiu para quinta força em votos e para sexta em número de deputados); evitar a direita no poder, o único objetivo alcançado; e ganhar força para uma solução de governo à esquerda, uma meta que acabou eclipsada pela maioria absoluta do PS.
Logo na noite eleitoral Catarina Martins admitiu o "mau resultado", que atribuiu a uma "campanha muito difícil, com uma bipolarização que, como se percebeu, era falsa e criou uma enorme pressão de voto útil que penalizou os partidos à esquerda". Dois dias depois, à saída de uma audiência em Belém, a líder dos bloquistas garantia que cumprirá "por inteiro" o mandato à frente do partido (até 2023), avisando os "caçadores de cabeças" que o BE não decide a direção em função dos resultados eleitorais.
No fim de semana seguinte, após a reunião da Mesa Nacional, a coordenadora do Bloco falou numa "derrota eleitoral pesada", referindo que o BE "não foi capaz de comunicar as razões profundas do chumbo do Orçamento do Estado", apontando novamente o "fenómeno artificial de bipolarização" entre PS e PSD, levando o eleitorado de esquerda a concentrar o voto nos socialistas. Catarina Martins anunciou então que o partido avançaria com plenários distritais para discutir o rumo do partido, que culminariam numa conferência nacional.