25 de Abril. Exposição mostra "viragem histórica" com 50 anos
A sala ampla no Museu Nacional de História Natural e de Ciência, em Lisboa, que desde esta quarta-feira é ocupada pela exposição Às Armas ou às Urnas - Povo, MFA e Forças Armadas: entre revolução e democracia (1974-1982), está cheia de memórias embalsamadas do 25 de Abril.
São fotografias, objetos históricos, como o cronómetro utilizado para medir o tempo das intervenções dos conselheiros do Conselho da Revolução, um organismo político militar que funcionou até 1982, exercendo funções de aconselhamento do Presidente da República, ou artigos didáticos que mostram as caricaturas de Álvaro Cunhal ou Mário Soares.
Um jogo classificado pelos curadores da exposição como "teoricamente infantil", com imagens de Mário soares, Álvaro Cunhal e Isabel do Carmo.
Desenvolvida pela Comissão Comemorativa 50 anos de 25 de Abril, liderada pela historiadora Maria Inácia Rezola, a exposição tem curadoria de Bruno Cardoso Reis, David Castaño e Gonçalo Margato. O último, o mais novo dos três historiadores, explicou a importância dos “movimentos sociais”, que se resumem à “adesão popular”, ou seja, “as grandes massas sociais que permitem, logo no dia 25 de Abril de 1974, a conversão do que seria um golpe militar numa revolução”.
Cronómetro que media a duração da intervenção dos conselheiros nas reuniões do Conselho da Revolução, um organismo político militar que funcionou até 1982, exercendo funções de aconselhamento do Presidente da República.
Pouco depois, a contextualização de Maria Inácia Rezola sobre a exposição resumiria o objetivo destes investigadores: “Se a Constituição e a organização popular foi destacada logo no início da exposição, porque, sem dúvida, foram um fator determinante para o sucesso da operação Viragem Histórica, o segundo tema que se quis destacar foi a descolonização.” “Um dos motores para o 25 de Abril”, concluiu a comissária.
Página do Diário de Notícias com artigos sobre as antigas colónias.
A emoção deste período da história da democracia portuguesa é evidente na voz dos três curadores da exposição. Bruno Cardoso Reis ia fazendo apontamentos às intervenções dos outros historiadores.
"Nós temos ali o programa do MFA [Movimento das Forças Armadas] emendado à mão. Essas emendas são aquelas famosas emendas do próprio dia em que o General Spínola impõe uma série de alterações que têm a ver com a questão do ultramar", explicava o historiador, enquanto corria em pano de fundo um filme eclético com várias imagens da revolução e com uma música iterada, que preenchia o silêncio: Grândola Vila Morena, de José Afonso.
Copos que evocam a Junta de Salvação Nacional, António de Spínola e Vasco Gonçalves.
Questionado sobre o lado que a exposição não mostra, Bruno Cardoso Reis explica que "esta não é uma exposição sobre o impacto da descolonização".
"É um impacto, desde logo, para os portugueses que viviam lá. Muitos deles até já lá nascidos. Mas, enfim, vamos chamar-lhes africanos brancos. Também não é uma exposição que sente um impacto para os africanos - que também existiu e foi dramática em vários casos, sobretudo em Angola e Moçambique. No caso de Angola, imediatamente, há uma guerra civil", concluiu.
A exposição pode ser visitada até 16 de fevereiro de 2025 e, de acordo com Maria Inácia Rezola, a exposição poderá, depois de sair do Museu Nacional de História Natural e Ciência, percorrer o país, em escolas ou onde puder ser recebida.