Luís Montenegro e Paulo Raimundo protagonizaram esta segunda-feira o primeiro debate das legislativas.
Luís Montenegro e Paulo Raimundo protagonizaram esta segunda-feira o primeiro debate das legislativas.Foto: Direitos Reservados

Montenegro pergunta se a família não tem direito a trabalhar. Raimundo acusa-o de vitimização

Primeiro debate das legislativas marcado por afastamento em tudo. O líder do PSD defendeu que apoiar a Ucrânia era apoiar a democracia. Raimundo acusa-o de ser contraditório e lembra a Palestina.
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Da Spinumviva ao IRC, da Saúde à Defesa, tudo afastou esta segunda-feira o líder do PSD, Luís Montenegro, do líder do PCP, Paulo Raimundo. Num debate – o primeiro no âmbito da legislativas marcadas para dia 18 de maio – definido por quem conseguia superar os argumentos sobrepostos pelo adversário, as posições sobre a habitação ficaram por esclarecer, mas o abismo entre os dois candidatos alargou-se.

Paulo Raimundo inaugurou o frente-a-frente, na TVI, com o caso da empresa familiar de Luís Montenegro, a Spinumviva, questionando a sobreposição dos interesses privados do primeiro-ministro com as funções que desempenha.

"Cumpri todas as minhas obrigações declarativas", garantiu Luís Montenegro, acrescentando que "não é verdade que tenha usufruído de nenhum benefício de empresas desde" que assumiu funções públicas.

O mesmo argumento foi repetido de diversas formas, acabando por assegurar que iria sempre responder às dúvidas que fossem levantadas.

"Não posso ser culpado por ter trabalhado quando não estava em funções políticas", insistiu o líder social-democrata, enquanto falava por cima dos argumentos de Paulo Raimundo, que, por sua vez, defendia que "o contributo que [o primeiro-ministro] devia ter dado à democracia era demitir-se".

"O que é que a minha atividade política sofreu por ter tido uma atividade profissional", perguntou, sem esperar qualquer resposta, o primeiro-ministro, completando a ideia com: "Já agora, a minha família também não tem direito?"

"Não venha fazer comigo a vitimização", apelou o líder comunista, acusando Luís Montenegro de ter feito "uma profunda confusão entre interesses privados e públicos", para além de uma ter havido uma "profunda promiscuidade entre os interesses económicos e o poder político".

Com estes argumentos, Paulo Raimundo lembrou também que a censura que o PCP fez "ao Governo não foi pela questão em concreto [da Spinumviva], mas pelas "opções políticas".

A jornalista introduziu o tema da Saúde no debate, o que aprofundou ainda mais as diferenças entre os adversários políticos.

"Um governo que aumentou as pensões", começou por lembrar líder do PSD, acrescentando a esta memória a subida do complemento solidário para idosos e a comparticipação dos medicamentos para idosos em 100%.

"É cada vez mais difícil para um comunista não votar na força que está hoje a governar", ironizou Luís Montenegro, antes de deixar em cima da mesa a isenção para jovens de IMT e imposto de selo na compra da primeira habitação.

Como resposta a esta ideia, Paulo Raimundo distribuiu pela jornalista e por Luís Montenegro um caderno que diz conter a "icónica propaganda" social-democrata. "Fez uma grande jornada de propaganda", acusou o líder do PCP.

"Ainda bem que o balanço de 12 meses de governação se traduz em propaganda", rematou Luís Montenegro, acabando por defender, retomando o tema da Saúde, que "a gestão privada pode ter maior agilidade da gestão dos recursos humanos".

Com esta ideia, Montenegro prometeu que iria encontrar sempre as melhores soluções para os cidadãos e não para o Estado, ainda que isso passe por levar para a Saúde parcerias publico-privadas.

Continuando a desmontar as opções do PSD, o líder comunista lembrou que a descida no IRC, aprovada no debate do Orçamento do Estado, não teve consequências nenhumas nos salários dos trabalhadores e teria dado "para financiar uma rede pública de creches".

"É uma opção ideológica, essa opção de transferir para quem faz da doença um negócio", acusou Paulo Raimundo, acabando por afirmar que a melhor gestão no Serviço Nacional de Saúde (SNS) aconteceria com dignificação das carreiras, que passa também por aumentar salários.

"Ou se investe no SNS, valoriza-se os profissionais, ou então vamos continuar a transferir recursos públicos para fazer negócios", sublinhou o líder comunista.

Luís Montenegro argumentou que o que o Governo tem feito é dignificar as carreiras, trazendo para o debate o crescimento económico de 1,9 pontos.

Sobre a receita fiscal do IRC, Luís Montenegro falou em mais de 10 200 milhões de euros. Paulo Raimundo insistiu com a pergunta: "Qual foi a consequência da descida dos impostos na vida difícil de quem trabalha, dos jovens, de quem trabalha por turnos?"

O primeiro-ministro disse apenas que a consequência desta descida no IRC é "libertar tesouraria nas empresas para investir em equipamento" e para pagar melhores salários.

A maior cisão neste frente-a-frente, ainda assim, aconteceu quando o tema da Defesa foi introduzido, quando Paulo Raimundo afirmou que "investir recursos públicos na guerra [...] não é nenhuma necessidade do país".

"Não precisamos de armas nem bombas", argumentou, acrescentando que "precisamos de construir medicamentos", "comboios".

"Nós não trocamos armas pela saúde, pelas pensões, pela Segurança Social."

Acusando a estratégia seguida pelo Governo de ser uma "falácia", Paulo Raimundo explicou que "não estamos a falar em defesa, estamos a falar em guerra".

Luís Montenegro afirmou que também o Governo não troca "políticas sociais por investimento em defesa", mas garantiu que Portugal apoia a Ucrânia por apoiar os direitos humanos e a democracia.

"Não venha com essa conversa comigo", respondeu o líder comunista, acabando por considerar que "essa contradição esbarra no problema da Palestina".

Luís Montenegro explicou, sem falar na Palestina, que a estratégia do investimento em Defesa é também para criar emprego, formar recursos humanos e trazer autonomia e menos dependência externa a esta indústria.

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