Bruno Gonçalves Pereira nunca foi “filiado em nenhum partido”, nem tinha “sido candidato a nenhum cargo político”. Mas as “coisas em Santiago do Cacém”, que “podiam estar mais desenvolvidas” e o “território mal aproveitado”, que causou “uma série de oportunidades perdidas”, levaram-no a avançar para a candidatura à autarquia alentejana, de onde é natural. Foi uma aposta de sucesso. Em 49 anos de eleições para o poder local, Santiago do Cacém nunca tinha votado noutra ‘cor’ que não o vermelho. Desde 1976 (ano de nascimento do agora autarca eleito), a CDU venceu sempre eleições autárquicas no concelho… até agora, ano em que o movimento “Somos Todos Cidadãos” (STC) destronou a coligação composta por PCP e Partido Ecologista Os Verdes. E com um dado extra: tanto o PSD como o PS apoiaram o movimento independente.O apoio do bloco central foi, porém, tudo menos fortuito. A “matriz” continua a ser independente, mas quando os membros do movimento de cidadãos decidiram avançar, pensaram: “Por que não falamos com os partidos da oposição e não perguntamos se nos querem apoiar e não apresentar candidatura própria?” Com menos dispersão de votos, esta “seria a única forma de Santiago mudar de projeto político”. A nível concelhio, as estruturas sociais-democratas e socialistas receberam “bem” a proposta, comunicando-a às distritais, e depois às direções de cada partido. “Aconteceu então esta situação, pela qual muita gente ansiava”, assume Bruno Gonçalves Pereira, em conversa com o DN. De há alguns anos a esta parte, “a gestão autárquica acabou por se transformar cuidar dos jardins ou, às vezes, arrancar alcatrão novo para colocar outro novo no mesmo lugar”. “As pessoas não estavam contentes com esta gestão” e o resultado eleitoral acabou por confirmar isso. Até porque, com quase cinco décadas de gestão autárquica, “acaba por se perder aquela força de vontade e entusiasmo inicial. Nos anos 1980 estava quase tudo para fazer, mas foram-se criando vícios e pouca alternância”.Com um percurso profissional ligado “ao Direito e à Comunicação Social”, Bruno Gonçalves Pereira faz parte da direção de programas da Antena 1. Mas, garante, mal tome posse no próximo dia 31 de outubro vai pedir “uma requisição de cedência” para poder colocar a “carreira em pausa” e abraçar “este novo desafio”. Apesar de trabalhar “fora” do concelho, Bruno Gonçalves Pereira esteve “sempre ligado à terra”, ainda que não na política. Até aqui, tinha “feito parte de algumas associações”, como a banda filarmónica.Para fazer o programa eleitoral, o movimento “fez questão de ouvir as pessoas”. Isso levou a que fossem recebidos “mais de 200 e-mails de todo o concelho com diferentes ideias”. Juntando este fator ao facto de PSD e PS “não terem apresentado candidatos próprios, dando o apoio” ao movimento, os eleitores “não tiveram tanto pejo em votar” neste grupo de cidadãos. “Acredito que este conjunto de fatores, mais a vontade de terem pessoas à frente que não estavam na política, bem como uma equipa renovada, acabou por, se calhar, conduzir à eleição”, analisa Bruno Gonçalves Pereira.Falta de maioria obriga a diálogo e não trava ambiçõesQuando assumir funções, o autarca eleito já sabe que está obrigado a falar com todos os partidos do executivo municipal, composto pelo movimento de cidadãos pelo qual foi eleito, com três vereadores, pela CDU (que tem o mesmo número de mandatos) e pelo Chega, que ficou com apenas um. Isto obriga a que haja diálogo interno para que se consigam aprovar medidas. A situação não preocupa Bruno Gonçalves Pereira. A 12 de outubro, a população foi clara e disse que “queria” o movimento independente a “governar”. Mas “também disse que tem de haver acordos” - algo que, garante, vai acontecer com toda a oposição.As prioridades estão bem definidas: “Temos de responder à crise gravíssima da habitação. Temos Sines, um concelho pequeno, aqui ao lado e esperamos entre 25 a 30 mil pessoas para as novas indústrias de Sines, e dar resposta a quem cá está. Depois, temos uma rede de estradas bastante degradadas, apesar de estar a ser construída a A26, podemos ter autostrada direta, por exemplo, ao Algarve. Isto fará com que uma viagem de Santiago-Lisboa, que atualmente dura, na melhor das hipóteses, 1h20, passe a durar à volta dos 50 minutos. Vai ser uma mais-valia.” .Cinco conclusões das autárquicas de 2025.Onda laranja chega ao Alentejo. Como o PSD está a conquistar o antigo bastião comunista