Mais do que “uma questão geracional”, mexer na Justiça, de forma a melhorá-la, é “uma questão de regime”. Assim definem os 60 jovens que, juntos, divulgaram um manifesto pela reforma de Justiça - à semelhança do que já acontecera com 50 personalidades, num outro documento..E foi precisamente esse primeiro manifesto que serviu de inspiração àquele que estes jovens agora divulgaram. Queriam, acima de tudo, mostrar que a sua geração “também se preocupa com os velhos problemas do país”, explica Rosina Ribeiro Pereira, uma dos ex-deputados jovens (quer de PS ou PSD) que estão entre os subscritores. Para a ex-parlamentar do PSD, “os problemas que a Justiça tem” são “obviamente” motivo de preocupação. “Entendemos que, à semelhança dos subscritores do manifesto original, não podíamos virar costas a esta questão”, acrescenta..A política não é, no entanto, a única área dos subscritores. Assinado por ordem alfabética - para “que nenhum nome se sobreponha à importância do tema” - há ex-deputados de PS e PSD, candidatos às últimas Eleições Europeias (Francisco Paupério, Livre, e Hugo Trindade, do PAN), “muitos presidentes de associações académicas” e, ainda, figuras do desporto (como o capitão da equipa de hóquei em patins do FC Porto, Gonçalo Alves, ou Juliana Rocha, cinco vezes Campeã Nacional de boxe). Todos aqueles que são bem-vindos, desde que tenham entre 18 e 35 anos. Esta “pluralidade é bastante importante”, porque mostra que a reforma da Justiça “é, de facto, uma preocupação” para as gerações mais novas..No texto divulgado na passada sexta-feira, os subscritores pedem mudanças no Setor Judicial. Por exemplo: “Uma adequada organização”, bem como um “funcionamento eficaz” são dois dos fatores “indispensáveis para a defesa dos direitos, liberdades e garantias de cidadãos e empresas”. “A atual morosidade dos processos, conjugada com a ausência de garantias para os visados, não só limitam, como verdadeiramente restringem o direito fundamental de acesso à Justiça e a uma tutela jurisdicional efetiva”, acrescentam ainda os subscritores. Muitas destas mudanças passam, claro, pelos partidos políticos, que “têm o dever de dialogar e de negociar”..Quando informaram os criadores do manifesto original, a ideia foi “muito bem acolhida”. Esse documento “até já tinha alguns subscritores jovens”, como o ex-líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos ou o presidente da Federação Académica do Porto, Francisco Porto Fernandes. “Os jovens já lá estavam, mas a média de idades era muito alta”, diz Rosina Ribeiro Pereira. Tendo uma segmentação “mais jovem” iria, então, contribuir “para que as pessoas percebessem que é um problema que também afeta os jovens”..E ainda sem querer revelar muito sobre como será, daqui para a frente, a coordenação com o manifesto original, certo é que estes jovens já pediram para se associar diretamente. Afinal, o direito de acesso à Justiça “é fundamental” e, na opinião destes signatários, “não está a ser assegurado. Está a comprometer-se a Justiça como um todo”. “O que está consagrado na Constituição tem de ser cumprido, não pode ser uma palavra morta. Os direitos não podem ser afetados pelos problemas a que se tem assistido nos últimos tempos”, acrescenta a ex-deputada do PSD, que entrou como substituta de Joaquim Pinto Moreira, ex-autarca de Espinho a braços, ele próprio, com a justiça..Novas áreas também merecem preocupação.No que toca às áreas de intervenção que consideram prioritárias, o manifesto escrito pelos jovens aborda os temas tradicionais: área penal, administrativa cível e laboral, por exemplo. Mas não só, como explica Rosina Ribeiro Pereira: “Queremos também abordar as novas áreas que têm aparecido, nomeadamente aquelas ligadas à inteligência artificial.” A intenção é “antecipar a introdução dessas ferramentas”, porque “com todas as suas vantagens e os seus perigos” há uma urgência em “antecipar as necessidades e os desafios” emergentes..Com a divulgação já feita, alargar o número de subscritores pode ser o próximo passo. O mesmo aconteceu, aliás, com o manifesto original que, depois de ter sido conhecido há pouco mais de um mês, já duplicou o número de assinaturas. “É perfeitamente possível” que o mesmo venha a acontecer agora. Mas, para já, “o objetivo era que fosse divulgado e se pudesse iniciar o processo”. “Acredito que vá alargar o número de subscritores, sim, mas não posso comprometer-me”, diz Rosina Ribeiro Pereira.