André Ventura e cabeça de lista estiveram em rota de colisão quanto à Ucrânia
O líder do Chega, André Ventura, confirmou ontem que escolheu o embaixador Tânger Corrêa para cabeça de lista às eleições europeias de 9 de junho, “com o objetivo de vencer e contribuir para evitar uma maioria de centro-esquerda ou do Partido Popular Europeu”, impedindo um novo mandato da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Mas a opção pelo vice-presidente do partido também pode indiciar a aproximação do Chega em relação à sua família política europeia, Identidade e Democracia (ID), no que toca à Ucrânia, pois enquanto Ventura condenou, desde o início, a invasão russa “sem meias palavras”, Tânger Corrêa partilhou textos nas redes sociais bem menos taxativos.
Após a entrada de tropas russas na Ucrânia, Tânger Corrêa partilhou no Facebook um texto, de outro autor, que manifestava “solidariedade com todos os ucranianos” que eram “vítimas de decisões irrefletidas, idiotas e perigosas (para não dizer outra coisa) do Governo de Kiev”. E criticava o “coro de lamentações” daqueles “que não se indignaram quando os Estados Unidos e seus aliados e a NATO atacaram, invadiram e ocuparam, sob falsos pretextos, territórios a milhares de quilómetros”, como a Jugoslávia, Afeganistão, Iraque e Líbia.
Também em fevereiro de 2022, o diplomata, que foi embaixador de Portugal em diversos países, mencionou nas redes sociais a crise dos mísseis de Cuba, a guerra dos Balcãs e a independência do Kosovo para deixar a garantia de que “não sou anti nem pró ninguém”, mas apenas “um diplomata profissional, aliás envolvido nos dois últimos casos”. Contactado pelo DN, Tânger Corrêa optou por não fazer declarações sobre este tema.
Também sem responder ao DN quanto a eventuais implicações da escolha de Tânger Corrêa no posicionamento do Chega em relação à Ucrânia, André Ventura aproveitou o anúncio do cabeça de lista, feito na Assembleia da República, para antecipar uma vitória eleitoral de uma “grande coligação europeia, da Hungria até Lisboa”, que junte partidos da ID (como a Reunião Nacional, de Marine Le Pen; a Liga, de Matteo Salvini; e a Alternativa para a Alemanha), dos Conservadores e Reformadores Europeus (incluindo os Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni; o Vox, de Santiago Abascal; e os polacos do Lei e Justiça), e outras forças políticas.
Polémico nas redes
Além da Ucrânia, Tânger Corrêa (que competiu nos Jogos Olímpicos de 1992 como velejador) nem sempre é diplomático na forma como se refere a figuras nacionais e europeias nas redes sociais. Aludindo ao encontro de Luís Montenegro com a presidente da Comissão Europeia, o agora cabeça de lista do Chega escreveu que era “mau presságio” que o futuro primeiro-ministro se “precipitasse nos braços da corrupta Ursula”.
Sobre o Presidente da República, Tânger Corrêa escreveu que o “imprestável Marcelo” “não consegue deixar de ser um idiota útil do PS”.
Quanto aos socialistas, descritos como “totalitários populistas”, Augusto Santos Silva é descrito como “Augusto SS”, e não falta uma referência a um “ditadorzeco de pacotilha, de seu nome Carlos César, que nem açoriano de gema é”.