Livre e BE condenam Rússia. PCP ataca NATO e EUA

Uma semana após o ataque, todos os partidos já reagiram à ofensiva. Livre mantém-se fiel aos seus ideais europeístas; BE condena e pede sanções; PCP marca posição anti-NATO e EUA.
Publicado a
Atualizado a

Ao fim de uma semana da ofensiva russa na Ucrânia, a comunidade internacional tem condenado este ato.

Portugal, fazendo parte da União Europeia (UE) e da NATO, tomou uma posição de condenação e de imposição de sanções à Rússia. As posições dos partidos, da esquerda à direita, foram mais ou menos consensuais: todos - exceto o PCP - condenam diretamente a ação russa na Ucrânia.

Com isto, a posição do PCP tem estado no olho do furacão. Segundo os comunistas, até agora, a NATO, a UE e os Estados Unidos são os principais culpados do ataque, e procuram reforçar "o dispositivo militar junto às fronteiras" da Ucrânia, "que levou à imposição de um regime xenófobo e belicista", disse o partido em comunicado. Questionado pelo DN sobre esta posição, o PCP recusou comentar.

Segundo explica António Costa Pinto, investigador no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, "esta posição é um reflexo daquilo que tem sido a política externa do PCP desde o fim da URSS". Ou seja, não é uma posição totalmente pró-Rússia, mas sim uma "posição anti-NATO e, ao mesmo tempo, anti-Estados Unidos". Isto acontece, diz, porque "os Estados Unidos são, historicamente, o oposto daquilo que o PCP defende. Têm uma posição antissocialista muito vincada". A mesma perspetiva é defendida por Adelino Maltez, politólogo, que considera esta "uma questão de ADN". "O PCP ainda está muito marcado pelo espírito do sol da Terra", diz, recorrendo a uma expressão de Álvaro Cunhal, histórico líder comunista, considerando que "esta é uma posição consensual" com aquilo que o PCP tem defendido ao longo da história.

Para Carlos Brito, antigo dirigente comunista, "nada justifica a ofensiva de Putin na Ucrânia, e deve ser condenado por isso". Segundo o ex-PCP, aquilo que acontece, neste momento, "é uma disputa de zonas de influência". De um lado, estão os Estados Unidos e a NATO; do outro, está a Rússia. "São dois imperialismos", resume, apesar de a posição do PCP ser coerente com o histórico do partido. "Foi sempre a condenação da guerra que separou os comunistas de todos os outros, por isso, tenho muita dificuldade em perceber a posição do PCP", diz Carlos Brito. "A comunidade internacional deve esforçar-se para acabar com o conflito", considera.

No dia 1 de março, os dois eurodeputados do PCP votaram contra uma resolução do Parlamento Europeu (num total de 13 votos contra) que condenava a ofensiva russa. Isto fez que o PCP votasse ao lado de forças políticas ligadas à extrema-direita.
Adelino Maltez considera que "o PCP acaba por se colar a forças que normalmente tenta afastar, mais ligadas à direita radical, é a lógica de, por vezes, os extremos se tocarem".

Também o Livre reagiu à ofensiva russa na Ucrânia. Contactado pelo DN, o responsável Pedro Mendonça remeteu a posição para um comunicado assinado pela direção. Publicado no site do partido, o documento considera a invasão "ilegítima, ilegal" e alega que "agrava brutalmente a crise que a Europa vive". Na perspetiva do partido, "é urgente preparar a ajuda a refugiados de guerra e Portugal deve estar na primeira linha de defesa dos direitos humanos". Na opinião de Adelino Maltez, esta posição é, tal como no caso do PCP, "coerente com aquilo que o partido defende. Tem uma perspetiva inequivocamente europeísta e é isso que a posição denota", conclui.

Além disso, o Livre apontou também a eventuais sanções ao sistema russo. Para o partido, é altura de "investigar o dinheiro sujo dos oligarcas; confiscar propriedades; retirar licenças a bancos russos e retirar a Rússia do sistema SWIFT de pagamentos internacionais, caso não haja cessar das hostilidades e o regresso das tropas às anteriores posições", lê-se.

Segundo a direção do partido, "a UE deve agora, perante esta crise, deixar de ter dúvidas sobre a importância, também geoestratégica, da Europa" e aumentar o investimento em energias renováveis para compensar a falta de gás natural, que importava da Rússia.

Na reunião da Comissão Permanente da Assembleia da República, que aconteceu a 24 de fevereiro (o primeiro dia da guerra), o líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE), Pedro Filipe Soares, afirmou que o partido condenava "sem reservas, o ataque em curso e a ocupação do território de um país soberano". Na declaração, o responsável considerou também que "não há imperialismos bons e imperialismos maus, são todos perigosos para os povos", o que levou o BE a rejeitar a ação militar russa.

Ouvido pelo DN, o eurodeputado José Gusmão explicou que, entretanto, o BE reforçou também o pedido para que "as sanções económicas fossem consistentes", apesar das "hesitações iniciais" de alguns Estados membros, como a Alemanha ou a Itália.

Outra das batalhas dos bloquistas trava-se contra os vistos gold, que o partido quer ver extintos. "É necessário revogar estas autorizações de residência a pessoas com altos rendimentos", considera.

Tal como o Livre, também o Bloco congratula a posição da União Europeia em matéria de refugiados. "Foi dado o passo que faltava, resta garantir que não há discriminação entre pessoas", conclui.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt