Paulo Raimundo reafirmou que o PCP não tem nada em comum com o regime de Putin e combate-o "na essência", depois de Rui Tavares lembrar que "a Ucrânia foi várias vezes coagida" pela Rússia e que "quem está a correr para a guerra não é a Europa".
Paulo Raimundo reafirmou que o PCP não tem nada em comum com o regime de Putin e combate-o "na essência", depois de Rui Tavares lembrar que "a Ucrânia foi várias vezes coagida" pela Rússia e que "quem está a correr para a guerra não é a Europa".Foto: DR

Rui Tavares quer a Europa a investir mais em Defesa. Raimundo avisa que "a fatura vai recair sobre os povos"

A grande divergência no debate entre o porta-voz do Livre e o líder do PCP foi a Europa, mas houve mais a aproximá-los do que a separá-los num debate onde também se discutiu habitação e futuro.
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"Nós não acompanhamos nada esta ideia de que a Europa precisa de se armar até aos dentes", voltou a afirmar o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, esta quarta-feira, num debate televisivo na SIC Notícias que o opôs ao porta-voz do Livre, Rui Tavares, que, por sua vez, momentos antes, defendera uma unidade europeia que passasse também por um reforço da autonomia militar europeia. Até porque, vincou, "estamos a transitar para um mundo de multipolaridade" em que a China surge como "potência emergente" e onde a "Rússia é potência militar".

"A Europa, para ser livre, tem de ser unidade", sublinhou o líder do Livre, enquanto esclarecia que nada disto "passa por gastar mais em armas", ainda que o velho continente tenha de fazer escolhas, como "não comprar caças F-35 aos Estados Unidos da América".

Questionado pela jornalista sobre como é que encarava a ideia de dissolução dos blocos político-militares da NATO, defendida pelo PCP, Rui Tavares lembrou que "a União Europeia não é um bloco militar", ainda que seja "a salvação para os estados médios e pequenos da Europa".

Paulo Raimundo optou por considerar que "o país precisa de valorizar as forças armadas" através do "desígnio institucional atribuído pela Constituição da República".

"Não trocamos dinheiro para a guerra" por habitação, creches ou lares, afirmou o líder comunista, sustentando que "a fatura, se se confirmar, vai recair sobre os povos".

Paulo Raimundo considerou ainda que Portugal precisa de investir nas Forças Armadas, mas não precisa de "investir numa dinâmica de guerra". Por este motivo, defendeu a criação de um "plano de desenvolvimento das Forças Armadas", com o objetivo de defender o território nacional, porque, insistiu, "faz-nos falta material e faz-nos falta gente".

No contra-ataque ameno, Rui Tavares lembrou que "o governo húngaro vai servir de submarino de Putin dentro do Conselho Europeu", referindo ainda a "crise de segurança e defesa na Europa".

"Antes, tivemos a pandemia", lembrou, acrescentando que, agora, "temos a guerra tarifária".

"Armado até aos dentes está Putin", afirmou, respondendo diretamente ao que dissera Paulo Raimundo, ironizando que não teria servido de nada ir ao Kremlin conversar com Putin.

"Podiam ter ido lá mais ao Kremlin", sobrepôs-se Raimundo, enquanto Rui Tavares recordou que "a Ucrânia foi várias vezes coagida" pela Rússia e que "quem está a correr para a guerra não é a Europa".

"A Europa tem de ser levada a sério", defendeu o porta-voz do Livre, explicando que "a Europa só gasta 1% do PIB em defesa".

O líder do PCP lembrou o "leque de crises" a que Rui Tavares aludiu e reafirmou que "a conta sobrou sempre para os mesmos", isto é, "para quem trabalhou uma vida inteira".

Paulo Raimundo disse não entender "a veemência" com que Rui Tavares argumentava com as ações de Putin, tendo em conta que o PCP não só não partilha das ideias do presidente russo como até as combate "na essência".

"Estamos confrontados com uma situação no plano internacional" que implica que sejam tomadas decisões, disse o líder comunista: "Ou pactuamos com a guerra ou alimentamos a guerra."

Questionado pela jornalista sobre se o PCP defende uma saída negociada de Portugal da União Europeia, o secretário-geral comunista disse: "Nós carregamos às costas as consequências da União Europeia sem máscara."

"Os anos da troika no nosso país", completou, explicando, porém, que o partido não abdica de intervir na UE.

"Portugal não é uma província da União Europeia, não é um apêndice da NATO e dos EUA", afirmou, enquanto defendia a necessidade de haver "ação para o nosso rumo de desenvolvimento", que passa por "diversificar as relações comerciais", "alimentar o mercado interno", que só se consegue com um "aumento dos salários".

Em relação à saída de Portugal da União Europeia, acabou por concluir que "não é um ato de saída extemporâneo".

"Nunca colocámos essa questão", assegurou.

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