Foi uma das sensações da noite eleitoral de 12 de outubro. Isabel Ferreira conquistou a Câmara Municipal de Bragança para o PS, o que não acontecia há 28 anos, com uma votação de pouco mais de 50%. É também a primeira mulher a ocupar o cargo no concelho e, ao DN, afirma como o eleitorado olhou além do género e do conservadorismo, preferindo a experiência de quem foi Secretária de Estado. Apela a um desenvolvimento conjunto com o Norte e até em projetos transfronteiriços. E reivindica a ferrovia prometida e posta no papel pelo PS.Diz-se que o interior de Portugal é mais conservador. Como se explica a vitória do PS 28 anos depois e com uma mulher?Estou orgulhosa por ser a primeira mulher presidente da Câmara de Bragança. Também fui a primeira mulher a ser vice-presidente do Instituto Politécnico de Bragança e a primeira a ser cabeça de lista a deputada no distrito. Os eleitores queriam esta mudança e foi uma campanha com uma preparação de vários meses, de proximidade nas 39 freguesias, a maioria delas rurais. Falei com os empresários, com as associações todas. Houve uma grande lição do eleitorado no sentido do esclarecimento, a ponto de votarem de forma diferente para a Câmara e para as juntas de freguesia. O PSD tinha 100% das freguesias, mas desde cedo percebi que o eleitorado sabia o que estava em causa. E isso é a maior prova de que, acima de qualquer preconceito ou conservadorismo, estão pessoas esclarecidas que apostam na competência. Não sinto que tenha pesado o facto de ser mulher.Foi Secretária de Estado do Desenvolvimento Regional entre 2022 e 2024. Esse mediatismo foi decisivo para vencer?Sem dúvida. Bragança tem perdido centralidade na região Norte e no país. E é sempre importante ter pessoas que se façam ouvir do ponto de vista político e técnico. Num tempo em que a disponibilidade de fundos europeus foi maior do que o habitual, é importante que as câmaras municipais respondam a isso de forma proativa e consigam captar muitos fundos europeus e executá-los. Quero captar o máximo de financiamento possível no que está atribuído à Câmara Municipal, empresas e Politécnico e entrar em concursos competitivos.Disse ter de ser criativa com algumas candidaturas a fundos. Em que temáticas pode usufruir desses investimentos? Bruxelas abre concursos em várias áreas, como na mobilidade sustentável, nos territórios inteligentes. Também existem projetos de transferências em que podemos colaborar com Espanha. Estarei sempre atenta, a minha intenção é criar um gabinete na Câmara dedicado aos fundos europeus.Há negociação direta com Espanha para atrair empresas? Foi interessante ver o interesse da comunicação social espanhola, que lembrou a minha responsabilidade, enquanto Secretária de Estado, na cooperação transfronteiriça. Interajo com a administração central portuguesa nesse sentido, de forma a posicionar Bragança também como um destino para este investimento.Habitualmente, os candidatos do PS nestas Autárquicas falaram de opções públicas e habitação. A Isabel focou-se no crescimento económico.O investimento privado é essencial porque temos o desafio demográfico e só conseguimos fixar pessoas se tivermos emprego. A habitação aqui não é um problema tão significativo, embora tenhamos de apoiar o arrendamento mais acessível para jovens e classe média e ir além da habitação social. Temos o plano de revitalizar o centro histórico e reabilitar casas devolutas.Para onde dirigirá os cerca de 60 milhões de euros anuais? Mencionei a habitação e a revitalização do centro histórico, mas temos de dar apoio aos investidores e empreendedorismo, fazer intervenções nos espaços verdes, no rio Fervença e temos muito trabalho a fazer quanto ao saneamento básico: nem todas as freguesias rurais o têm.Preside o concelho, mas, estando no Interior, será fundamental pensar em todo o distrito? Claro, quero esbater a diferença entre urbano e rural. Vivo numa aldeia, queremos mantê-las, mas é preciso ter um modelo de transporte adaptado à realidade. Não precisamos de um autocarro com 50 lugares, mas que vá às freguesias, que seja a pedido. Somos membros da comunidade intermunicipal. Temos de ser escala para nos posicionarmos no desenvolvimento regional e serei interventiva nos projetos globais. Já lidei com autarcas de Norte a Sul do país e nunca perguntei de que partido eram. Quero é concretizar projetos.Há planos ferroviários para tornar Bragança mais competitiva? Temos de pugnar para que se cumpra o Plano Ferroviário Nacional, onde está inscrita a obrigação ferroviária até Bragança. Há um estudo a decorrer quanto a uma ligação transeuropeia para o TGV. Já está prevista essa ligação entre Porto, Bragança e Zamora [Espanha]. Contarão sempre com a minha reivindicação para estes projetos. Foi o facto de termos perdido o comboio que nos isolou muito. Pesou muito.Há fundos para se reconstruírem linhas até Bragança? É um investimento que não depende da Câmara Municipal. Espero que o Governo honre o que já foi aprovado. Esta ligação até ao Porto e Zamora seria extraordinária. Também temos uma linha aérea, Bragança-Lisboa, que é considerada de utilidade pública. Serve na coesão territorial e é preciso ter financiamento do Estado.Sente que terá condições totais para governar? Sim, tivemos quatro vereadores, o PSD tem três, portanto temos todas as condições. ."Bruxelas abre concursos em várias áreas, como na mobilidade sustentável, nos territórios inteligentes. Também existem projetos de transferências em que podemos colaborar com Espanha. Estarei sempre atenta, a minha intenção é criar um gabinete na Câmara dedicado aos fundos europeus"Isabel Ferreira, presidente da Câmara Municipal de Bragança.Nuno Palma Ferro mudou política em Beja: “Fomos sempre muito objetivos e os bejenses reconheceram isso” .PS ganha cinco distritos a solo e experiência na República vale Bragança e Coimbra